Criaturas sombrias em meu quarto

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Albus pov:

Os mesmos olhos azuis que cintilavam para mim todas as manhãs, todas as aulas, todos os jantares em família, todos os dias e os dias seguidos desde então, simplesmente deixaram sua marca uma última vez naquela maldita lareira, onde eu fugi e deixei para trás tudo que um dia me faria feliz de verdade, restando apenas sonhos e angústias para eu cuidar e colher.

O verde que me cobriu quando disse aquelas palavras para ir embora, embora do desastre que eu havia causado, me deixou cego. A sensação de entrar na lareira e ver tudo ao meu redor como um borrão me fez querer vomitar, porque eu só queria enxergar azul.

Cheguei em minha casa, salvo talvez, mas não era o meu lar, e de repente tudo começou a escurecer e o chão parecia uma boa ideia para me deitar.

-Filho! - ouvi meu pai gritar, mas tudo estava confuso, eu não queria ele - por que você está chorando? - ele perguntou vindo em minha direção.

-Eu estraguei tudo - soltei no ar e as palavras mal conseguiram sair.

Meu pai me abraçou, mas eu não tive reação. Olhei para um lado, lá estava James em pé na escada, curioso para saber o que aconteceu. Teddy estava no sofá deitado, mas também me encarava. E eu não consegui encontrar Lily, assim como não conseguia encontrar Scorpius em nenhum lugar.

-Preciso ficar sozinho - resmunguei enquanto forçava meu pai a me soltar. Corri escadas acima, tentando encontrar uma maneira de correr até o fim do mundo e me jogar de lá.

Meu quarto estava claro, iluminado pelo Sol da tarde. Forcei-me a fechar as janelas e fechar a porta, mas não trancar, quem sabe a dignidade um dia tente entrar e não consiga porque a minha porta está trancada.

Sentei no chão coberto pelo tapete, bem ao lado da minha cama, abracei minhas pernas e afundei minha cabeça em uma vasta escuridão.

Tentei lembrar o que aconteceu, e eu quis morrer ao recordar do meu impulso ao ver Scorp falando aquilo, algo idiota que eu interpretei totalmente errado.

Por que ele iria gostar de mim?

Eu passei muito tempo tentando culpar alguém, mas o único culpado aqui sou eu. Eu forcei tudo, forcei nossa amizade e forcei um amor que não é recíproco.

Eu sou nojento.

Tentei esfregar as mãos pelo meu rosto fortemente, pelo meu cabelo e por todo o resto, para ver se assim eu conseguia me livrar da nojeira que eu sou. Mas não funcionou.

Scorpius agora deve estar se sentindo muito mal, ele pode estar tentando escovar os dentes, tentando tomar banho, esfregando o rosto na lama, mas ele não vai deixar de sentir o meu toque nojento e perverso.

Eu estraguei tudo, a nossa amizade, nossa conexão, e todo amor que talvez existisse ali.

Meu corpo todo tremeu ao lembrar da expressão desgostosa em seu rosto. Como ele me soltou e não fez nada para me impedir, entrando choque quando percebeu que para mim não era só amizade, e correndo para me segurar quando sentiu pena em seu coração.

A confiança dele em mim está acabada. Ele confiou em mim, me aceitou quando me assumi e fez questão de acreditar em mim, que eu não faria nada com ele, mas eu fiz.

Deitei no mesmo tapete que estava e deixei as memórias que nós tivemos passarem pela minha cabeça enquanto eu olhava para o teto.

Não sei exatamente quanto tempo fiquei ali, pensando, mas as batidas leves em minha porta me tiraram do transe.

-Vai embora - gritei em reprovação.

-Sou eu, Albus, James - um silêncio desconfortável surgiu entre nós - só quero conversar.

Beautiful Boy (Scorbus)Where stories live. Discover now