01_ Dia de ação de graças

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• Narrado por Drake •

Era dia de ação de graças. Nesse dia geralmente as pessoas se reúnem com a família, enfeitam a casa com tons terrosos e perus feitos de papel, dizem pelo que são gratos, comem juntos e aproveitam a companhia um do outro.

Eu nunca tive isso e, para falar a verdade, nunca senti falta. Nem consigo imaginar o meu pai e eu sentados a mesa para comer e dizer sobre o que somos gratos.

Abri a porta sem bater após espantar esse pensamento repentino.

Uma arma foi apontada para mim, mas Frank logo abaixou enquanto murmurava um palavrão.

ㅡ O que falei sobre entrar desse jeito? ㅡ A voz rouca do meu pai, pelo tiro que levou na nuca, soou pelo cômodo.

ㅡ Você que me chamou. ㅡ Fechei a porta e coloquei as mãos nos bolsos.

Meu pai me olhou com repreensão, mas logo voltou seu olhar para o homem amedrontado no meio da sala. Além de nós, também tinham mais três capangas do meu pai presentes no que era para ser uma suíte, mas parecia mais um quartel.

ㅡ Espere um pouco, preciso resolver com esse aqui primeiro. ㅡ Ele disse sem olhar para mim, apenas olhando de maneira intimidadora para o rapaz de cabeça baixa e pernas bambas.

ㅡ Me desculpe, Senhor Grove, eu não tive culpa. Eles me bateram na cabeça e quando vi... Todo carregamento havia sumido. ㅡ O homem já parecia estar chorando.

Passei por eles e fui até a sacada do " quarto ". Me sentei sobre a cadeira reclinável e observei a rua. Era final do outono e início do inverno. As árvore já não tinham folhas, o sol mal aparecia e o clima era frio em boa parte do dia.

A discussão rolava dentro do cômodo e isso só me fez bufar. Eu estava com dor de cabeça. Ouvir a voz do meu pai dando ordens me dava dor de cabeça.

Estava olhando para a rua lá embaixo quando a vi. A garota que mora na casa da frente. Ela mora num conjunto de pequenas casas onde todos dividem o mesmo quintal.

Eu não a conheço. Ela provavelmente também não me conhece. Mas, a vejo com bastante frequência por morar em frente a minha casa. Se é que posso chamar de casa.

Não sei muito sobre ela, sei que seu nome Chloe porque ela é bailarina, atriz, algo assim. Trabalha no teatro da cidade e já ouvi dizerem que ela é como a estrela de lá, apesar de não ser bem paga e ter que morar na casa que mora.

Tenho certeza que ela se mudaria se tivesse uma condição melhor. Ninguém mora na rua do temido Grove porque quer.

ㅡ Drake? ㅡ Ouvi meu pai me chamar, mas não me movi. Continuei olhando para ela.

Como na maior parte das vezes que a vejo, ela parece cansada, com dor e sempre carregando aquela bolsa enorme cor de rosa. Ela desequilibra a garrafa, o celular e o livro que estava nas mãos para tentar abrir o portão e acaba derrubando todos no chão.

A vejo respirar fundo de olhos fechados antes de se abaixar para pegar os pertences do chão. Logo depois ela sai pelo portão e segue pela calçada, até que não tive mais visão dela.

O ruído alto de um tiro soou atrás de mim, porém não tive reação. Isso diz algo sobre uma pessoa?

ㅡ Drake? ㅡ Ouvi a voz do meu de novo e fechei os olhos. Mordi o lábio inferior e me levantei para ir até ele. Quando me viu em pé na porta, ele acenou com a arma, provavelmente ainda quente, para que os outros homens tirassem o corpo do local. Assim o fizeram. ㅡ Onde você estava?

ㅡ Por aí. ㅡ Cruzei os braços.

Meu pai me encarou por alguns segundos como se se perguntasse onde errou na minha criação. Até que ele soltou um risinho, como se risse dos próprios pensamentos.

Me ame, ChloeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora