1 (continuação)

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 Imaginem viver dentro do cenário de Gossip Girl! Era exatamente assim que me sentia ao descer as escadas para o primeiro andar da mansão dos Van der Wood. Só faltava alguém gritar, "LUZES, CÂMARA, AÇÃO!"

Agora sim, eu sentia-me genuinamente uma outsider naquele ambiente exuberante. Para onde quer que olhasse, pensava: "Acabei de ver a mulher mais bonita de sempre." Não havia como não me sentir intimidada no meio de todas aquelas pessoas lindas e importantes. E pior ainda, pessoas que estavam curiosas para conhecer a "nova filha" do juiz Michael Van der Wood.

Inspirei fundo antes de abandonar o último degrau que me separava do primeiro andar e passei as mãos nervosamente pelo vestido acetinado preto que a minha mãe tinha deixado no meu quarto. Devo admitir que me sentia extremamente elegante. O vestido era comprido e sem padrões. A sua beleza estava concentrada nas costas completamente abertas. Tão abertas que sequer podia usar roupa interior sem que se visse. O meu cabelo castanho e ondulado estava solto, descaído sobre um dos ombros, chamando ainda mais a atenção para as minhas costas, repletas de pequenas tatuagens ou, como a minha mãe gostava de as chamar, carimbos. Olhei em volta à procura da única cara familiar, mas não encontrava a minha mãe em lado nenhum.

- Perdida? – perguntou o meu padrasto.

- É assim tão obvio? – sorri um pouco envergonhada por admitir.

O Michael estendeu-me a sua mão, para que o acompanhasse. Aceitei-a, um pouco relutante.

– Vou-te levar à tua mãe para que possas ser apresentada por ela aos nossos amigos– senti um alívio de imediato - Acredito que assim seja menos chato para ti!

Agradeci sentindo-me como uma criança perdida num supermercado. Uma criança de 25 anos.

A minha mãe estava deslumbrante. Usava um vestido comprido, em tom de azul-marinho e o cabelo estava preso num coque em trança. Era a primeira vez que a via assim linda e radiante. O seu sorriso contagiava qualquer um com quem ela falasse e nem eu mesma consegui me deter em sorrir, quando me aproximei.

- Minha Anna! – exclamou um pouco alto demais, atraindo olhares curiosos para mim – Filha, esse vestido fica-te soberbo.

- Obrigada, mãe. – dei um sorriso de evidente desconforto – Tu também estás linda.

- Christy, Jonnas, esta é a minha filha!

Sorri para uma mulher de estatura média, cabelos loiros e curtos e vestido vermelho escarlate. O homem, que assumi ser o seu marido, tinha o cabelo grisalho, óculos e um bigode engraçado, ele também não era muito alto e usava um smoking preto com um lenço vermelho no bolso, a condizer com o vestido da presumida esposa.

- Anna! Ouvi falar maravilhas de ti, minha querida. – a mulher sorria exibindo os dentes mais brancos que alguma vez vira.

- Vindo da minha mãe não me surpreende de todo. Ela nunca foi poupada de elogios.

- É a minha única filha, que mais podem esperar de mim?

- O nosso Liam também é filho único, Elaine! – exclamou a Christy - E nem assim o gabo um terço, daquilo que gabas a Anna.

- Não há muito que elogiar nele, verdade seja dita! – comentou o Jonnas antes de levar um olhar de reprovação da sua esposa – É verdade Christy, o Liam pode ser meu filho, mas isso não faz dele perfeito, muito menos um exemplo a seguir.

Senti uma nuvem de tensão instalar-se ali, mas felizmente, não durou muito. A minha mãe encontrou uma forma de desviar o assunto, fazendo com que o casal começasse a contar-me toda a sua história de vida, desde o momento em que se conheceram e apaixonaram, até à construção do seu império imobiliário. Eles eram os proprietários de uma das maiores empresas imobiliárias do país, a Hill's House, e pelo que entendi, eram amigos da família Van der Wood há vários anos.

Depois do meu terceiro copo de champanhe e de pelo menos mais vinte caras novas, percebi que precisava de me refugiar por uns instantes. Primeiro porque o jantar ainda não tinha sido servido e o álcool já me estava a afetar, e segundo, precisava urgentemente de usar a casa de banho.

