Segunda geração/ P3

579 65 53
                                    


Emory Scott.

Havia algo sobre a minha família que, todos os dias, me deixava emotiva como uma bebê chorona. Sempre. Seja um momento em que eu esteja feliz para um cacete, e apenas me lembro da Emory de 17 anos que se ajoelhava de frente ao altar e pedia por um maldito alívio, seja pela emoção constante de ver aquilo nascer, crescer e florescer.

Eu normalmente alegaria não saber o que eu fiz para merecer isso, mas, a verdade é que eu me orgulho. Me sinto feliz com quem eu me tornei. Eu gosto do que vejo no espelho, e no que vejo nas fotos da geladeira, em que estamos reunidos. Eu sou uma boa mãe. Eu lutei duro para que essa família se mantasse unida.

Eu tenho orgulho de mim mesma. E de Will, mais do que qualquer outro.

E, de certa forma, eu não entendo como uma ida à padaria poderia ser motivo de um sentimentalismo crescente, em meu peito.

Mas é isso que acontece. Eu estou comprando as coisas que Indie gosta de comer, para quando ela chegar em casa. Porque ela mora longe, agora. Ela é a primeira dos nossos filhos a ir à faculdade e... porra... o tempo passa rápido.

Respiro fundo, depois de pegar uma sacola de papel cheia de coisas que eu não deixava meus filhos comerem na infância, depois de ler em algum lugar que açúcar e glúten podiam atrapalhar o desenvolvimento sensitivo das crianças -apenas uma prova de que eu era uma mãe dedicada, ok?-, e sair do balcão.

Até que uma parede de músculos me atinge, por trás do meu corpo, agarrando-me e colocando os dedos na frente do meu rosto. Me pegando de completa surpresa. Por Deus...

As mãos cobriram os meus olhos e me puxaram contra o corpo forte. Alto. Com o cheiro amadeirado e refrescante ao mesmo tempo, que eu sentia todos os dias pela manhã.

—Oi. -eu dou uma risadinha.

Eu reconheceria meu marido mesmo se eu estivesse sem alguns dos meus sentidos, apenas pelo seu cheiro.

—Oi? -ele imita o meu tom risonho, sem me deixar enxergar ou me mover —É assim que você fala com um estranho que te agarra na rua?

Dou uma outra risada.

Deus, há um tempo já entramos na casa dos 40. Havia algumas partes de Will que tinham amadurecido e se transformado, mas outras o levavam a agir como o adolescente que eu conheci há quase trinta anos atrás. Eu apenas amava isso.

—Pare de rir. -reclama, sua voz ficando mais rígida.

—Me desculpe.

—Você ainda está rindo...

Eu estou. Mas eu paro, quando suas mãos se tornam mais firmes e eu começo a perceber melhor as vozes ao redor dos nossos corpos, no meio de um lugar público.

Ele está me agarrando, não está? Digo, no meio da padaria, onde as pessoas comem... eu tô sentindo aquela mão descer para o meu quadril e...

—Será que dá para me soltar? -eu peço.

Não preciso enxergar para saber que ele sorriu, em resposta.

—Quais as palavras mágicas?

—Por gentileza?

—Não, Emory Scott. Por Deus.

Uma risada ameaça surgir, novamente, pela minha garganta. Eu ainda tinha o meu sobrenome Scott, apesar de ter acrescentado o de sua família, também. Ele me chamava assim quando estava irritado -ou fingindo irritação- e de "Senhora Grayson", quando estava carinhoso. Os dois soavam bem, mas eu não dizia isso a ele.

—"Eu sou casada. Com um ex-presidiário forte, assustador e muito, muito ciumento. Me solte agora." -ele cita.

Não é como se todo mundo da cidade não soubesse disso. Não é como se ele sequer precisasse se preocupar comigo.

NIGHT CHANGES | Will Grayson - DEVIL'S NIGHTOnde as histórias ganham vida. Descobre agora