28_ Drake acordou meu coração

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Meu pai estava tenso naquela noite. Ele tinha feito alguma coisa e não queria dizer o que era. Ele também não foi pro quarto dormir com minha mãe, ficou na sala com a televisão ligada e uma arma posicionada sobre a mesa de centro.

Algo estava errado. Noite passada ele bebeu mais do que de costume e ouvi ele falando ao telefone que tinha dado merda.

Ele discutiu com a minha mãe. Ela também notou o quão estranho ele está. Tentei dormir, mas não consegui. Tinha um mau pressentimento. Sabia que algo estava errado e temi por meus pais.

Levantei da cama e saí do quarto pela terceira vez naquela noite. Desci até a metade dos degraus da escada e, pelo programa que passava na televisão, deviam ser duas da manhã.

Meu pai estava no sofá. Seu pé estava batucando e ele não parava de olhar o celular a cada segundo.

Depois de quase dez minutos sentado na escada, um farol alto passou na rua, iluminado nossa casa. Meu pai se levantou em alerta e foi até a janela ver o que era. Seu desespero para voltar até a arma me assustou.

ㅡ Eles estão aqui, estão aqui! ㅡ Disse ao telefone numa tentativa de sussurrar.

Lembro do meu coração acelerar. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que meu pai era envolvido com coisas perigosas. Já tinha ouvido milhares de vezes ele a mamãe discutindo sobre ele parar com isso e sair desse trabalho, mas ele dizia que não podia, que só se sai morto ou com a permissão do chefe.

De repente a porta foi arrombada. Homens entraram e uma troca de tiros começou. Corri para o andar de cima e entrei no quarto da minha mãe. Ela já estava acordada e prestes a descer para ver o que estava acontecendo, mas eu a impedi.

Implorei que ela ficasse escondida, que não saísse daquele quarto.

Depois que ela se escondeu no closet, corri até meu quarto e peguei a arma que eu tinha guardado. Meu pai me treinou desde cedo para saber atirar, disse que um dia eu precisaria e eu sabia que aquele era o momento.

Voltei até a escada e mirei a arma na direção de um dos caras. Minha mão estava tremendo, eu estava com medo e não me sentia preparado mentalmente para carregar uma morte na minha cabeça.

Eu estava prestes a apertar o gatilho quando os caras que trabalhavam com meu pai apareceram. O tiroteio aumentou, mas agora meu pai estava em vantagem.

Me levantei devagar para voltar para o quarto e ficar com minha mãe, mas fui pego de surpresa quando a porta do quarto se abriu e um homem saiu segurando minha mãe feito refém, apontando uma arma para a cabeça dela.

Gritei para solta-la e corri em sua direção, mas ele me empurrou e eu cai sobre uma mesa de vidro que se despedaçou. Um corte enorme fez sangrar o meu braço e tudo o que me lembro do que aconteceu depois foi do Freeman levando minha mãe até o meu pai e a matando na frente dele.

Atualmente...

ㅡ Não! ㅡ Me separei de Chloe. Ela me olhou completamente confusa e por um segundo quase a puxei para mim e a beijei de novo. Mas... Olhei para a cicatriz no meu braço e apertei os olhos sentindo a dor daquela noite. ㅡ Não posso fazer isso com você, Chloe. Eu não vou aguentar que algo te aconteça. ㅡ Me afastei mais dela para não voltar a toca-la e me sentei na cama. Apoiei meus cotovelos na perna e cobri meu rosto com as mãos.

Tudo em mim estava em conflito. Eu tinha acabado de beijar a mulher dos meus sonhos, algo que eu estava esperando a muito tempo, mas sabia que não devia e sentia que não poderia fazer isso novamente.

Senti Chloe se sentar ao meu lado. Nós dois ficamos em silêncio por longos segundos. Parecíamos ter muito no que pensar.

