9 - Distrações

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- O que aconteceu? – perguntou mamãe quando entramos em casa e ela viu nosso estado.

- Nada. – respondi passando por ela até as escadas.

- Nada? Que nada é esse que faz isso com o seu rosto? – perguntou correndo para impedir minha subida.

- Foi uma bobagem, mamãe, um desentendimento. – respondi suspirando quando ela pegou meu rosto nas mãos e analisou meus cortes e hematomas que começavam a se formar.

- Um desentendimento? Alicia, o que aconteceu? – perguntou preocupada.

- Uma briga idiota, mamãe.

- Tão idiota que quase saí morta dela. – resmungou Clara atrás de mim e me virei fuzilando-a com o olhar.

Mamãe olhou apavorada para o rosto de Clara e se afastou de mim indo até minha prima. Ela pegou o queixo de Clara com a mão e virou o rosto da minha prima em todas as direções analisando os seus machucados. Eu podia ter umas cortes aqui e ali, mas Clara definitivamente estava pior. Ela tinha um olho um pouco roxo, não chegava a estar inchado, mas havia um roxo envolta, tinha sangue seco na sua bochecha que havia corrido do seu corte da testa e – mesmo mamãe não podendo ver – eu sabia que na parte de trás da sua cabeça havia um enorme machucado que havia sangrado fazendo seu cabelo se colar no couro cabeludo. Realmente, a briga não havia sido muito favorável para Clara.

- Quem fez isso com vocês? – perguntou mamãe parecendo cada vez mais preocupada.

- Ninguém – respondi dando de ombros.

- Ninguém? – disse Clara vindo para o meu lado. – Você quase me matou.

- Não seja exagerada. – resmunguei revirando os olhos.

- Exagero? Olhe o estado que meu pescoço está!

- Na próxima vez não me bata no rosto. – avisei apontando o hematoma que começava a se formar na minha bochecha.

- Chega vocês duas. – interrompeu Guilherme se metendo no meio e me afastando de Clara. – Vamos cuidar desses seus machucados e, Clara, você volte para o castelo.

Ouvi o bufar da Clara e então Guilherme me puxou escadas acima. Eu esperei ouvir uma bronca quando chegamos ao meu quarto. Eu esperava perguntas do que havia sido aquilo, do que estava acontecendo; eu esperava que ele quisesse explicações, mas a única coisa que ele fez foi me levar até o banheiro e cuidar dos meus machucados.

Fiquei esperando pela bronca todo o tempo que ele cuidou de mim, mas não foi dita uma palavra. Quando terminou a única coisa que fez foi encarar meus olhos como se há muito tempo não os visse de verdade.

- Eu te amo, você sabe disso, não é? –perguntou sério.

- Sim. – respondi sorrindo. – Eu também te amo.

- Eu quero me casar com você.

- Eu também quero me casar com você. – respondi tocando seu rosto sério.

- Não, Alie, quero me casar o mais rápido possível com você. – disse pegando minha mão do seu rosto.

- Eu também, meu amor, mas primeiro temos que resolver algumas coisas.

- Thales? – perguntou largando minha mão.

- Sim, Thales. – respondi levantando quando ele saiu do banheiro sem dizer nada. – Você sabe que temos que encontrá-lo antes que ele faça algo.

- Eu sei, mas você está obcecada por ele. – resmungou andando pelo quarto.

- Não estou obcecada, Guilherme. Estou preocupada. Sabe-se lá o que Thales está tramando, não podemos deixar que ele machuque mais pessoas do que já machucou.

- Essa caçada por Thales pode levar anos, Alicia. Levamos quase um século para descobrir quem era Ambika quando achávamos que ela era nosso problema, encontrar Thales pode ser muito mais difícil.

- Não vai levar anos. – afirmei. – Vou encontrar ele antes que ele se torne uma ameaça outra vez.

- Tudo bem, pode acontecer de encontramos ele em breve, mas ainda assim, não podemos deixar nossas vidas pararem porque ele está vivo.

- Sim, Guilherme, podemos deixar nossas vidas pararem, porque se não pegarmos Thales, não posso ter certeza se terei uma vida de verdade.

- Alie, você fala como se Thales estivesse com uma espada apontada para você. E se ele desistiu de ter seu coração? E se a única coisa que ele queira agora é viver? Ele sabe que você sobreviveu a Batalha Final, ele viu que nem mesmo ele sendo um Imortal pode ser mais poderoso que o Coração Azul e, além do mais, você tem a mim, lembra? Estaca de Calibrer? Só podem chegar a você se me pegarem primeiro.

- E se te pegarem? – perguntei preocupada. Thales tinha que vir atrás de mim e não de Guilherme.

- Não vão. – ele falou sorrindo convencido e me puxou pela cintura. – Vamos nos casar, Alie.

- Agora, Guilherme? – olhei meio em dúvida para ele. Casar-se no meio de todo esse caos não me parecia uma boa ideia.

- O quanto antes melhor. – respondeu beijando minha bochecha. – Você precisa de algo para se distrair, planejar um casamento pode ser uma boa distração.

- Não preciso de distrações, preciso encontrar Thales. – contrariei.

- Não, você precisa relaxar às vezes. – discordou me virando de costas e começando a massagear meus ombros. – Planejar um casamento pode ser um jeito de relaxar para você.

- Como podemos nos casar se você pode voltar a ficar sob sentença de exílio a qualquer momento? – tentei argumentar, mas um gemido escapou dos meus lábios quando ele apertou o ponto tenso na minha nuca.

- Você está tentando encontrar desculpas para não casar comigo, Alicia Faller? – murmurou atrás de mim.

- Não. – respondi puxando o máximo que eu conseguia dos meus cabelos para frente. – Estou tentando resolver tudo antes que possamos ter nosso momento no altar. Imagine o que aconteceria se a Princesa dos Dois Mundos, destinada ao trono, se casasse com um criminoso? As Dimensões entrariam em colapso nervoso, a realeza principalmente.

- Desde quando você liga para o que os outros acham? – resmungou e senti seus lábios tocar meu pescoço atrás. – Eu já falei com o seu pai.

- Meu pai? – perguntei um pouco aérea devido à massagem.

- Sim, seu pai, o Rei. – respondeu e eu podia sentir o sorriso dele contra a minha pele.

- Sobre o quê?

- Sobre nos casarmos e minha sentença.

- O que ele disse? – questionei enquanto ele descia as mãos até a minha cintura outra vez e me puxou contra o seu corpo.

- Que temos sua benção e que minha sentença pode ser paga quando tivermos Thales sobre nossa custódia, o que eu espero que seja muito em breve. – disse me virando até nossos olhos se encontrarem. – O que acha de planejar nosso casamento?

- Parece que você já resolveu tudo, não é? – comentei sorrindo quando ele sorriu vitorioso para mim. – Vou atrás de tia Bea amanhã pela manhã e começarei a ver as coisas.

Ele riu e me beijou. Afinal, o casamento iria sair independente de tudo que estava acontecendo. Uma coisa boa no meio da nossa vida cheia de problemas.

Coração Negro - livro 3 da serie Coração AzulWhere stories live. Discover now