Buraco Negro

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Disparo a toda pelo corredor, sob os gritos de "Espera, Oli!" e "Aonde você vai?" da Cara de Coruja.

É melhor me afastar antes que meus pensamentos se tornem palavras, nada de bom pode sair da minha boca neste momento.

Sem olhar para trás, viro no corredor rumo a escadaria e começo a galgar os degraus, a mente sendo bombardeada, memórias que eu preferiria que continuassem adormecidas acordando.

Afrouxo o nó da gravata e puxo o ar com mais força, as mãos adormecendo, ficando mais pesadas e úmidas a cada segundo, o coração desferindo socos contra a parede do peito, sacudindo minha estrutura.

Eu me lembro de uma vez em que vi meus pais brigarem, devia ter por volta de uns nove anos, eles estavam na sala, era tarde da noite e eu não conseguia pegar no sono de jeito nenhum, como não os encontrei na cama, corri para procurá-los no andar de baixo. Comecei a ouvir os gritos antes mesmo de alcançar a escada, a minha mãe era quem mais gritava, ordenando que o meu pai parasse de mentir e admitisse que ainda pensava nela ― nela quem eu não sabia. Ele não disse nada, só ficou lá parado olhando para a minha mãe enquanto uma pilha de livros, papéis e porta-retratos era arremessada ao chão e eu apertava os ouvidos e me encolhia, a fim de abafar a gritaria.

Quando a mamãe parou de estrebuchar, ele passou o braço em volta dos seus ombros trêmulos e a puxou para um abraço, mas ela o afastou, cravou os punhos cerrados em seu peito e o empurrou para longe no mesmo instante.

― Não toque em mim, Max ― cuspiu entre dentes. ― Como pôde me trair dessa forma? Como pôde... ― ela não completou a frase, um soluço a impediu.

Paralisado, vi meu pai levar as mãos à cabeça, apertando as têmporas, soltar o ar com força e responder:

― Eu não trai você ― suspirou. ― Nunca faria algo assim, estou casado com você agora, temos um filho, uma vida.

― Ora, me poupe ― ela bufou, pegando um papel sobre o aparador e o sacudindo diante dele, bem próximo ao rosto. ― Subornou o Sharman para que ela ficasse com a maldita livraria, Max.

― Tem alguma noção do que está dizendo? Suborno é crime, Melisa.

Ela bufou, abrindo buracos imaginários em sua testa conforme o encarava.

― Cuidado com a polícia.

― Agora está sendo ridícula.

― Eu estou sendo ridícula? Ela mentiu para você...traiu você... e eu estou sendo ridícula? Olhe para si mesmo. ― despejou, os punhos fechados encontrando o peito dele, fazendo com que se desequilibrasse e caísse sentado no sofá.

Meu pai é bem mais forte que a minha mãe e muito mais alto também, se quisesse poderia tê-la contido, segurado seus punhos e feito com parasse. Mas ele não fez, só ficou lá, sentado no sofá olhando para ela enquanto era bombardeado por uma chuva de acusações.

Viola e Rigel - Opostos 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora