— Leonardo, o que aconteceu? — Carolina perguntou assim que Juliana subiu emburrada.
Resolvi dar um resumo geral para ela não ficar desconfiada. Trouxe a garota e as coisas estão ficando fora de controle. E de uma maneira bem acelerada.
— Gabriel tá querendo a Juliana.
— Querendo? Como assim?
— Gostando, Carol.
— E a Juliana?
— Não sei, pergunta pra ela. — fui para a cozinha, Carolina veio atrás de mim.
— E esse braço?
— Não é nada, só um ralado. — parei de andar quando lembrei da forma fria como Juliana falou com a Carolina quando ela quase me pegou esfregando o pau na garota. — Carol, como é a sua relação com a enteada?
— Melhor não falar disso agora.
Segurei a Carolina pelo braço e puxei até uma cadeira.
— Veio só você e ela, porque o Antônio não veio?
— Ele é obstetra, Leonardo, tem um parto amanhã.
— Para de enrolação, mulher, fala logo. — Carolina cruzou as pernas, pensando se falava ou não. — Fala logo, caramba.
— Eu conheci o Antônio quando ele ainda era casado. — Segurei a cabeça, olhando para a minha irmã, saquei tudo. Juliana pensa que os pais se separaram por causa da Carolina. — Antônio já ia se separar, eles estavam com os papéis do divórcio prontos.
— Eu entendo perfeitamente, Carolina. Gabriel mudou comigo depois da separação. Mas porque não explica pra menina?
— Eu já tentei, Leonardo. Já fiz de tudo. Faz cinco anos e ela nunca me deu abertura pra nada.
Levantei para fazer o chá pra Juliana.
— A garota tinha treze anos quando os pais se divorciaram, deve ter sido um choque para ela. Gabriel tem vinte e tá sendo difícil pra ele lidar com isso.
— Ela não me dá abertura.
— Carolina, caralho. Você trouxe ela pra cá e ficou o tempo todo naquele quarto. Tenta chegar junto, mas de boa, como se não fosse nada. Menina dessa idade é assim, não quer papo furado, precisa de atitude.
— Você acha, Leonardo?
— Faz o que eu tô mandando e olha o que acontece.
Enquanto eu terminava o chá de camomila, Carolina preparava o jantar. Conversamos mais alguns minutos e subi até o quarto da abusadinha. Ela abriu a porta só de toalha, provocando o meu lado cafajeste.
Graças ao bom Deus a menina não tentou nada e eu me contive como um santo, para não puxar aquela toalha e abocanhar aqueles peitos redondos dentro do banheiro. A minha vontade era tanta que poderia machucar a fedelha. Ela ia gemer igual uma desesperada, e como a Carolina chegou de repente, seria o meu enterro antes da hora.
Antes de mais nada, prometi a mim mesmo resolver a parada com meu filho. A Carol me contou que ele se trancou no quarto e não soltou uma palavra.
Desci para pegar o resto do chá. O Gabriel é cria de cidade, curte balada e mulherada. Não tá acostumado com esse mato todo. Bati na porta do quarto, gritei o nome dele, mas o moleque não deu sinal.
— Guri, abre a porta pro teu pai. Vamos ter uma conversa de homem para homem.
— Relaxa, velho. Tô de boa.
Se não fosse o meu filho eu já mandava era pra casa do caralho, não tenho paciência com essas coisas. Enchi o pulmão de ar e soltei.
— Gabriel, porra, bora conversar.
Reclamou ao abrir a porta. Se jogou na cama e cruzou os braços atrás da cabeça.
— Fala aí.
— Dor de cabeça? — já estiquei o copo pra ele.
— Como sabe?
— Prender a respiração por muito tempo dá nisso.
— Valeu. — ele pegou, tomando tudo numa golada só.
— E aí, moleque, porque saiu daquele jeito? — Gabriel levantou da cama, olhou para o corredor e fechou a porta do quarto.
— Vai ser sincero comigo, pai?
— Eu sempre fui sincero com você, meu filho.
— Tá curtindo a Juliana, né? — dei um sorriso fraco ao coçar a cabeça. Claro que ele percebeu nós dois. — Não vem com essa história de que ela tem dezoito anos, não cola, velho. Tava ficando excitado.
— Gabriel! — repreendi meio sem jeito. — Me respeita, ainda sou teu pai.
— Pô, pai, tô começando a curtir muito ela, de boa mesmo, sabe?
Essa confissão tirou o chão dos meus pés. Eu sabia que ele estava afim de ficar com ela, mas "tô começando a curtir muito ela" além de me assustar, fez meu peito doer.
— Como assim, Gabriel? — Me ajeitei na cama. Corpo duro, coração batendo descompassado.
Não tenho a menor intenção de me meter no caminho do meu moleque.
— Tô pensando em levar isso pra um nível mais sério, pai. Tipo, tô querendo namorar, saca?
— Mas… Gabriel… — eu não tinha nem palavras, estava completamente sem jeito. Segurei o ombro do Gabriel que sentou ao meu lado na cama. — Acha que ela corresponde a você?
— A mina tá dando mole, vei.
É evidente que ela está dando mole, Juliana tá no cio.
Tentei organizar os pensamentos, passando a mão pelo rosto. A ansiedade me incomodava, e eu não estava conseguindo esconder.
— Fala com ela, Gabriel. Se Juliana quiser, eu não serei contra. — dei um beijo na sua cabeça e levantei. Queria sair dali o mais rápido possível. Essa situação tava mexendo comigo.
— Pai. — Eu olhei para trás. — Esqueceu o copo. — aproximou da porta e me entregou. — Eu te amo, veinho.
Forcei um sorriso.
— Eu também te amo, garoto. — trocamos um abraço apertado.
Fiz o que tinha que fazer. Meu filho vem em primeiro lugar. Tenho que esquecer essa garota, ignorar como ela mexe comigo e sumir do caminho dele.
Nossa relação de pai e filho é prioridade, qualquer mulher fica em segundo plano.
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TITIO - O CONTO
Short StoryA minha madrasta insistiu para que eu passasse um final de semana na tal casa na floresta. Eu e ela nunca nos demos bem, então imaginei que era mais uma tentativa de nos reconciliarmos. A surpresa foi descobrir que o "Tio Leo", irmão mais velho dela...