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Carter

A luz ténue da manhã espreitava pelas cortinas quando eu saí de casa, decidida a chegar cedo à universidade. A atmosfera em casa tornou-se sufocante. Eu não consegui dormir toda a noite consciente de que estava a 20 metros de distância do motivo das minhas insónias.

O caminho até à universidade proporcionou-me um momento de tranquilidade. Decidi caminhar e aproveitar o ar fresco da manhã que me ajudava a acalmar os pensamentos tumultuosos que insistiam em invadir a minha mente. Sentia-me decidida a focar-me nas minhas responsabilidades como professora e manter-me afastada de tudo aquilo que envolvia o meu meio-irmão.

Ao chegar à universidade, fui logo para o meu gabinete. Queria antecipar-me à confusão habitual e concentrar-me nas minhas aulas. Preparar material, rever apontamentos, tudo numa tentativa de manter uma rotina de sanidade, ou caso contrário, teria de começar a fazer algum tipo de terapia.

A primeira aula correu bem, os alunos foram participativos e pareciam interessados, no entanto, entre um tópico e outro, a imagem do Leonardo invadia a minha mente, criando uma distração insistente, que eu lutava para ignorar. Era como se ele estivesse presente na sala de aula e eu tentava com todas as minhas forças para tentar ignorar essa presença indesejada e manter o foco no meu trabalho.

No intervalo entre as aulas, decidi refugiar-me na biblioteca. Precisava urgentemente de passar algum tempo sozinha e a tranquilidade da biblioteca era o refúgio necessário. Sentada numa mesa isolada, mergulhei nos preparativos das próximas aulas, tentando lutar contra as memórias da noite anterior, que insistiam em reemergir.

O meu telemóvel tocou, interrompendo a minha tentativa de concentração. Era a minha mãe a avisar que tínhamos uma festa de beneficência para comparecer esta noite e que gostaria que eu também fosse, porque de acordo com ela, aquele seria o primeiro evento em família desde a minha chegada a Londres.

Aceitei, sem grande vontade. A minha mãe perguntou-me se queria levar companhia, e imediatamente pensei no Daniel. Seria uma ótima forma de mostrar ao Leonardo que eu estava interessada em alguém e que não me tinha conseguido afetar com os jogos emocionais dele. Decidi aceitar o convite da minha mãe e logo de seguida fui procurar o meu colega de gabinete para poder convidá-lo.

Entrei no gabinete e encontrei-o. Estava de pé, encostado à janela, extremamente atraente (como sempre). Usava os óculos na ponta do nariz e o cabelo elegantemente penteado. Parecia estar compenetrado no livro que segurava em uma das suas mãos, enquanto a outra pousava casualmente no bolso das suas calças.

- Daniel, posso falar contigo um momento? – perguntei. O seu olhar revelou a surpresa que a minha presença lhe causou, mas o seu sorriso assegurou-me de que estava contente por eu ter aparecido.

- Claro, Anna. O que se passa? – ele tirou os óculos, mostrando-se interessado em ouvir-me e isso encorajou-me a fazer-lhe a pergunta que me trouxe até ali.

- A minha mãe convidou-me para uma festa de beneficência esta noite, e ela sugeriu que eu levasse companhia e eu pensei em convidar-te. – os seus olhos escuros observavam-me com atenção, como se me incentivasse a continuar a falar – Não tens de aceitar...

- Uma festa de beneficência? – as suas sobrancelhas arquearam - Parece interessante. Mas claro, adoraria ser o teu acompanhante. – senti uma pitada de sedução na forma como ele pronunciou, 'teu acompanhante' - Onde é que vai ser?

- Eu ainda não sei. – sorri, tímida. Como é que não me lembrei de perguntar isto à minha mãe?

- Eu envio-te a morada assim que souber, pode ser?

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