Olhos de Safira

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Ele está sentado à minha frente, os olhos fixos na pilha de papéis em suas mãos, a luz da luminária se derramando sobre os cabelos, tão parecidos com os meus

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Ele está sentado à minha frente, os olhos fixos na pilha de papéis em suas mãos, a luz da luminária se derramando sobre os cabelos, tão parecidos com os meus.

Me remexo na poltrona da sala de estar para chamar sua atenção, mas sou ignorado. Tento novamente, dessa vez com um pigarro. Nada. Desde que chegamos a Londres venho imaginando formas de abordar o assunto, há pouco decidi que o melhor é evitar preâmbulos e ir direto ao ponto.

― A... A Eliza Beene ― digo num sussurro. ― O que houve entre vocês?

Posso parecer frio e destemido, mas por dentro estou tremendo mais que os galhos lá fora, sob a carne meus ossos crepitam feito a lenha da lareira artificial. Há cerca de uma hora voltou a chover, a desculpa ideal para a mamãe se recolher e nos deixar a sós. Desde então fiquei esperando o momento certo, quando ele desistiria dos papeis e me daria a chance de iniciar uma conversa. Mas isso é pedir demais. Maximilian Stantford respira o trabalho.

Longos segundos se estendem sem que ele diga nada, chego a pensar que não me ouviu. Cogito me levantar e subir para o quarto, porém sou mantido onde estou por uma onda de determinação nunca antes experienciada. Ele não precisa me dizer que existiu algo entre ele e a mulher do Catador de Bosta de Cabrito, está na cara, ainda assim, eu quero ouvir. Eu mereço isso. Honestidade. Verdade. Tudo que me foi negado a vida toda. Se eu vou ficar longe da Beene, preciso de um motivo contundente, não de ordens e palavras jogadas a esmo.

Falando na Beene, ela me enviou uma mensagem mais cedo, ainda não respondi, não estou com humor para isso e quero evitar magoá-la. De qualquer forma, o celular não vai explodir nos próximos minutos, responderei mais tarde, quando retornar ao quarto.

― O senhor não me ouviu? Eu perguntei da Eliza Beene ― insisto.

Com a mandíbula travada meu pai me encara, o rosto mais branco que os papéis que ele acaba de largar sobre o assento.

― O que disse? ― devolve, os lábios mal se movendo ao pronunciarem as palavras.

Ajeito-me na poltrona e aperto as palmas uma contra a outra, assim como a minha nuca, elas suam. Decidido a ignorar, enxugo-as na calça e levanto a cabeça. É uma sensação estranha, nunca antes encarei meu pai dessa forma, pelo menos não sem tremer dos pés à cabeça. Não que eu não esteja tremendo agora, eu estou... um pouco. Tal tremor, no entanto, vem acompanhado de uma explosão de euforia que faz meu sangue ferver nas veias. É uma sensação aterradora... e esfuziante. Como saltar de paraquedas, ou como eu imagino que seja saltar de paraquedas.

Sem meias palavras, estou confrontando meu pai. Quais as chances de eu sair ileso disso?

― Eu vi a foto. Vocês dois protagonizando Noite de Reis. ― Engulo em seco. ― E, com todo respeito, o jeito como o senhor olhava para ela... Eu nunca o vi olhar daquela forma pra ninguém, nem mesmo pra mamãe.

Viola e Rigel - Opostos 1Where stories live. Discover now