TITIO - O CONTO

Capítulo 5

Poxa, tô aqui no meio dessa floresta contra a minha vontade, só porque meu pai insistiu. Deixei de lado um fim de semana de curtição, com baladas, minas e uns drinks, pra ficar capinando o quintal dessa cabana. Só concordei porque o velho me pressionou, senão nem vinha. A grana que recebo todo mês falou mais alto.

Se eu não fosse um cara da cidade, até curtiria uns dias nesse mato. Essa "cabana" é um casarão. Imagina a festa que rolaria aqui? Ficaríamos a noite toda na cerveja, fumando e sexo.

A Polícia nem pensaria em aparecer a essa distância.

Já tava puto da vida quando fui obrigado a vir pra cá. Meus pais acabaram de assinar o divórcio, e eu nem fazia ideia que eles estavam mal. Sempre achei que fossem o casal perfeito.

E, poxa, os gemidos que eu ouvia de madrugada não eram de briga, com certeza. Tô bolado porque meus pais ficaram juntos por 20 anos, raramente discutiam. Não sei o motivo exato da separação, mas minha mãe tá uma fera com meu pai. Acho que rolou traição, só pode.

Ouvi ela dizer pra minha avó que ele tava mudado com ela, chamou o pai de safado e tudo mais. Eu nem fiz questão de perguntar, esse rolo é dos dois, eu estou fora de relacionamento é por isso mesmo.

Os meus pais casaram novos demais, na minha idade.

Meu pai sempre foi um cara saudável, cheio de saúde, másculo e vaidoso, e as minas sempre davam umas olhadas quando saíamos juntos. Minhas ex nem se fala. Mamãe era mega ciumenta, nem deixava eu levar uma garota que não fosse namorada pra casa.

Ciúmes por causa do meu pai, cara. Que bagulho complicado.

Por outro lado, nunca vi meu velho dando mole pra outra mulher. Só tinha olhos pra minha mãe.

Mas quem vê cara não vê coração. Certeza que ele andou traindo a minha mãe e ela descobriu. A tentação é muita e só de ferro para aguentar.

Enfim, ajudava o meu pai quando soube que a enteada da minha tia estaria chegando. Corri para um banho, estava cheio de terra e grama, fedia suor. Voei no chuveiro, vesti uma roupa top, passei perfume, creme no cabelo, tal e desci.

Caralho.

A menina tinha um cabelão ruivo, magnífico. E as roupas? Era melhor nem usar. Peito e bunda, quase tudo para fora, do jeito que eu gostava. Um piercing no umbigo que já imaginei brincar com a língua.

Seria perfeito, seria, se ela tirasse os olhos do meu pai ao menos por alguns segundos.

Deveria imaginar que ela se encantaria pela parede de músculos que o velho carrega, mas duvido que ela aguenta um minuto ao lado dele. O homem é grosso que só a porra.

Por isso decidi relevar a situação e fingir que não vi nada. Os dois não tem nada a ver, ele tem quarenta anos, mais que o dobro da idade dela.

É praticamente o tio. 

O meu pai não daria moral para uma menina dessa idade, certeza que não.

— Você nunca mais foi lá em casa, Gabriel. — A tia Carol me levou até a cozinha e começou a preparar o café.

— Acho que agora posso começar a ir. — dei uma risadinha.

— Gostou da Ju, né?

— Linda demais, tia. Quantos anos ela tem?

— Fez dezoito semana passada. E como está a sua mãe?

— Mal. Dizendo horrores do velho. — Carol olhou para mim. — O meu pai disse porque separaram?

— Ah, Gabi. Essas coisas são complicadas.

— Vinte anos, porra. — reclamei e acabei xingando sem querer. Ela me deu um abraço. — Aguentaram tanto tempo, eu não consigo entender. — desabafei. Eles não sabiam, mas essa separação me doeu muito.

Ouvi meu pai pigarrear e entrar na cozinha, direcionando o olhar para mim. Carolina tentou mudar de assunto.

— Ju está se ajeitando bem?

Ele assentiu com a cabeça.

— Você veio para me dar uma mão, Gabriel.

— Leonardo? — tia Carol se aproximou do meu pai e pôs as mãos nos ombros dele. — Deixa o garoto relaxar um pouco.

— Temos que providenciar o aluguel na semana que vem e não...

— Que tal a gente fazer assim? — ela o interrompeu. — Depois eu e Juliana te ajudamos nos jardins. Você também precisa desencanar um pouco do trabalho, Leo.

— Eu adoraria ajudar. — Juliana entrou na cozinha com aquele jeito sexy e provocador. Eu já estava ligado em tudo, prestando atenção em cada detalhe. Ela deu uma olhada no meu pai e depois em mim, se aproximou e sentou ao meu lado.

— Garota da cidade grande, você manja de mexer na terra?

— Eu aprendo rápido, posso dizer que essa é uma das minhas qualidades.

— É? E quais as outras? — eu perguntei, Juliana passou a mão nos cabelos e sorriu desviando os olhos.

Essa menina é muito gata.

— Gabriel! — meu pai, autoritário, já me chamou a atenção, quebrando completamente o clima.

— Então está feito. —- Carolina se virou para terminar o café. — Juliana, você vai adorar esse lugar. Leonardo conhece tudo dessa floresta, ele pode te ajudar com a sua faculdade.

O meu pai andou até a geladeira, parecia desconfortável com alguma coisa.

— Eu gostaria de ir até a cachoeira, Gabriel. — deslizou o dedo na tatuagem na minha mão. Levantei para que ela visse melhor o desenho.

Essa menina quer ir na cachoeira comigo? Não tem momento melhor para uma investida violenta. Sacar o que ela quer de verdade com essa voz doce e manhosa.

— Tem um biquíni por baixo dessa roupa aí? — dei uma risadinha para que ela não se sentisse tão envergonhada.

— Eu posso colocar.

— Cuida da Juliana, Gabriel.

— Pode deixar, tia.

— Eu vou com vocês. — meu pai interferiu, servindo café na xícara. — Só preciso tomar um banho.

— Ô, pai. A gente sabe se cuidar. E não foi você que falou que está cheio de trabalho?

— Caralho, Gabriel. — aumentou o tom de voz. — Tá surdo, guri? Eu disse que vou com vocês.

Carolina nos olhou assustada. O meu pai está pior que antes. A convivência com ele tá insuportável e, se não fosse a bonitinha ao meu lado, daria o pé desse mato.

Se Leonardo está irritado por pouca coisa, quero ver perder as estribeiras de vez. Está querendo empatar o meu lance com a Juliana, mas isso não vai acontecer.

Os dedos dela ainda estão acariciando minha tatuagem, e isso está deixando o velho completamente irritado.

Como que pode uma coisa dessas? Preciso sacar qual é desses dois.