10 - No rastro

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- Tulipas? – sugeriu tia Bea. – São lindas e não tem como errar com elas.

- Não, tulipas não. – resmunguei lembrando do meu casamento com Declan. Ele havia sido todo decorado com tulipas azuis, então, tulipas era algo que me lembrava Declan e eu não poderia ter nada que me trouxesse lembranças tristes no meu segundo casamento.

- O que você quer, afinal, Alie? – perguntou tia Bea suspirando e me olhando encostada na cadeira alta atrás da sua escrivaninha.

- Quero pegar Thales. – respondi no automático.

- Fora isso. – ela revirou os olhos para mim. – O que você quer para o seu casamento, Alie?

- Eu não sei. – respondi me encostando à cadeira e olhando para a minha tia. – Realmente não sei. Nem sei se esse casamento agora é uma boa ideia.

- Como assim uma boa ideia? Você ama o Guilherme, certo?

- Sim, eu amo, mas...

- Não tem "mas". – ela me cortou e se inclinou sobre a escrivaninha para que ficássemos mais próximas. – Se você o ama e vocês querem se casar, façam isso. Nossas vidas são cheias de tantos problemas, de tantas pessoas querendo nos destruir, cada pequena migalha de felicidade que possamos ter tem que ser agarrada com unhas e dentes.

- Eu sei disso, tia, e eu quero me casar, mas eu fico pensando se esse é o momento certo, sabe? Temos Thales à solta por aí e se ele arruinar meu casamento? E se acontecer alguma coisa conosco antes do casamento, sabe? São tantos "e se" que eu não consigo me concentrar de verdade nisso. Eu só quero que tudo seja perfeito e que tenhamos um casamento tranquilo, sabe? Sem problemas, sem Imortais psicopatas ameaçando destruir tudo. – desabafei. – Não sei o que fazer. Se dependesse de mim poderíamos esperar até acharmos Thales, mas Guilherme quer tanto isso o mais rápido possível que eu não tenho como negar.

- Alie, não posso te garantir que nada acontecerá no seu casamento, não vejo o futuro, infelizmente, mas posso te garantir isso: qualquer eventualidade que venha acontecer que não esteja planejada, vamos lidar com ela, como sempre lidamos com tudo. – prometeu tia Bea.

- Tudo bem, tia. – concordei e sorri para ela apontando as diversas pastas sobre a mesa. – Preciso de um tempo de todo esse assunto de flores.

- Vá descansar e amanhã falamos mais disso. – ela fez sinal para que eu saísse e não demorei a obedecer.

Assim que entrei no meu quarto a primeira coisa que fiz foi me jogar na cama. Eu não dormia bem desde o dia que havia matado o pai adotivo de Thales, e não era remorso que me mantinha acordada, pelo contrário. Eram os sonhos que me faziam acordar no meio da noite e não querer dormir. Os sonhos com mortes e massacres sangrentos pioravam a cada noite. Não bastava eu gostar da sensação de ter um coração entre meus dedos parando de bater, nos sonhos, eu arrancava os corações de pessoas importantes para mim. Papai, mamãe, Clara, Damen, Eric, Guilherme. Todos eles já haviam perdido o coração ao menos uma vez para mim em meus sonhos.

Eu não percebi quando peguei no sono, mas o que eu esperava não aconteceu. Os sonhos não começaram, pelo menos, não os sonhos que me impediam de dormir. Eu nem sabia se realmente estava sonhando, parecia tão mais real que tudo que eu já havia sonhado que fiquei imaginando se eu não deveria ter perdido o controle outra vez e o eu de olhos negros não assumiu o comando.

Eu estava em um quarto escuro. Eu podia sentir a umidade grudando na minha pele e o cheiro de mofo misturado com um perfume, o perfume eu reconheceria em qualquer lugar. Senti aquele meu impulso de tocar o dono do perfume como já havia feito antes, mas ele não estava ali, ao menos, eu não o estava vendo.

Coração Negro - livro 3 da serie Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora