O Queixo Tremulante

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Virei-me na cama, respirando profundamente, e em vez de sentir o cheiro próprio da enfermaria, fui surpreendido pelo cheiro de balas de cereja

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Virei-me na cama, respirando profundamente, e em vez de sentir o cheiro próprio da enfermaria, fui surpreendido pelo cheiro de balas de cereja.

Abri os olhos um tanto receoso, primeiro o direito, depois o esquerdo, me deparando com um emaranhado de cabelos vermelhos esparramados sobre meu peito. Estreitei o olhar a fim de enxergar melhor, muito embora soubesse exatamente quem veria.

Sua cabeça estava em meu peito, os óculos fundo de garrafa apoiados na ponta do nariz enquanto ela ressonava. Vista daquele ângulo Viola Beene se parecia um pouco com um anjo, não que eu já tivesse visto um, mas era daquela forma que costumava imaginá-los quando era criança e minha mãe me contava histórias sobre eles.

Perguntei-me se ela estaria sonhando. E, caso estivesse, com o que exatamente sonhava.

Meus olhos perscrutaram o lugar, a única pessoa ali, além de nós dois, era a enfermeira Tabolt, que se distraía lendo um livro de bolso, provavelmente um daqueles romances idiotas pelos quais as mulheres costumam suspirar.

Meus dedos afundaram hesitantes na juba escarlate e o cheiro de balas de cereja se intensificou consideravelmente. Honestamente, Viola Beene não parecia tão ruim quando não estava mostrando os dentes e me encarando com aqueles olhos de coruja. Um sorriso brincou em seus lábios e sua mão deslizou pelo meu braço. E foi muito estranho, porque de repente uma sensação bizarra começou a se formou na boca do meu estômago.

- Beene. - chamei, antes que a coisa piorasse. Ela levantou a cabeça por um segundo apenas. - Beene. - repeti com uma cutucada em seu ombro e, fui pego de surpresa por um ronco. Ótimo. Excelente. Formidável. Além de tudo ela roncava. - Beene. - insisti, afastando-a de uma vez.

- O quê? - perguntou sobressaltada, tratando de arrumar os óculos que haviam pendido para o lado com o solavanco. - Oli você já acordou? - Seus olhos se arregalaram. Sempre se arregalavam.

Não, ainda estou dormindo. Quis responder, mas era melhor ignorar aquela pergunta idiota.

- Isto ai no canto da sua boca é baba? - Ela levou o dorso da mão à boca e se afastou, caindo de costas na cadeira ao lado.

Pelo amor de Deus. Não bastava ser estranha, chata, irritante e mais feia que a peste negra? Também tinha que roncar e babar enquanto dormia?

- É... Parece que sim. - disse meio sem jeito, encarando a mão melecada. - Eu tenho um pouco de dificuldade para respirar durante o sono, para facilitar a respiração minha boca se abre e às vezes acabo babando um pouquinho.

Me sentei na cama e levantei a sobrancelha, mau podendo acreditar na naturalidade com que ela discorria sobre sua baba.

- Um pouquinho?

- Acredita que eu costumava roncar quando criança? - Os cantos de seus lábios se ergueram. - É engraçado, não acha? O meu avô também ronca. A vovó diz que seu ronco faz a casa inteira tremer, o que é uma grande verdade.

Viola e Rigel - Opostos 1Where stories live. Discover now