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Van der Wood

O meu pai e a Elaine saíram de casa por volta das sete da tarde para jantar fora. De acordo com eles, seria um jantar entre amigos, com os Hill. O jantar deles era o pretexto perfeito para finalmente por o meu plano em prática. Passei todo o fim-de-semana a pensar na melhor forma de conseguir um momento a sós com a Anna e aquele era esse momento.

Era segunda-feira, a Anna tinha acabado de chegar a casa. Ela não estava a par da minha presença na mansão, nem sequer notou que eu dispensei todos os empregados, garantindo que só restávamos ela e eu na casa. Quando chegou, chamou pela Elaine duas vezes, o que me deu a entender que também não fazia ideia de que os nossos pais, tinham saído para jantar fora. Ela subiu para o quarto, alheia à minha presença, e não voltou a sair. Esperei pouco mais de meia hora e então decidi por o meu plano em prática.

Antes de dispensar os empregados, pedi que a governanta, Loraine, decorasse a sala com velas de todos os tamanhos e tipos. Por isso, quando chegou o momento certo, acendi todas as velas que ela tinha disposto ao longo da divisão e com a sala devidamente preparada, dirigi-me ao quadro elétrico da casa e desliguei as luzes da mansão.

Voltei para a sala, e aguardei o momento em que a Anna surgisse. Em pouco menos de dois minutos, vi-a aparecer na sala, usando apenas um robe de banho. O seu cabelo molhado indicava um banho interrompido pela falha geral da energia. A sua expressão, inicialmente confusa, rapidamente transformou-se em surpresa ao notar a cena que preparei.

- Que palhaçada é esta? – perguntou num misto de incredulidade e ...raiva?

Que gaja complicada, foda-se.

- Uma maneira criativa de iluminar a sala. - respondi com um sorriso cínico, ignorando a raiva que se acumulava nos olhos dela.

A Anna lançou-me um olhar cortante, mas algo na sua expressão indicava que, por mais irritada que estivesse, estava também intrigada.

- O que estás a fazer aqui? - questionou, franzindo o cenho.

- Eu moro aqui, caso não te lembres. – falei, aproximando-me um pouco.

Ela revirou os olhos, uma resposta que eu já esperava, mas a expressão dela revelou algo mais profundo. Havia uma tensão subjacente, uma faísca de algo que ela preferiria não admitir.

- Então, o que aconteceu com a eletricidade? - perguntou, mudando ligeiramente o foco.

- Apenas um pequeno truque para chamar a tua atenção. Estava a começar a sentir a tua falta - comentei, apreciando a reação dela.

A Anna bufou, desviando o olhar, mas eu podia perceber as suas defesas a enfraquecer. A minha presença parecia afetá-la mais do que queria admitir.

- Não tenho tempo para joguinhos estúpidos, Leonardo. Estava a tomar banho e tu decides mandar a luz a baixo? És idiota? – a irritação transbordava pelos seus olhos escuros – Liga a porcaria da luz, já.

Ela começou a virar-se, mas antes que pudesse dar um passo, avancei, bloqueando o caminho dela.

- Não tão rápido. Não achas que precisamos esclarecer algumas coisas, Anna? - provoquei, olhando diretamente nos olhos dela.

Ela bufou novamente, mas, por um breve momento, hesitou. O jogo estava apenas a começar, e eu estava determinado a jogar até ao fim.

Cruzei os braços, mantendo-me firme no meu lugar.

- Esclarecer o quê, Leonardo? Já te disse que não tenho paciência para os teus jogos infantis. - respondeu, tentando desviar o olhar.

- Oh, não vejas como um jogo, pensa nisto como uma oportunidade de nos reaproximarmos da melhor forma. Consigo sentir a tensão entre nós, Anna. Não achas que está na hora de falarmos disso?

Ela revirou os olhos novamente, mas a hesitação persistia.

- Não há tensão nenhuma, apenas estou cansada e não preciso das tuas provocações. Podes sair do meu caminho?

Sorri, satisfeito por perceber que a minha presença a desconcertava.

- Não acredito nisso. Se fosse só cansaço, não terias esse olhar de quem acabou de ser apanhada numa situação comprometedora.

Ela cerrou os punhos, visivelmente incomodada.

- Não tens nada a ver com a minha vida. A tua presença aqui não muda nada.

- Acho que muda, Anna. Podes tentar afastar-me, mas sabes que, no fundo, há algo entre nós. Algo que não conseguimos ignorar.

Ela soltou uma risada forçada, como se estivesse a tentar desvalorizar a situação.

- Desculpa, mas estas a imaginar coisas Leonardo. Não há nada entre nós. Nunca vai haver.

Continuei a sorrir, decidido a não parar por aqui.

- Vamos ver, Anna. Aposto que, mais cedo ou mais tarde, vais admitir que também sentes a atração. – encostei os meus lábios ao seu ouvindo, deixando-me inebriar pelo cheiro a gel de banho abaunilhado - E quando esse momento chegar, eu vou estar aqui pronto para que cedas, tal como eu sei que vais acabar por ceder.

Afastei-me, abrindo caminho para ela passar. A Anna lançou-me um olhar furioso e subiu as escadas sem dizer mais nada. O jogo estava longe de terminar, e eu estava confiante de que, no final, ela ia acabar de quatro para mim.

Enquanto as luzes da mansão voltavam a iluminar cada uma das suas divisões, apaguei rapidamente as velas, desfazendo o cenário. Saí de casa com destino ao Under, onde o Liam me aguardava.

Ao chegar à discoteca, o som pulsante da música e a energia do local envolveram-me. O Liam acenou-me do bar, e juntei-me a ele. Pedi um whiskey cola e acendi um cigarro, enquanto ele falava-me sobre o seu fim de semana.

Durante toda a noite, não conseguia me desligar da imagem da Anna de robe e cabelo molhado. Cada canto da minha memória, recordava-me dos seus traços, e por mais que tentasse afastar esses pensamentos, eles persistiam. O Under, geralmente era um lugar onde me esquecia da vida que levava fora daquela discoteca, mas desta vez não. Cada riso, cada movimento, fazia-me lembrar os seus lábios carnudos e a vontade que eu sentia de os beijar.

A música alta e as luzes pulsantes transformaram-se apenas num pano de fundo para mim.

Encostado ao balcão, eu não conseguia tirar a Anna da minha cabeça. 

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