ㅡ Essa coisa de máfia não tem mesmo saída? ㅡ Chloe perguntou e suas palavras me fizeram erguer o olhar para ela. Ela estava interessada em saber se eu conseguiria sair da máfia? Isso significava que...

ㅡ Se meu pai me desse permissão para sair, eu poderia. Mas, é quase impossível. Ele quer que eu assuma, como se a máfia fosse a minha herança. ㅡ Olhei para a frente, encarando a parede branca. ㅡ Eu poderia fugir para longe, mas ele me encontraria. E eu não tenho dinheiro para ir para tão longe.

ㅡ Vai parecer uma pergunta idiota, mas ele sabe que você não quer seguir os caminhos dele? Já tentou perguntar? Pedir permissão para sair? ㅡ Concordei com a cabeça.

ㅡ Nos últimos anos eu pedi isso quase todo dia. Ele sabia que eu não queria essa vida. Só agora que pensa que eu finalmente entrei na dele e quero assumir. ㅡ Olhei para a mão de Chloe sobre a cama e a toquei, cobrindo sua mão com a minha. ㅡ Entende por que eu não posso? Juro que a coisa que eu mais quero nesse mundo é ficar com você, te ter ao meu lado e fazer o impossível pra te fazer feliz, mas eu não posso. Não ainda. Não suportaria que te acontecesse o mesmo que minha mãe.

Nós dois voltamos a ficar em silêncio. Não olhei mais para ela, porque meus olhos só sabiam focar em sua boca e eu não queria me sentir tentado. Até quando tudo precisaria ser assim?

• Narrado por Chloe •

O quarto estava escuro. Drake e eu já tínhamos jantado e agora estávamos deitados na cama. Ele de um lado, eu de outro. A cama era gigante, caberiam mais quatro pessoas ali.

Eu sabia se ele estava dormindo, mas eu não conseguia dormir. Tinha desligado a televisão fazia um tempo, para tentar descansar um pouco, mas eu continuava acordada, encarando o teto do hotel.

O que tinha acontecido? Até um dias atrás Drake era só o cara que estava tentando me proteger, mas agora eu tinha beijado ele. Sem contar que senti ciúmes quando pensei que ele tinha ficado com a tal mulher e fiquei com o coração na mão quando Frank saiu daqui desesperado para ajuda-lo porque algo tinha dado errado.

Fiquei rodando esse quarto feito uma doida morrendo de preocupação até Frank trazê-lo de volta. O alívio que senti ao ver que ele estava bem foi tão grande que me perguntei a quanto tempo eu não sentia isso.

Fazia muito tempo que eu não me sentia preocupada com alguém. Que eu não me sentia aliviada quando via que esse alguém estava bem. Que eu não sentia ciúmes de alguém. Caramba, quando foi a última vez que senti ciúmes do Jonny? Acho que nem quando descobri a traição eu fiquei enciumada.

Fazia muito tempo que eu não me sentia atraída por alguém. Drake despertou tudo isso em mim e eu nunca me senti mais humana. Nos últimos anos eu me sentia mais como um robô fazendo as mesmas coisas todos os dias. Agora eu sentia coisas, sensações e sentimentos que eu não sentia a muito tempo.

Meu Deus, aquele beijo despertou algo em mim que acho que nunca senti antes. Só o olhar dele para mim enquanto eu fazia seus curativos já me causava algo no estômago.

A verdade é que Drake parecia ter acordado o meu coração.

Olhei para o lado e o vi deitado com os olhos fechados. Não teríamos nada e eu sabia disso. Não até toda essa confusão se resolver, pelo menos. Mas, isso não me impedia de fingir por um momento que esses problemas todos não existiam.

Me aproximei de Drake. Me cobri com a mesma coberta que ele e me aconcheguei ao seu lado, de costas para ele. Não demorou nem dois segundos e Drake se uniu a mim e me abraçou. Seu abraço me fez sentir de novo tudo aquilo que eu não sentia antes. Quis ficar ali para sempre.

•••
Continua...

Me ame, ChloeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora