20_ Eu gosto de dançar

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Lembro que quando tinha uns doze ou treze anos, foi minha primeira noite sozinha no orfanato. Nunca tive um quarto só pra mim, então ficar com a casa toda só para mim por uma noite foi uma experiência que ansiei a semana toda.

Eu ia ficar sozinha porque era aniversário de uma das meninas, menina essa que quando seus pais a deixaram no orfanato, deixaram também uma conta bancária com uma ótima quantia em dinheiro, para banca-la durante os anos.

Lembro de imaginar como ela se sentia. Metade das outras garotas sentiam inveja dela por ela poder comprar coisas que nós não podíamos, mas eu me perguntava se isso não a deprimia. Crianças abandonadas tem o costume de se perguntar o motivo de terem sido abandonadas. O mais " agradável " de se pensar é que nossos pais não tinham condições financeiras de nos criar e por isso deixaram-nos num lugar onde sabiam que seríamos cuidados.

Ela não tinha como pensar isso.

Naquela noite ela alugou um sítio só para comemorar seu aniversário e convidou a todos, menos a mim. Isso causou uma bela discussão e uma confusão, pois a diretora não aceitou bem esse fato. Mas, eu não liguei e insisti que fossem sem mim. Convenci a diretora que eu gostaria mais de ficar sozinha do que ir para uma festa a qual ninguém me queria presente.

Lembro que fiz pipoca, apaguei a casa inteira e fui assistir a um filme na televisão. O filme que passou, que eu não me lembro de muita coisa, tratava de um cara que, logo início, sofria um acidente de carro junto da mulher dele. A mulher morre e logo depois ele acorda e percebe que tudo foi um sonho.

Porém, ele começa a perceber que todas as coisas que estavam acontecendo naquele dia, haviam acontecido em seu sonho. Como se o sonho estivesse se realizando. O que significava que a mulher dele morreria no final do dia.

Não lembro de muita coisa do filme, mas lembro que no fim ele acaba escolhendo morrer no lugar dela e eu chorei por uns vinte minutos inteiros depois que os créditos subiram. Não só porque o final foi triste demais, mas porque comecei a pensar que eu nunca sentiria um amor como aquele.

Ta, eu era uma pré adolescente e adolescentes costumam pensar que, se a vida amorosa não deu certo ainda, nunca dará. Mas, eu não me referia somente a minha vida amorosa inexistente. Me referia a tudo. Eu não tinha ninguém. Comecei a me perguntar se um dia eu conheceria alguém que me amaria tanto ao ponto de morrer por mim. Ou se eu conheceria alguém que eu amaria tanto ao ponto de não me importar de morrer por essa pessoa.

Quando Drake disse aquilo... Meus pensamentos me levaram de volta àquela noite. Quando o ouvi dizer que morreria antes de deixar alguém me machucar, senti algo no peito que nunca senti antes. Não senti quando comecei a namorar Jonny, não senti quando finalmente consegui uma casa só pra mim, não senti quando subi ao palco pela primeira vez, não senti quando me tornei a primeira bailarina, não senti quando achei que seria adotada... Não senti em nenhuma das vezes que fui um pouco feliz por um tempo.

ㅡ Quem é você? ㅡ Ele sorriu entendo a minha pergunta. Quem era Drake? Meu anjo da guarda? Por que um cara aleatório que eu não conhecia, de repente, entrou na minha vida e agora morreria pra me proteger? Ele fazia isso por todo mundo? Era só um bom moço que tentava compensar as mancadas do pai dele? Ou era só comigo?

De qualquer forma, aquele sentimento novo não era nem um pouco ruim.

Drake dirigiu de volta pra casa e a primeira coisa que fiz foi tomar um banho. A aula do ballet tinha me feito suar, apesar de ser iniciante.

Tomei um banho, lavei o meu cabelo e desci ainda com ele molhado. Não vi Drake pela casa, mas a televisão estava ligada, então deduzi que ele ainda estava por ali.

Me ame, ChloeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora