1 - Despertar

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- O que vocês fizeram? – perguntei outra vez após acordar. Eu não devia estar acorda, eu sabia disso.

Eu havia visto Thales enfiar aquela espada fantasmagórica no meu corpo, eu tinha visto o que ele estava fazendo. Sugando minha vida. Ele estava sugando a minha vida para poder ter a sua de volta. Eu não iria permitir isso. Após a descoberta do que causava meus sangramentos, meu corpo entrou em um estado de colapso que parecia não ter fim. Eu não conseguia acordar, não conseguia me mover e meus pensamentos estavam mais lentos do que antes.

Eu sabia que meu corpo estava reagindo à enorme perda de sangue e que mesmo sem eu comandar, ele havia entrado em um estado de preservação. Preservação minha e de todas as Dimensões. Enquanto eu estava apagada, Thales não conseguia sugar tanto minha vida como acontecia cada vez que eu sangrava acordar. Eu me lembrava de ouvir o xingar baixo dele e tinha minha teoria para isso.

Quando minhas emoções estavam sobre controle era mais fácil de sugar minha vida, ele tinha um maior acesso a minha "fonte de energia", por assim dizer, porém, enquanto eu estava apagada, eu não tinha emoções, eu simplesmente estava ali, à deriva, e isso dificultava o trabalho dele. Talvez, sabendo disso, meu corpo havia entrado nesse estado que eu chamava de "preservação".

Eu não havia estado em completa inconsciência como todos achavam, na verdade, eu estava completamente ciente de tudo a minha volta. Eu havia ouvido cada palavra que papai falara, tudo que Damen tentara e havia sentido todos os toques de Guilherme, apenas, não conseguia responder do modo como eles queriam.

Entretanto, querido leitor, quando acordei foi como se um botão de desligar fosse acionado no meu cérebro e a maior parte das minhas lembranças foram apagadas. Eu lembrava de saber para onde estava indo quando estava inconsciente, mas com os olhos abertos eu não sabia o porquê de eu estar nesse lugar desconhecido, porque todos estavam com cara de que fizeram algo ruim e porque eu havia tido a impressão de ver Thales sair correndo rapidamente pela porta da frente. E principalmente, por que eu estava acordada.

- Alie! – disse Damen se aproximando.

- Onde eu estou? – perguntei olhando envolta, perdida.

- No castelo de Thales. – respondeu Clara com uma voz baixa e isso me fez ficar preocupada.

- O que aconteceu? – perguntei virando na direção que Guilherme estava ajoelhado ao meu lado.

- Fizemos a maior burrada de todas as Dimensões. – murmurou Clara levantando os olhos para mim parecendo sair de um transe. – Thales voltou.

Demorei um momento para entender o que ela estava dizendo. Thales voltou? Eu estava ouvindo errado, certo? Errado. Não havia sido uma impressão minha ver Thales sair correndo, havia sido verdade e eu podia ver pelo rosto de todos eles, que cada um estava apavorado, da sua maneira, mas apavorados.

Era como sentir meu sangue gelar tomar consciência dessa informação. O que iria acontecer agora? O que aconteceria comigo? O que aconteceria com Fantasiverden? O que aconteceria com todos? Eram tantas preocupações que cada poro do meu corpo estava apavorado junto com a minha mente. Senti os dedos de Guilherme se agarrarem aos meus e levantei os olhos na sua direção.

Eu estava feliz por ver o sorriso dele outra vez, poder sentir a mão dele tendo uma real consciência disso, mas eu tinha uma vontade maior de dar um soco na cara dele do que beijá-lo. Eu não precisava pensar muito para saber de quem havia sido a ideia de trazer Thales de volta, e eu não precisava ser um gênio para descobrir que Damen havia concordado prontamente.

Respirei fundo uma vez tentando por meus pensamentos em ordem, tínhamos que começar do zero.

Thales estava vivo.

Thales estava solto.

Thales ia acabar com toda a paz das Dimensões.

Não havia como se manter calma com uma situação desta! Eu queria quebrar alguma coisa de tanta frustração.

- Por que vocês fizeram isso, seus idiotas? – questionei me dirigindo a Guilherme e Damen. – Você não ouviu nada do que eu disse a você, Damen? – perguntei tirando minha mão da de Guilherme e me levantando do que parecia ser um divã. – Diga que você estava surto no momento em que falei para você que fazer isso era burrice e uma estupidez, diga que você estava com algum problema mental, porque essa é a única explicação que eu vejo para você fazer uma coisa desta! Para vocês fazerem, aliás. – disse me virando para Guilherme e Damen. – O que eu falei, Damen? Quero que repita para mim o que eu falei no dia que vocês me falaram desse plano estúpido.

- Alie, se acalme. – pediu Guilherme estendendo a mão na minha direção.

- Você, - indiquei me virando na direção dele. – se mantenha calado, porque eu sei que esse plano estúpido é seu.

Ele me olhou com os olhos arregalados e depois abaixou a cabeça.

- Vamos, Damen, me diga o que eu falei no carro.

- Alie... – começou Damen, mas levantei uma das mãos impedindo que ele continuasse,

- Quero que repita o que eu falei. – pedi olhando-a com raiva.

- Você disse que trazer Thales estava fora de cogitação, que isso seria perigoso demais. – repetiu em tom baixo.

- E o que mais? – perguntei.

- Disse que assim que o trouxéssemos, tudo estaria perdido. – sussurrou olhando para os seus pés.

- Então, por que vocês fizeram isso? – perguntei olhando de um para o outro.

Todos ficaram em silêncio, a única coisa que se ouvia era tempestade lá fora que parecia brigar com a estrutura daquele lugar. Fiquei observando os dois homens de cabeça baixa dentro daquela sala e depois me virei para Clara. Por que ela não havia impedido tudo aquilo?

- Por que você os deixou fazerem isso? – perguntei mais calma.

- Eles me garantiram que tudo ia dar certo e que Thales ia morrer para sempre desta vez. – respondeu ela dando de ombros. – Não adianta brigar com ninguém agora, temos que achar um jeito de concertar isso, Thales está soltou por aí e temos que pegá-lo antes que ele faça algo perigoso.

- Você está certa. – concordei e me virei para os dois. – Eu devia bater em vocês, mas vou precisar de vocês inteiros para ir atrás de Thales.

- Você o quê?! – perguntou Guilherme levantando os olhos para mim.

- Vamos atrás de Thales. – respondi séria.

- Você não vai atrás daquele psicopata. – disse se aproximando de mim. – Quero você o mais longe possível dele.

- Eu estaria se vocês não tivessem feito essa burrada, mas agora vou consertar isso antes que as coisas piorem. – respondi me afastando dele e indo em direção a porta do castelo. – Temos que avisar papai do que aconteceu. Ele tem que manter todos os reis em alerta por algum tempo.

Saí do castelo para o meio da tempestade, uma tempestade muito parecia com a do dia que vi Thales pela primeira vez depois da sua morte.

Coração Negro - livro 3 da serie Coração AzulWhere stories live. Discover now