14_ Ela é louca?

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• Narrado por Drake •

ㅡ Eu não tenho ideia do que aconteceu! ㅡ Frank olhou para mim parecendo mais confuso que eu.

ㅡ Explica essa história de novo. ㅡ Pediu.

ㅡ Estava tudo bem. Nós conversamos um pouco naquela manhã, eu levei café da manhã pra ela e depois ia sair pra ela ficar a vontade na casa, mas ela quis ir comigo. Trouxe ela pro centro, conversamos de boa no carro e, de repente, ela começou a tremer. O rosto dela ficou assustado e ela nem conseguia olhar para mim. Parecia até que a ficha dela tinha caído naquele momento.

ㅡ Ela é louca?

ㅡ Ela não é louca, Frank. ㅡ Bufei me recostando no banco da lanchonete em que nos encontramos. ㅡ Ela só parecia ter caído na real agora. Eu realmente não esperava que ela fosse vir comigo de boa, na verdade, estava esperando o comportamento que ela teve hoje, no dia em que a trouxe. No dia que a coloquei no carro, estava esperando que ela surtasse assim dizendo que não ia vir, mas ela só fez isso agora.

ㅡ Vai ver ela tem delay.

ㅡ Você não ta ajudando.

ㅡ O que quer eu diga? A garota é doida. Você se apaixonou pela maluquinha. ㅡ O encarei esperando que parasse com a palhaçada e ele ergueu as palmas das mãos. ㅡ Ta, o que foi exatamente que ela disse?

ㅡ Disse que não tinha como confiar em mim, porque nem sabia se essa coisa do meu pai estar atrás dela é verdade. Disse que eu posso ser só um doido que sequestrou ela porque quis.

ㅡ Parece o tipo de coisa que você faria.

ㅡ Eu não a culpo por pensar isso, mas é estranho ela só pensar nisso agora.

ㅡ Estranho mesmo. ㅡ Ele deu uma grande mordida no seu hambúrguer. ㅡ O que você vai fazer?

ㅡ Não vou deixar ela andar livremente. Era o que eu pretendia, mas agora acho que ela pode tentar fugir.

ㅡ Vai deixar ela trancada na casa?

ㅡ Tem uma ideia melhor?

ㅡ Dá dinheiro pra ela e deixa ela se virar. Deixa ela ir pra longe.

ㅡ Eu não conseguiria nem dormir a noite. ㅡ Passei a mão na boca e olhei pela janela.

ㅡ Ta, então não é por ela, é por você. ㅡ Seu comentário me fez voltar a olha-lo. ㅡ Você gosta da garota e quer ela por perto. Quer protege-la, mas mais do que isso, gosta de estar perto dela.

Não o respondi. Também não concordei. Eu estava fazendo isso por ela. Porque ela estava em perigo. Porque o idiota do meu pai quer machuca-la e eu não suporto nem a ideia de alguém fazendo mal a ela.

Eu não estava fazendo isso por mim. Porque gosto dela. Ou estava? Eu estava fazendo isso por que quero ela por perto?

Me levantei da cadeira e saí da lanchonete ignorando um " aonde você vai? " de Frank. Entrei no meu carro que estava estacionamento ao lado da calçada e fechei a porta. Toquei o volante mas não consegui sair do lugar.

Eu não posso deixar ela presa aqui, mas também não posso deixar ela ir. Para onde ela iria? Mesmo que eu lhe desse dinheiro, não acho que ela estaria segura em qualquer lugar.

ㅡ Que droga! ㅡ Bati no volante.

Olhei para a frente sentido a raiva pulsar em minhas veias. Queria tê-la impedido de ir para aquela cidade entrar naquele galpão. Queria abrir fogo na cara do Freeman por ter confirmado que ela é sua mulher e ter feito ela estar em perigo. Queria dar um soco na cara do meu pai por sequer pensar em machucar a Chloe.

Dirigi de volta para a casa e fiquei um tempo estacionado em frente. Não tirei o celular dela, o que significa que ela poderia ter chamado a polícia ou ligado para algum conhecido. Não ver nenhuma viatura ou a moto do Michael na frente da casa me deixou um pouco aliviado.

Deixei o carro e entrei na casa. Tudo estava igual. Subi até o andar de cima e bati na porta do quarto dela.

