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Van der Wood

Aquela sensação de estranheza que pairava no ar era um lembrete constante das minhas aventuras na noite anterior. Eu sabia que tinha cometido um erro, quando me descuidei e deixei-me ser flagrado pela Anna. Agora, restava-me ser mais cauteloso, para que ela não desse com a língua nos dentes, ainda que, ao que tudo indicava, ela não parecia se importar com aquilo que eu fazia, ou deixava de fazer.

Após de tomar um duche rápido e mudar de roupa, estava pronto para levar a Anna até à University of London. Olhei-me ao espelho e tentei parecer mais relaxado do que realmente estava. A noite não tinha corrido como planeei. Esperava ter conseguido fechar negócio com o James, porém, as coisas acabaram por correr bastante mal. Acabámos por nos desentender ao ponto de andarmos à porrada ainda dentro do Under. A verdade é que todo o meu corpo doía. Debaixo daquela t'shirt preta, estavam umas quantas nodoas negras que me apanhavam as costelas e parte das costas.

Desci as escadas, já com o capacete na mão, e encontrei a Anna no fundo dos degraus. Olhou-me de cima a baixo e resmungou quando percebeu que íamos de mota.

- Estás com medo da mota ou de mim? – perguntei.

- Não se trata de estar com medo de ti, é apenas... não estava à espera de uma mota, e não tenho experiência nenhuma com isso.

Tentei manter um tom leve, mesmo sabendo que a situação era um tanto inusitada:

- Calma Anninha, não é como se estivéssemos a falar de sexo!

A expressão no rosto dela era digna de ser fotografada, e eu não pude evitar um sorriso divertido. Era claro que a nossa relação estava a começar de forma pouco usual, mas também só nos conhecemos ontem.

- Bem, a não ser que a condução de uma mota seja um fetiche sexual teu, acho que estás a exagerar. – acrescentei.

Ela claramente não sabia o que dizer, e de repente parecia estar à beira de rir, mas conteve-se. Dei por mim a fazer o mesmo e do nada, percebi que estava a gostar desta interação descontraída. Talvez houvesse esperança para uma relação amistosa.

Enquanto a Anna aproximava-se da mota, entreguei-lhe um capacete e expliquei-lhe como o colocar corretamente. Ela aceitou-o com relutância, mas não resmungou.

Subimos na mota e dei partida. A sensação do vento a bater-me na cara e o rugido do motor eram familiares para mim, mas para a Anna, era uma experiência completamente nova, e isso notava-se. Enquanto nos afastávamos da mansão e rumávamos para a University of London, podia sentir a tensão ressurgir. Senti o seu corpo enrijecer-se. Ela evitava a todo o custo segurar-se em mim, mas o trânsito da cidade e as estradas maltratadas, impediam-na de se soltar do meu torço. Por duas vezes, senti uma dor aguda, quando ela me envolveu com um pouco de mais firmeza, mas não o demonstrei. O melhor era evitar qualquer pergunta.

Conforme avançávamos pelas ruas movimentadas de Londres, a tensão entre nós parecia diminuir novamente. A Anna começou a relaxar o corpo e encontrou maior equilíbrio na mota. O vento e o rugido do motor pareciam finalmente tê-la conquistado.

Enquanto dirigia, aproveitei a oportunidade para puxar conversa:

- Impressão minha ou estás a gostar do passeio?

Ela pareceu hesitar por um momento, mas depois respondeu: - Não exatamente...

Ri. Era evidente que ela estava a mentir.

À medida que nos aproximávamos do nosso destino, o meu pensamento voltou para a discussão com o James na noite anterior. Eu precisava de resolver essa situação de alguma forma, urgentemente.

TouchWhere stories live. Discover now