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Van der Wood

Naquela semana, mergulhei num caos autoimposto. Após a discussão na festa com a Anna, algo dentro de mim desencadeou um turbilhão de emoções e pensamentos confusos. Precisava desesperadamente de me afastar tudo, incluindo dela.

Refugiei-me no apartamento do Liam, onde as garrafas de álcool tornaram-se minhas confidentes. As noites em branco foram preenchidas por bebida, música alta e a presença de miúdas cujos nomes mal me recordava na manhã seguinte.

As paredes do apartamento testemunharam os meus excessos enquanto eu tentava apagar da memória os eventos dos últimos tempos, mas ela persistia. Cada gole era um esforço para esquecer a vontade que sentia de bater em alguém A princípio, pensei que estava a perder a cabeça. As noites mal dormidas transformaram-se numa rotina, e a constatação de que não conseguia afastar a Anna dos meus pensamentos tornou-se perturbadora. Cheguei à conclusão de que o motivo para tal, era de facto bastante simples: a impossibilidade de tê-la.

Ela era a enteada do meu pai e minha irmã por afinidade.

Em teoria, não era nenhum crime, mas na prática, sob o olhar do meu pai, seria como se estivesse a cometer algum crime. A minha necessidade de desafiar as expectativas dele e ir contra tudo aquilo que ele esperava de mim era sempre mais forte. Contudo, o desinteresse da Anna também instigava-me a querê-la mais ainda. Sentia urgência em resolver essa situação para poder seguir em frente. Quanto mais depressa a comesse, mais depressa deixava-me destes pensamentos de merda.

Durante grande parte da semana, o ambiente do Under também tornou-se um palco das minhas frustrações. Envolvi-me em lutas, desafiei qualquer um que ousasse enfrentar-me. No calor da batalha, talvez esperasse encontrar alguma libertação, mas apenas encontrei exaustão física. Numa dessas noites caóticas, a linha ténue entre a consciência e o vazio desapareceu. Perdi os sentidos e de alguma forma, o Liam encontrou-me e trouxe-me de novo para casa.

Eu sabia que o silêncio da semana não era apenas uma ausência física; era um grito desesperado para evitar confrontar a realidade. Evitei pensar na Anna, no James e em tudo aquilo que de alguma forma me deixava fora de mim mesmo.

No entanto, aquela semana de caos trouxe-me uma clareza dolorosa e era a hora de enfrentar o que evitava, os sentimentos confusos e as consequências das minhas escolhas. O vazio das noites deixou-me ciente de que fingir que nada se passava não era solução, e a realidade esperava-me.

Ao chegar a casa na sexta-feira, deparei-me com o olhar severo do meu pai. A expressão dele, marcada pela deceção e preocupação, era evidente. Já se passava quase uma semana desde a última vez que tinha aparecido em casa, e eu sabia que a receção não ia ser das mais calorosas.

- Leonardo, precisamos conversar. - a voz do meu pai era firme e carregada de frustração.

Estava prestes a enfrentar as consequências da minha ausência. A atmosfera carregada deixava claro que as próximas palavras não seriam amenas, mas a minha falta de vontade em dar qualquer explicação venceu toda a pouca paciência que tentei reservar para aquele momento.

Virei costas e deixei-o a falar sozinho, algo que por experiência prévia, sabia que odiava, mas eu não me poderia importar menos. Subi os degraus dois a dois e encontrei a Anna no primeiro andar.

A minha primeira reação foi de espanto. Não pude evitar sentir-me inebriado pela sua presença. A forma como usava apenas uma camisa semi abotoada, revelando um vislumbre da pele morena, e o cabelo desalinhado acrescentavam uma aura de tentação. A vontade de a beijar deixou-me louco, de uma maneira que eu não esperava. Será que eu ainda estava chapado?

A tensão era palpável, e por um instante, o tempo pareceu congelar enquanto lutava para resistir à vontade avassaladora de me deixar levar pelo impulso de a encostar contra a parede e arrancar-lhe aquela camisa.

Ela murmurou um 'Oi' cheio de indiferença, e eu retorqui, dando um toque de sarcasmo. Os seus olhos pareceram vacilar, como se subitamente estivesse ansiosa. Procurei algo no olhar dela, uma espécie de aprovação para me aproximar, mas ela continuou um diálogo sem qualquer interesse. Talvez fosse melhor ter mais calma e esperar por um momento mais adequado onde a encontrasse sozinha.

Fui para o meu quarto, deixando-a com uma expressão de quem tinha várias perguntas para me fazer. 

TouchWhere stories live. Discover now