Enveredei por um corredor, que achava ser o certo, e percorri-o até ao fundo, apenas para verificar que muito provavelmente estava na ala errada da mansão. - Como é que não consigo encontrar uma casa-de-banho numa casa tão grande? – reclamei baixo. Suspirei em aflição, a minha bexiga estava a contorcer-se dentro de mim, e a cada passo que dava, sentia as suas súplicas.

Até que finalmente encontrei! Corri a distância que me separava da porta entreaberta da casa-de-banho, mas fui detida pelo que os meus olhos testemunharam. O meu coração acelerou quando vi um homem alto, de cabelos ondulados e pretos, numa situação íntima com uma mulher que parecia ser uma das camareiras. As suas bocas beijavam-se com voracidade. As mãos dele exploravam o corpo da mulher, cravando os seus dedos na pele dela. Eu estava completamente chocada, mas não consegui mover-me dali, até ela notar a minha presença e chamar o homem à atenção, para que parasse.

Fechei a porta imediatamente. Fiquei tão nervosa que só e conseguia pensar em fugir dali rápido. Disparei a correr para fora do corredor, quase tropeçando nos meus saltos altos, como se tivesse sido testemunha de algum homicídio.

A angústia impelia-me, mas não me permiti olhar para trás para verificar se alguém me seguia. A minha única missão era encontrar a minha mãe, que felizmente, foi rapidamente avistada. Ela se preparava para sentar numa das várias mesas que se estendiam pelo salão. O desejo de sair dali, para longe daquela situação perturbadora, era o único pensamento na minha mente.

- Anna, estás bem?

- Sim, porquê? – sentei-me sem nem sequer confirmar se aquele era mesmo o meu lugar.

- Pareces assustada. – comentou – Acredito que seja um pouco demais para ti. Muitas caras em tão pouco tempo.

Torci o rosto numa careta tonta, mas acho que a minha mãe não estranhou. À minha frente tinha uma placa que dizia Anna Carter, sorri aliviada porque estava sentada no lugar certo.

- Leo! – a minha mãe exclamou – Anda conhecer a Anna!

Olhei para a minha mãe que se colocava de pé para recebê-lo de braços abertos e pus-me de pé também.

Se os meus olhos não me denunciaram, então foi o meu queixo, que quase bateu no chão, quando vi que aquele era o mesmo homem que se estava a enrolar com a empregada na casa-de-banho.

Ele abraçou a minha mãe, cobrindo-a por completo, de tão alto que era.

- Anna, este é o Leonardo, o filho do Michael.

Os seus olhos verde-esmeralda, cruzaram-se com os meus e a sensação de reconhecimento deu-me a certeza de que ele me tinha visto quando fugi.

- Muito prazer, Anna. – pegou na minha mão para beijá-la - Estava ansioso por te poder conhecer pessoalmente.

Eu não falei nada. Aliás, acho que naquele momento eu não era capaz de dizer fosse o que fosse. Assenti com uma idiota e tentei produzir algo parecido com um, 'o prazer é todo meu', mas soou mais como um grunhido estranho.

- Senta-te Leo, vais ficar na nossa mesa ao lado da Anna. – congelei de imediato - Vou chamar o teu pai, senão por este andar, só começamos a jantar amanhã.

Vi a minha mãe abandonar a mesa, deixando-me sozinha com o meu novo meio-irmão que ao contrário de mim, parecia estar inabalavelmente calmo.

Ajeitei o meu vestido evitando criar contacto visual, mas então uma mão pousou sobre a minha e vi-me obrigada a encarar aqueles olhos verdes que me desconcertaram.

- Posso te chamar de Anninha ou preferes Anna? – o seu sorriso revelava o quanto ele se estava a divertir com tudo isto.

Limpei a garganta antes de falar – Anna parece-me mais apropriado. – respondi, tirando a minha mão debaixo da dele.

- Pena. – disse, olhando para a minha mão que se escondia debaixo da mesa – Anninha soa mais íntimo.

Senti o meu rosto ferver de embaraço. Eu não sabia se era o álcool ou se era a sua presença, talvez fosse uma mistura de tudo, mas eu sentia-me completamente exposta. 

TouchWhere stories live. Discover now