20

8 3 0
                                    

Van der Wood

Ao chegar à festa fui automaticamente apanhado de surpresa pela presença da Anna, acompanhada por um homem. Na minha cabeça estava claro que aquela era uma tentativa dela de me atingir. A mão dele na sua cintura era como um recado de que ela tinha opções para além de mim e não consegui evitar uma sensação de desconforto a percorrer-me.

Não deveria importar-me com as escolhas dela. No entanto, enquanto me aproximava, a música suave e o ambiente festivo não eram suficientes para afugentar a sensação estranha que crescia dentro de mim.

A Anna percebeu a minha presença, e os nossos olhares encontraram-se. Por um breve momento, o tempo pareceu abrandar. Os seus olhos, normalmente tão expressivos, agora exibiam uma mistura de surpresa e ... qualquer outra coisa que não conseguia entender, mas a minha presença tinha causado uma espécie de tensão nela. Ela estava com um vestido preto, justo, que lhe marcava toda a silhueta. Só de a ver, mil e uma posições sexuais surgiam na minha cabeça.

O homem ao lado dela olhou na minha direção. Ele era bonito, mas estava longe de ser uma ameaça. Tinha mais de trinta anos, isso era evidente. Um detalhe que me fez questionar se ela talvez fosse o tipo de mulher que preferia homens mais velhos...

Fui ao encontro deles para os cumprimentar, mas os meus olhos não descolavam da Anna. A maneira como ela tentava disfarçar a tensão entre nós, não passou despercebida. Havia algo diferente na forma como me estava a abordar, algo que eu não estava a conseguir identificar ainda. Podia ter aproveitado a oportunidade para brincar um pouco com ela, mas aquele não era o momento nem o local certo, então fui procurar o meu pai e a Elaine para o cumprimentar e mostrar-lhe que sempre tinha acabado por aparecer e assim que tive a a oportunidade, afastei-me e dirigi-me para a zona do bar. Peguei num copo de champanhe e bebi-o em um só gole. Tinha de ignorar esta sensação de desconforto.

O que raio se estava a passar comigo? Eu estava a borrifar-me para as escolhas dela, não estava? Então porque é que eu não conseguia simplesmente ignorar aquilo?

Mantive-me por ali algum tempo, a tentar afogar aquela estranha sensação de incómodo com o champanhe gelado. O som das conversas e o riso abafado ao meu redor não eram suficientes para desviar a imagem da mão daquele idiota pousada na cintura da Anna.

Eu não sabia quem ele era, e, para ser sincero, não me interessava sequer. Afinal, ela não era minha propriedade. No entanto, eu continuava a sentir algo que não conseguia identificar. Era como se uma faísca de ciúmes tivesse sido acesa dentro de mim, e isso irritava-me profundamente, mais do que eu próprio gostaria de admitir.

Fui para um dos terraços do museu para fumar. Acendi um cigarro, na tentativa de dissipar a sensação que se acumulava dentro de mim. O fumo ondulante misturava-se com a brisa da noite, criando uma espécie de dança no ar. No entanto, nem mesmo o hábito de fumar estava a conseguir acalmar os pensamentos que insistiam em ocupar espaço na minha cabeça.

Enquanto contemplava o horizonte, deixei escapar alguns palavrões entre dentes, como se alguém estivesse ali na minha frente.

Que diabo estava a acontecer comigo? Eu não era o tipo de pessoa que se importava com relações ou com quem a Anna escolhia para a acompanhar numa festa.

Com um suspiro profundo, esmaguei o cigarro contra a beirada da parede de pedra do edifício.

Regressei há festa com um semblante mais relaxado. Apanhar ar não tinha sido má ideia de todo. Talvez um pouco de distração e ação me ajudassem ainda mais a esquecer estes pensamentos ridículos. Só precisava de escolher a distração certa.

Avistei uma loira, atraente demais para não ser notada, e, com um sorriso malicioso, aproximei-me dela determinado a, pelo menos temporariamente, esquecer os estragos que a presença da Anna tinha gerado em mim. Rapidamente, conduzi-a para uma espécie de biblioteca, numa zona mais discreta.

TouchWhere stories live. Discover now