2 - Uma parte de mim

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Quando voltei para o meu quarto, Guilherme ainda estava dormindo profundamente e me arrastei ao seu lado da cama com o máximo de cuidado para não o acordar. Quando achei que havia obtido sucesso, ele passou um dos braços pela minha cintura e encaixou meu corpo contra o seu.

- Onde você estava? – perguntou próximo ao meu ouvido.

- Fui dar uma volta. – respondi encolhendo os ombros.

- Não minta para mim, Alicia. – disse me virando na cama até estar de frente para ele. – Onde você estava?

- Por que você acha que eu estou mentindo? –perguntei sem olhar nos seus olhos.

- Porque eu conheço você e sei quando você está mentindo. – respondeu erguendo a cabeça e apoiando-a sobre o braço. – Onde você estava?

- Ok, ok! Eu fui falar com o Thales. – revelei dando de ombros.

- Por que você foi falar com ele? – perguntou preocupado.

- Precisava conversar com alguém que me entende. – falei me sentando na cama e olhando na direção da porta.

- Você pode falar comigo, meu amor. – disse Guilherme sentando-se ao meu lado.

- Não, eu não posso, você não entende o que eu passei. Você nunca sentiu as coisas que eu senti.

- E Thales já? – perguntou com um tom ciumento.

- Não sei, mas ele é o mais perto que eu tenho de alguém que sabe qual a sensação de matar por prazer. – encolhi os ombros novamente e virei na sua direção. – Eu sei que falar dessas coisas deixa você perturbado, prefiro que você não tenha mais nenhum contado com essa parte dentro de mim, mas às vezes eu me sinto sufocada de ficar reprimindo-a e falar com alguém sobre isso ajuda a aliviar esse sentimento.

Ele ficou  quieto por um instante e eu queria tanto saber o que se passava na sua mente. Minha mente me deu um cutucão dizendo que eu podia saber, bastava me concentrar que meus poderes iriam ler a mente dele, mas eu sabia que isso não era certo. Eu já havia tido minha cota de pensamentos privados invadidos no passado e isso nunca era uma boa coisa.

Quando achei que ele não diria mais nada, ele pegou minha mão e me puxou para o seu peito. Deitei minha cabeça ali ouvindo o som do seu coração. Seu coração batia ritmado e lembrei o dia que eu quase havia arrancando-o do seu peito. Estremeci com a lembrança da sensação poderosa de matar e depois de nojo por pensar que eu faria aquilo mesmo se ele não tivesse me impedido. Guilherme estreitou os braços a minha volta e senti seus lábios no meu cabelo.

- Posso não entender esse seu lado, Alie, mas ele faz parte de você e eu não posso negar isso. – murmurou com os lábios ainda no meu cabelo. – Por mais assustador que possa ser eu saber que parte de você ainda é capaz de fazer aquelas coisas, eu amo esse seu lado também. Tudo que faz parte de você é importante para mim e eu prometo que vou tentar ser mais compreensivo quanto a isso. Eu só preciso de um tempo para me acostumar com isso.

Levantei a cabeça para olhar seu rosto e sorri quando ele sorriu para mim. Ele não imaginava o quanto aquilo era importante para mim, como ele entender que aquela assassina de sangue frio sempre estaria dentro de mim era importante. Toquei seus lábios de leve com os meus e então me afastei deitando-me outra vez no seu peito.

- Papai realmente tirou a sentença? – perguntei depois de um momento em silêncio.

- Sim, agora sou um homem livre outra vez. – respondeu com um riso baixo.

- E seu cargo no castelo? –perguntei me referindo à profissão que ele tanto amava.

- Continua sendo de Ka, seria injusto tirá-lo do cargo apenas porque fui absolvido. – respondeu dando de ombros. – Mas meus títulos da Corte voltaram.

Coração Negro - livro 3 da serie Coração AzulWhere stories live. Discover now