Pesadelos / Parte 2

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Eu senti uma brisa bater em meu rosto. Gelada e cortante, o que era ompletamente estranho para uma tarde de verão.

Meus pelos do braço se arrepiaram e era quase como se eu sentisse algum tipo de presença ao meu redor. Uma parte de meu cérebro sabia que essa era a sensação de estar em Thunder Bay, e a outra pensava que havia algo de errado.

Quer dizer, algo a mais de errado, porque já haviam várias coisas que nunca pareciam ficar em paz, com os cavalheiros: Damon desaparecido, Kai com problemas até o pescoço, Michael preocupado com a situação de Torrance, Will completamente perturbado desde o que aconteceu naquele barco...

Tive que respirar fundo.

Eu odiava essa cidade, e nunca escolhi ela, enquanto eu pude evitar. Mas eu escolheria Will, porque ele precisava de mim e precisava estar aqui, então eu faria o que fosse, mesmo se isso significasse enfrentar sentimentos infernais.

Dei um passo, escutando o farfalhar das árvores e nada além disso. A cidade estava em silêncio.

Passei meus olhos em volta do lugar, achando tudo meio vazio e foquei no rosto de Will, que eu conseguia ver pelo reflexo do vidro.

Ele estava dentro da farmácia, eu o observando lado de fora. Precisei de um segundo para respirar, graças ao sentimento de claustrofobia que arrebatava o meu peito.

E, por mais que eu conseguisse aspirar o cheiro fresco das folhas, a única coisa que estava me acalmando era olhar para ele.

Will tem uma pele linda e quase sempre dourada, mas estava ainda mais brilhante, devido à viagem que fizemos à Austrália, em uma das suas tentativas de esquecer o inferno da sua própria cabeça. Seu cabelo estava levemente desgrenhado, e algumas olheiras estavam presentes em seu rosto, o que explicava o motivo de ele estar precisando de medicação.

E tudo bem. Eu não gosto da frequência em que ele está tomando pílulas para dormir, e nem do fato de ele ter conseguido a receita com um de seus familiares médicos, que pouco se importou em fazer exames de verdade, mas ao menos ele não estava usando nada ilícito, como aconteceu antes.

Estava claro que Will precisava de ajuda para dormir, enquanto os pesadelos se estendessem.

Estava claro que todos eles precisavam de ajuda, em geral, enquanto não soubessem onde Damon estava.

Não eu.

Eu o preferia distante. Eu o preferia longe de Will e com menos poder de trazer sentimentos desgraçados, a todos. Eu...

Senti o meu telefone vibrar, no bolso, parando completamente a minha linha de pensamentos perigosa. E aquele sentimento de queimação subia ao meu peito e atravessava cada cédula que me compunha.

Mais uma vez, eu respirei, percebendo a tela me mostrar uma não identificação de chamador, e sentindo que eu deveria ignorar quem quer que fosse.

Talvez um trote.
Uma ligação de algum presídio.
Alguma locação econômica.
Ou Martin.
Ou...
Foda-se.

Escutei uma respiração baixinha, pelo outro lado da linha telefônica, quando eu não aguentei a minha curiosidade.

Alguns segundos de silêncio. Alguns segundos de nada, que me deixavam capaz de ouvir o meu próprio batimento cardíaco acelerado, quando...

Você está diferente, Emory.

A voz rouca, profunda e, na maior parte das vezes, refletindo arrogância. Uma voz que nunca mexeu nenhum fio do meu cabelo, e nem me assustou, mas já havia feito-o com diversas pessoas.

NIGHT CHANGES | Will Grayson - DEVIL'S NIGHTWhere stories live. Discover now