Self-titled

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  Pov Liam

O problema é que nunca conseguimos esquecer alguém que fez parte de nossas vidas, de fato. Se esse alguém fez você sentir algo que nunca sentiu antes, então a probabilidade do esquecimento cai para porcentos inimagináveis. Então, devemos buscar outras alternativas para seguir com a nossa vida. Ou, às vezes, nem mesmo querer segui-las.

Eu fui bem menos radical: escrevi um livro. Se você é um poeta nato, um depressivo em decadência ou um futuro professor de línguas, bem, esta é a decisão menos radical e mais sensata a se tomar. E eu a tomei. Simplesmente porque criei um fascínio absurdo sobre lobos e suas regras particulares de convivência. Não os lobisomens propriamente ditos, mas sim os reais caçadores quadrúpedes.

Eu quis ver como se comportavam, eu comprei livros em que eram citados, desde O Almanaque dos Lobos - onde aprendi sobre sua cruel nutrição carnívora - até Chapeuzinho Vermelho, a história de um lobo bípede pedófilo que perseguia uma criancinha pela floresta, que só queria, inocentemente, levar alguns agrados à sua avó adoentada.

E, como na maioria dos contos de fada, o bem prevalece, enquanto o mal é baleado por algum caçador, ou tem sua barriga costurada com pedras no interior, ou é nocauteado pela própria Chapeuzinho Vermelho e sua avó. Mas é um final justo, de fato. O lobo era exatamente o que chama-se de "mau".

Mas...e Zayn? Seria ele o mal exato em minha vida? Se era ele o mal, então Tom seria o que chama-se de bem? Essas perguntas perturbaram, e ainda perturbam-me constantemente, e foi assim durante todos os anos em que estive deitado na mesma cama que Tom, me perguntando qual o fim que Zayn havia levado.

Sim: um fim. Era o que eu, no decorrer dos anos, passei a cogitar. Via Zayn sendo capturado em pesadelos, com partes de seu corpo sendo desmembradas enquanto não ouvia-se som algum, apenas a eterna angústia muda que eu carreguei em meu peito enquanto fingia estar feliz ao lado de Tom. Por todas essas traumáticas visões, acabei adquirindo um medo muito peculiar ao escuro, uma coisa que certamente não precisei enfrentar quando criança, e nem mesmo na adolescência. Por isso, sempre que escrevo à noite, ainda mantenho todas as luzes da sala ligadas, inclusive a luminária. É algo com que tenho sido obrigado a lidar, mas nada que um bom gole de whisky (um outro hábito que adquiri) não afaste para longe.

Mas há um lugar, um único lugar em toda Londres em que não preciso de whisky para me manter afastado de agouros ou visões: é McCoy's, a editora que está prestes a publicar o meu primeiro - de muitos, espero eu - romance. Eu realmente me sinto em casa quando me debruço diante de todos aqueles papéis e despejo toda a minha insônia criativa sobre eles enquanto defino os últimos retoques a serem dados no livro antes de todo o processo de edição e, futuramente, a publicação.

Porém, com o prazo da entrega oficial do manuscrito cada vez mais se encurtando, eu não tive muita coisa pra modificar em tão pouco tempo, então acabei enviando-o ainda na meia-noite de segunda-feira. Contudo, eu esperava ter uma sonolenta manhã de sono, mas não foi isso que eu confirmei ao receber um telefonema às 7:00 da manhã.

- Alô? - perguntei, sem nem mesmo verificar quem poderia ser. Imaginei que fosse, a julgar pela hora, Tom e suas desilusões matinais sobre como não me acordar emburrado com um "Bom-dia, Lee!" antes de ir ao seu treino matinal de natação. Evidentemente, ele estava errado, pois eu não sou muito fã de ser acordado por telefone.

- Alô, Liam, bom dia pra você. Espero que tenha um bom dia depois que receber a minha cabeça esquartejada pelo correio brevemente.

- Ah, oi, Berta... - não pude evitar um riso. Era Berta Ullinger, a secretária do senhor McCoy, o dono da editora. Ela tem um humor um pouco melodramático, e talvez seja por isso que eu a considero uma ótima amiga. Escritores tendem a ter um estranho afeto à melancólicos, hippies e psicopatas, eu acho.

Dear Werewolf || Ziam Mayne FanfictionOnde as histórias ganham vida. Descobre agora