Promessas

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As últimas horas foram de longe as mais dramáticas da minha vida

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As últimas horas foram de longe as mais dramáticas da minha vida.

Prendendo a respiração, conto até cinco. Embora prestes a implodir em um misto de raiva, dor e medo, seguro o choro e tento parecer o mais calmo possível.

Sorte minha o vovô Adolf não estar aqui, ou diria para me recompor e agir feito um homem.

— Vai ficar tudo bem, garoto — padre Cadence garante, a mão no meu antebraço. — Tenha fé.

Dá para ver que está exausto. Pudera, depois de passar a noite inteira tentando impedir que eu desmorone, fica difícil manter as aparências.

No fundo, tenho pena do padre Cadence, ele executa bem o seu papel de sacerdote, mas a verdade é que não sou sua responsabilidade, não era dever dele estar aqui, com certeza tem gente lá fora bem mais necessitada da sua ajuda do que eu. Contudo, ele escolheu ficar ao meu lado e desempenhar um dever que qualquer pessoa com um cérebro funcional julgaria pertencer à minha mãe, meu ente mais próximo; e embora desconfie que esteja fazendo isso não por apreço a mim, mas por lealdade ao meu pai, não posso deixar de me sentir grato, não fosse por ele, eu estaria mais só que um rato-toupeira.

Erguendo os olhos, sorvo o ar gelado da sala de espera, o cheiro de desinfetante e flores rasteja pelas minhas narinas me deixando nauseado.

Do lado oposto do cubículo branco, Eliza Beene conforta a filha. A Cara de Coruja deixa a cabeça pender sobre o ombro da mãe enquanto me observa com olhos inchados de tanto chorar. Por um louco momento desejo que ela estivesse ao meu lado.

Venha até mim.
Acorde os anjos!
Faça o céu cantar outra vez.

Ela funga, enxugando o nariz ranhoso com um lenço, os cachos vermelhos roçando as bochechas mais vermelhas ainda. Diferente de mim, Viola Beene não tem vergonha de ser quem é, ela não se importa de revelar ao mundo a sua bagunça.

"Deus se move de maneiras misteriosas, para executar suas maravilhas, ele estabelece suas pegadas no Oceano e cavalga sob a tempestade" — a voz do padre Cadence me tira do devaneio.

Desvio o olhar para ele, seus dedos escuros rolam as contas do terço.

— Por que não tenta rezar mais baixo? Duvido que Deus tenha problema de audição.

— Não estou rezando, estou recitando um poema. — Faço uma careta confusa. — Meu pai costumava recitá-lo para mim quando eu era pequeno e me via tentado a questionar a sabedoria divina.

Pronto, ele vai começar.

— Sério? E Isso funcionava para o senhor? Porque não está funcionando pra mim. Honestamente, saber que Deus se move de maneiras misteriosas pra realizar o que quer que seja, só me deixa ainda pior, não me sinto nada confortável com a ideia de que alguém, além de mim, tenha algum poder sobre o meu destino.

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⏰ Last updated: Mar 14 ⏰

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Viola e Rigel - Opostos 1Where stories live. Discover now