ㅡ Chloe? ㅡ Sem resposta. ㅡ Chloe? Você ta bem?

ㅡ Defina bem.

Apesar do sarcasmo, fiquei aliviado de ela não ter fugido.

ㅡ Podemos conversar?

ㅡ Já conversamos demais por um dia.

ㅡ Droga, Chloe, eu to arriscando tudo com o meu pai pra te proteger. Você pode ao menos conversar comigo?

Ela abriu a porta apenas o suficiente para que eu pudesse ver o seu rosto.

ㅡ Faria isso se fosse eu? Se você fosse uma garota órfã que não tem ninguém além de si mesma, que já foi magoada milhares de vezes por pessoas que confiou, que só vive a cada dia pensando se vai conseguir se alimentar no dia seguinte, confiaria num bom samaritano da máfia que diz querer me proteger de um perigo que eu nem sei se é realmente verdade? ㅡ Sua pergunta me deixou sem resposta e ela voltou a fechar a porta. ㅡ Não confio em você, Drake. Mesmo que seja mesmo um bom samaritano, sinto muito. Mas é a minha vida que está em jogo.

Ela ficou em silêncio e eu me afastei da porta. Eu sabia que não seria fácil. Na verdade, estava esperando essa reação dela desde o início. Eu estava curioso. Curioso com o passado dela. Por que ela reagiu dessa forma? Por que demorou a se tocar da situação? E por que falou como se não fosse a primeira vez que fizesse isso?

Chloe havia sofrido em seu passado e eu precisava me segurar para não investigar tudo o que aconteceu e acabar com qualquer imbecil que tenha a machucado.

[...]

Uma semana se passou desde que Chloe parou de falar comigo. Ela não fica trancada no quarto o dia todo, as vezes desce para comer alguma coisa, fica poucos minutos na sala, mas logo volta pro quarto. Eu saio na maior parte do tempo para não incomoda-la. É ruim ver que sempre que eu chego, ela sobe.

Não sei se ela ainda não confia em mim e se é pelo fato de eu ser um " fora da lei ". Quando ela me olha, é o mesmo olhar que me deu naquele teatro, quando disse para sua amiga que não queria topar comigo de novo, porque onde caras como eu estão, sempre dá alguma confusão. E não posso culpa-la, até porque não deixa de ser verdade.

Estava sentado num dos bancos no jardim de trás quando ela apareceu com um cesto de roupas. Nós nos encaramos por uns segundos, mas ela logo foi na direção da máquina de lavar.

Eu a observei desdobrar as roupas, colocar na máquina, colocar o sabão e o amaciante e ligar a máquina de lavar. As roupas começaram a girar e ela endireitou a postura, encarando as roupas.

ㅡ Como está se sentindo hoje? ㅡ Não pude ver o seu rosto, mas senti que ela estava revirando os olhos. Eu lhe fiz essa mesma pergunta todos os dias na última semana, primeiro porque me importo, segundo para ela saber que eu me importo.

ㅡ Além de ainda não conseguir dormir com medo de algo acontecer? ㅡ Ela se virou para mim e cruzou os braços. ㅡ Me sinto entediada. Minha vida era tanta correria que ficar sem fazer nada o dia inteiro faz qualquer um sentir tédio.

ㅡ Quando você me convencer de que não vai tentar fugir ou me denunciar por sequestro, vai poder sair e fazer outras coisas. A cidade é pequena, mas tem teatro, cinema, shopping e os próprios festivais. ㅡ Não tinha ideia se isso parecia atrativo para ela e me sentia horrível por não conhecê-la. Queria conhecê-la. Queria saber as coisas que gosta e poder fazê-la desfrutar dessas coisas.

ㅡ E eu teria que ir com você em tudo isso? ㅡ Também doía ver como ela via em mim só mais um marginal em quem não podia confiar ou ter laço algum.

ㅡ A princípio... ㅡ Dei com os ombros. ㅡ Seria tão ruim assim? ㅡ Abri um meio sorriso e ela revirou os olhos de novo, voltando para dentro da casa.

Eu não parei de sorrir. Apesar de toda essa situação, ainda era bom poder ser notado por ela. Mesmo que ela revire os olhos de raiva pra mim. Ela não devia saber o quão linda ficava irritada.

•••
Continua...

Me ame, ChloeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora