4 - Coração

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- Alicia. – chamou Guilherme olhando chocado quando me virei na sua direção com o coração sangrando em minhas mãos.

Eu não tive uma reação exata quanto a isso. A única coisa que eu conseguia pensar era: tem um coração sangrando na minha mão. Esse era o único pensamento que vinha a minha mente, mas nada ocupava espaço ali. E a pior sensação que eu descobri a seguir, eu tinha gostado de sentir o coração dele bater apavorado entre meus dedos. Meu deus, o que eu tinha feito?

- Meu amor. – Guilherme se aproximou lentamente e desviei meus olhos dele para o coração que estava na minha palma.

- Oh, meu Deus. – senti meus olhos começarem a se encher de lágrimas quando aos poucos fui tomando consciência completa do que eu havia feito. – Oh, meu Deus!

- Hey, está tudo bem. – acalmou Guilherme me abraçando e tirando o coração que pingava sangue das minhas mãos. – Está tudo bem.

Deixei-o tirar o coração de entre meus dedos e segui o movimento quando ele entregou o coração para Carson. Eu não sabia se eles conseguiam ver, mas eu estava horrorizada com o que acabara de fazer. Eu não havia apenas matado, eu havia arrancado o coração de alguém.

Guilherme me puxou para os seus braços e me apertou contra o seu peito. Senti as lágrimas quentes caírem dos meus olhos e começarem a molhar sua camiseta. O que estava acontecendo comigo?

-Shh. Está tudo bem, eu estou aqui. – tentou me acalmar alisando meus cabelos.

- O que foi isso? – perguntou a voz chocada de Clara.

Ninguém respondeu. Eu não sabia que resposta dar. Eu mal estava entendendo o que havia acontecido. Uma hora eu estava do lado de fora ouvindo a conversa e então eu tinha um coração pingando sangue na palma da minha mão. O que havia acontecido? O que havia sido aquilo?

Afastei-me do corpo de Guilherme e olhei na direção de onde devia estar o corpo do vampiro. Havia apenas pó amontoado ali, mas o coração dele continuava intacto nas mãos de Carson. Senti o olhar de Damen em cima de mim e tentei evitá-lo, mas eu não consegui. Damen me olhava assustado, até mesmo com um pouco de medo. Havia sido poucas vezes que eu havia visto medo nos olhos dele e doía saber que aquele medo foi causado por mim.

- Acho melhor voltarmos para o castelo. – propôs Carson.

Voltei os olhos na direção dele e observei o coração em suas mãos. Eu ainda não conseguia digerir que eu havia arrancado aquele órgão de um corpo usando apenas as mãos. Ele deve ter percebido que eu estava encarando o coração, pois logo em seguida, ele passou reto por mim em direção a porta, tirando a fonte de vida do vampiro da minha visão. Segui o movimento de saída dele com os olhos e só comecei a me mover de verdade, quando Guilherme tocou meu braço e me deu um leve empurrão em direção à porta. Quando saímos para o beco, o céu estava mais claro e já havia alguns vampiros circulando pelas ruas.

***

- O que foi aquilo? – ouvi a voz de Clara perguntar de algum lugar próximo ao quarto que eu estava.

- Eu não sei, realmente, não sei. – ouvi Guilherme responder e pude perceber toda a preocupação na sua voz.

Assim que havíamos chegado ao castelo, eu tinha ido para o quarto me trancar sozinha. Eu não sabia o que era aquilo e não queria ninguém perto de mim no momento. Eu não estava entendo o que se passava dentro de mim. Era como se eu não estivesse mais no controle das minhas ações e tudo aquilo havia sido feito por outra pessoa. Porém, ao mesmo tempo, eu estava completamente ciente de tudo que estava fazendo. Estava ciente de um modo diferente, de um modo assustador.

Coração Negro - livro 3 da serie Coração AzulWhere stories live. Discover now