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Van der Wood

Estava à porta de casa a fumar um cigarro, mais por hábito do que por necessidade. Era algo que não conseguia evitar, às vezes achava que só o fazia mesmo porque sim. O fumo ondulava no ar noturno quando reparei que o carro do Liam estava a aproximar-se e algo na sua expressão indicava que algo estava errado.

O motor desligou-se, e o Liam saiu do carro, dirigindo-se rapidamente até ao primeiro lanço de escadas que nos separavam. A confusão instalou-se no meu rosto, e antes que eu pudesse fazer uma pergunta, o Liam falou.

- Leo, precisamos de conversar. Há algo que tu precisas de saber.

Pisei o cigarro no chão, olhando fixamente para o Liam Não era costume dele aparecer assim a meio da noite sem avisar e isso deixou-me automaticamente alerta.

- O que é se passa?

Os seus olhos estavam sérios, mas nem com todos os indícios alarmantes, eu estava preparado para aquilo que ele disse. As suas palavras atingiram-me como um soco no estômago. Um nó apertou-se na minha garganta, enquanto eu tentava processar a gravidade da situação.

- Um dos nossos, Leo, um puto de dezanove anos, foi morto pelos capangas do James.

Sentimentos de raiva e incredulidade misturaram-se, formando uma tempestade dentro de mim. Aquele não era apenas mais um problema típico de gangs; era algo pessoal, algo que exigiria uma resposta.

- Como é que isso aconteceu? - perguntei, lutando para manter a calma.

O Liam suspirou, passando a mão pelo cabelo.

- Eles apanharam-no quando ele estava a sair do Under. Foi uma mensagem clara, Leo. O James não está mais para brincadeiras e está claro que ele levou o nosso deslise bem mais a sério do que imaginámos.

- Um miúdo, Liam? - a sensação de impotência impedia-me de pensar direito - Puta que pariu!

- Eu sei mano...

O meu punho cerrou-se involuntariamente. O James tinha ultrapassado a linha, trazendo a violência diretamente para o nosso território. Sabia que isso iria desencadear uma série de eventos que estavam fora do meu controlo.

- Isto não pode ficar assim.

O Liam assentiu, partilhando a mesma determinação.

- Eu sei. Não podemos deixar que isto continue.

O peso da situação pairava no ar enquanto o Liam e eu trocávamos olhares sérios. A zona norte de Londres estaria a partir de agora interdita a qualquer membro do nosso grupo. Isso era mais do que certo. Eu sabia que a violência trazia consigo uma espiral de consequências, e o jogo entre os nossos gangues tinha acabado de se tornar letal.

- Temos que agir com inteligência, Leo. Não podemos deixar que a vingança nos faça agir de cabeça quente. – afirmou o Liam - Não queres fazer nada que te possas arrepender.

A raiva fervia dentro de mim, mas compreendia a importância de agir estrategicamente. Não podíamos permitir que a situação se transformasse numa guerra total. Especialmente quando tantos dependiam de nós.

- Vamos fazer uma reunião com o pessoal. Precisamos de discutir a melhor forma de lidar com isto. Não podemos permitir que o James pense que pode controlar as nossas ruas à vontade.

O Liam concordou, e ambos nos dirigimos para o jardim da mansão, onde podíamos discutir longe dos ouvidos curiosos.

Ainda que não soubesse o que fazer, tinha noção de que a próxima fase estava prestes a começar, e eu estava determinado a mostrar ao James que as consequências dos seus atos recairiam sobre ele.

- Aquele filho da puta escolheu o caminho da violência, e não podemos permitir que ele pense que pode impor as suas regras no nosso território ou intimidar-nos - declarei, olhando diretamente nos olhos do Liam.

A nossa reputação estava em jogo e o James tinha-se aproveitado do facto de o Under ser território neutro, para poder agir de forma covarde e matar um miúdo inocente, por puro capricho.

- Precisamos mobilizar a nossa gente, mostrar-lhes que estamos dispostos a proteger o que é nosso. – falou o Liam – Queres que convoque uma reunião?

- Sim. Para amanhã à noite. Quero todos os líderes dos subgrupos presentes. Precisamos de uma frente unida. – sugeri.

O Liam concordou, e enquanto regressávamos à mansão, eu tentava a todo o custo manter um semblante calmo.

Entrando na mansão, o aroma a comida acabada de fazer pairava no ar, indicando que o jantar estava quase pronto. Quando chegámos a sala, encontramos com Elaine e o meu pai, que estavam sentados no sofá.

- Boa noite, Liam. Que surpresa agradável.

- Boa noite Juiz Van der Wood. Tudo bem consigo?

- Tudo bem rapaz!

A Elaine dirigiu-se a ele para o cumprimentar também e convidou-o para se juntar a nós para jantar.

O Liam esboçou um sorriso agradecido, mas recusou gentilmente - Infelizmente, tenho um compromisso na casa dos meus pais. Obrigado pelo convite, talvez numa próxima vez. - explicou.

Estava prestes a levá-lo à porta quando a Anna entrou na sala.

Uma corrente elétrica percorreu o meu corpo quando os olhos dela capturaram os meus, e por um breve momento, o peso da situação no jardim desvaneceu-se, como se um interruptor tivesse sido ligado e uma onda de leveza me tivesse atingido.

Tentei manter a postura, sem grande hipótese. Talvez fosse a forma como os cabelos dela se seguravam num rabo de cavalo, ou talvez fosse o facto de ela estar com a mesma camisa branca de há dias atrás. Por alguma razão a presença dela tinha acabado de fazer esquecer todos os meus problemas.

- Liam, esta é a Anna, a minha enteada. Anna, este é o Liam, um amigo próximo da família, filho dos Hill. – apresentou o meu pai, enquanto a Anna e o Liam trocavam cumprimentos cordiais.

A Anna cumprimentou o Liam com um sorriso educado.

Quando fui finalmente levar o meu melhor amigo à porta, percebi que ele tinha um sorriso travesso nos lábios.

- Leo, aqueles olhos dela... e aquelas curvas. Deves admitir que a tua irmãzinha é boa para caralho. - disse ele, provocando-me.

Eu ri, decidindo entrar na brincadeira.

- Bem, não sei do que estás a falar. A Anna é só uma rapariga como outra qualquer. Não a acho nada de especial. - respondi, com um sorriso malicioso.

O Liam deu-me uma cotovelada amigável.

- Está bem, vou fingir que não te conheço. - comentou antes de se despedir e partir.

Fechei a porta com um sorriso divertido e fui jantar. 

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