Clyde & Clyde - Part I

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Do alto do telhado de um subúrbio Cidade do México, com o pôr-do-sol banhando de dourado seus longínquos pensamentos, Zayn observava o ambiente ao seu redor, como se estivesse realmente prestando atenção em todas aquelas casas amontoadas, uma em cima da outra. Ele nunca pensou que moraria ali, mas ali estava ele. Seria a maior reviravolta de sua vida, se sua vida não estivesse suficientemente revirada.

Da sacada do sobradinho em que agora vivia, Liam observava Zayn. Ainda não parecia ser verdade. Ainda não acreditava que já fazia uma semana desde que fugira de Londres com um lobisomem ao seu lado, com todo o dinheiro que tinha em conta para morar em um quarto de pensão com a pessoa que mais amava no mundo. A pessoa que havia inspirado seu primeiro livro continuava a mesma pessoa que agora fumava um cigarro no telhado da pensão vizinha e mantinha um olhar distante, mas terrivelmente sexy.

Liam sentia que devia ir até lá, sabia que havia algo de errado, queria consolá-lo, conversar com ele, ou simplesmente tocá-lo. Mesmo depois de sete noites dormindo ao lado dele, pareciam que nenhuma delas fora suficiente para apagar os resquícios de saudade que ele ainda sentia. Ainda se sentia mal pela maneira como a despedida pareceu injusta com Tom, mas reafirmava para si mesmo que não deveria sentir remorso e que havia agido certo. Ele nunca seria feliz sabendo que o amor de sua vida, por mais que o tempo que tenha passado, retornara e estava agora disposto a levá-lo consigo, para viverem bem longe dali, escapando da vingança que o pai de Zayn certamente planejava. Tudo parecia perigoso, mas Liam não pôde conter o impulso de fugir com Zayn. As circunstâncias não importavam, contanto que estivessem juntos.

Liam também não resistiu ao impulso de ir até ao namorado, tentando fazer o mínimo barulho possível, porém nunca fora bom em situações que envolvessem equilíbrio, e acabou afastando algumas telhas do lugar.

- Nossa, você é tão discreto e silencioso. - zombou Zayn, permanecendo de costas enquanto admirava o horizonte. O sol já não estava mais ali, e o céu oscilava entre o alaranjado resquício solar e o azul-marinho que anunciava a noite. - Já havia te notado desde que você saiu da sacada, e nem é preciso ter uma audição aguçada pra perceber que você não é um daqueles ninjas que agem na surdina.

- Tá legal, já entendi que não sou bom em fazer surpresas. - disse Liam, sem graça, sentando-se de lado do amado.

Vislumbrando as tatuagens pelo peito nu de Zayn, Liam admitiu para si mesmo que nunca se cansava delas. Ele também conhecia muito bem o shorts preto que Zayn usava, e seu inconsciente fazia-o sentir vergonha de seus próprios pensamentos eróticos ao questionar se ele estaria usando cueca por baixo. Um movimento das perna de Zayn respondeu involuntariamente que não, fazendo a respiração de Liam ficar meio alterada, mas ele conteve-se (era difícil, já que o maxilar barbudo de Zayn se contraía enquanto ele fumava), pois notou que o namorado parecia preocupado.

Ficaram ali, em silêncio por um tempo, e já havia algumas estrelas no céu quando Liam decidiu perguntar:
- Você parece preocupado, Zayn. Eu fiz alguma coisa que te deixou chateado? Você 'tá' arrependido? Quer voltar pra Londres? A gente dá um jeito, eu posso...

- Você? - interrompeu Zayn, incrédulo. - Liam, não, de maneira nenhuma, não! Você é a melhor coisa que me aconteceu, está me ouvindo? Eu nunca me chatearia com você. - Zayn acariciou a nuca dele com a palma dos dedos ásperos, causando uma combustão espontânea no baixo ventre de Liam.

Tentando se recompor com a declaração inesperada, Liam continuou:
- Então, por que você 'tá' assim? Você está tenso desde que acordou. - Zayn deu mais uma tragada no cigarro e, respirando fundo, disse: - É ele, Liam. É sempre ele. Estou preocupado com o que ele possa estar planejando.
- Mas desde que nos mudamos para cá, tudo parece tão calmo. Perdemos todos os nossos contatos em Londres, nem mesmo a Becca sabe da nossa localização.
- É exatamente isso que me preocupa: esta tudo muito calmo.

- Não se preocupa, Z. A gente 'tá' seguro aqui no México. Eu até estou começando a amar comida apimentada! - disse Liam, e foi a primeira vez que Zayn riu desde que se sentara naquele telhado.

- É, eu vi o quanto você se amarrou naqueles nachos. Você comeu como se não houvesse amanhã!

- Haha, engraçado. Isso por acaso é uma indireta pelo fato de eu estar gordo?

- É.

- Seu cretino! - gritou Liam, batendo forte no peito de Zayn, fazendo-o rir outra vez. - Eu não estou gordo, isso é só aumento de massa muscular, pare de reclamar!

- Não estou reclamando. Você sabe que lobos gostam de sua presa, digamos, bastante suculenta. - disse Zayn, colocando um sorriso sem graça no rosto de Liam, porém este não se deu por vencido:

- Presa? Tem certeza? Vou te mostrar quem está por baixo dessa nossa cadeia alimentar. - e, dizendo isso, Liam postou-se no colo de Zayn, alcançando sua mão direita e apanhando o cigarro, arremessando-o longe. A ousadia de Liam parecia ter surpreendido o moreno, mas de uma forma boa, já que ele não hesitou quando Liam colocou seus dedos ligeiros dentro do short de Zayn, constatando que, de fato, não havia cueca ali.

- Liam... -
- Shh! Você está me provocando desde que começou a fumar nesse maldito telhado. Não suporto ver você fumando, é tão...oh, porra! - Liam tentava conter o vazamento de seus pensamentos mas, naquela aura de tensão sexual, parecia impossível.
- Estamos num telhado, Liam...ainda não é noite e alguém lá em baixo pode nos ver!
- Contanto que não possam te tocar...por mim, tudo bem. - disse Liam, iniciando um contato visual com Zayn que indicava que ele não iria parar, não importando o que o outro dissesse. Zayn, por sua vez, cansou de ser do contra, e fechou os olhos quando a mão de Liam foi ainda mais fundo e agarrou o seu membro pulsante.

Enquanto o masturbava, Liam avançou mais pra frente, para poder encostar a boca ofegante de Zayn na sua, atribuíndo mais fogo àquela ação. Zayn agarrou a nuca de Liam e puxou os cabelos próximo dali de maneira rude, batendo na nádega dele com a outra mão em seguida. Liam arfou durante o beijo, e evitava gemer para não chamar atenção, o que foi um ato extremamente difícil de ser executado.

Zayn, por sua vez, não conseguiu não sussurrar no ouvido de Liam:
- Oh, Liam...olha o que você 'tá' fazendo comigo, cara...olha o quão duro você 'tá' me deixando!
- Você...gosta disso? - sussurrou Liam de volta, de uma maneira que soou tímida e provocante ao mesmo tempo.
- Se eu gostei? Você só pode estar brincando! Continue, baby, apenas continue!

Liam continuou sem parar, com as duas mãos completamente por dentro do short, massageando as bolas de Zayn com uma das mãos, enquanto a outra se dedicava a fazer movimentos intensos em seu pau.

- Eu quero tanto te foder, tanto...você não faz ideia do quanto. - sussurrou Zayn, em resposta ao aperto que Liam deu em sua glande. - Se eu soubesse que você era tão bom com as mãos quanto com o rabo, teria deixado você me punhetar mais vezes.

Aquelas palavras deixavam Liam muito tímido, mas em "ponto de bala" mesmo tempo. Mais excitação só fazja com que ele aumentasse ainda mais a velocidade em suas mãos, fazendo com que Zayn apertasse a sua nuca com mais força em resposta ao prazer.

- Liam...você, você vai me fazer gozar...! - disse Zayn, depois de quase uma hoeae meia de masturbação. As estrelas, inclusive, já podiam ser vistas e alguns carros trafegando na rua lá embaixo. Sorte deles a pensão ser bem alta, além do telhado bastante resistente.

Liam, por sua vez, ou não ouviu o que Zayn havia dito ou realmente queria fazer com que Zayn chegasse ao seu ápice. Diminuiu um pouco a velocidade da masturbação para admirar os braços tatuados de Zayn, que agora tinha mais pelos do que o normal, indicando o estado de "meia-transformação" que Zayn adquire durante a alteração de seus batimentos cardíacos. Para ele, pelos nunca foram um problema, tanto é que sua barriga sempre manteve uma quantidade bastante considerável de pelos, sem contar seus pelos pubianos, é claro. De certa forma, aprendeu a admirar os pelos de Zayn, que aumentavam ainda mais quando ele enfurecia ou quando estavam transando. Isso lhe assegura que Zayn estava excitado, com o coração acelerado, portanto estava gostando.

Também adorava o suor de Zayn, mesmo que jamais confessasse aquilo em voz alta. Era testosterona, adquiria ainda mais masculinidade à aparência feroz de Zayn, "além de agridoce", pensava, sempre que se atrevia a experimentar o sabor daquela pele quente e totalmente exposta para ele. Liam havia se tornado selvagem também (ou talvez sempre fosse, mas jamais tivera a oportunidade de realmente demonstrar antes de Zayn aparecer), e tinha orgulho disso.

- Liam, eu vou...eu vou gozar, é serio!
- Que assim seja, então. - disse Liam, despertando de seus pensamentos e aumentando a velocidade de seus dedos outra vez, também suando, também arfando. A ideia de proporcionar prazer à Zayn lhe parecia surreal.

- Liam, seu...puto - foi a última coisa que Zayn disse, antes de investir contra Liam e agarrar a carne macia entre o ombro e a nuca dele, não tão forte, apenas o suficiente para fazer com que Liam arquejasse tanto quanto ele. A leve mordida, no entanto, fez com que Liam sentisse que havia acontecido algo perigoso, mas extremamente excitante.

Zayn havia jorrado por toda a mão de Liam, ele podia sentir entre seus dedos o líquido quente que, no ápice daquela selvageria, lhe parecia tentador. Foi por isso que Liam fez uma pergunta, sem total pudor ou intimidação:
- Posso provar?
- Hein? - Zayn ainda parecia atônito depois de Liam o ter feito gozar somente com uma das mãos. Ninguém nunca, em toda a sua vida, havia lhe proporcionado tamanho prazer.
- Eu posso te...provar? - perguntou Liam novamente, já não tão seguro como antes.

- Eu, é...Liam, você não pode fazer isso comigo, cara! Você "me fode" com uma das mãos e depois pergunta se pode provar minha porra? Você vai acabar me matando! - disse Zayn, bagunçando os cabelos em total confusão.

Liam entendeu como um sim, por mais atordoado que o namorado parecesse. Introduziu um dos dedos na boca, provando de leve o que nunca antes havia provado. Não lhe pareceu a melhor coisa do mundo, mas como era quente e era algo que havia conquistado por seu "próprio mérito", não hesitou em provar novamente.

- E...então? - perguntou Zayn, e só então Liam percebeu que ele transmitia curiosidade.
- Tire suas próprias conclusões. - disse Liam, impulsionando o corpo para que pudesse se atracar com Zayn em um beijo quente, fazendo com que Zayn sentisse o próprio gosto. Ele pareceu ter aprovado, pois abriu os olhos de maneira demorada para encarar o garoto surpreendente que estava bem próximo do seu rosto

Zayn disse, por fim:
- Tem gosto de mim na sua boca e, nossa, eu repito: você é a melhor coisa que já me aconteceu. - Liam riu com aquela declaração. Riu porque Zayn sempre seria esse selvagem romântico, fazendo-o se sentir amado ao mesmo tempo em que suas bochechas ruborizavam. Riu porque já não havia mais inibição que fosse suficiente para mantê-los separados. Riu porque estava, de fato, feliz ao lado de quem jamais deveria ter saído.

/----/

- "Hello?"- Liam riu anasalado por finalmente poder ouvir aquela voz tão familiar. Ele achou que parecia um pouco mais madura, mas talvez fosse pelo fato de não a ouvia há um bom tempo, precisamente três meses atrás, quando Liam havia decidido fugir com Zayn.

- Stephen, sou eu, Liam.
- "Quê? An? Mas...Oh. meu. Deus. Leeeeyeammm!" gritou a voz do outro lado do telefone. "Liam, você vai me matar do coração, meu Deus, onde você está? Eu comecei a achar que você tinha morrido, Tom simplesmente veio deixar suas coisas e só me contou que vocês terminaram, olha, até suas cuecas e meias sujas estão por aqui, e não pense que eu vou lavá-las, porque você realmente...-

- Stephen, por favor, me escuta, eu preciso que você-
...você não merece o mínimo de preocupação que eu esboço por você, Payne, você realmente é uma vadia inconsequente, nem mesmo os seus tios sabem do seu paradeiro e não pense que eu não fui até ao interior atrás do seu paradeiro porque sim, eu fui! Eu até mesmo perguntei pro Horan, mas ele sabe tanto quanto...-
- Stephen, eu estou tentando falar com você-
- ...e Harry e Louis nem moram mais por lá, Devine disse que soube que eles haviam se mudado, mas eu não entendo porque, já que eles-
- STEPHEN!!! - gritou Liam, perdendo a paciência e atraindo a atenção de alguns cidadãos que passavam por ali. Digamos que um orelhão público não seja o melhor lugar para gritar ou usufruir totalmente de privacidade.

- "Ai, o que foi, não precisa gritar!!! Eu estou aqui, preocupado, sem notícias suas, tem noção de que a última vez que nos vimos foi na coletiva de imprensa do pré-lançamento do livro, Liam? Três meses, Liam! Três meses sem notícias suas. Me conta, como você abandona o projeto da sua vida pra simplesmente sumir do mapa? A polícia foi acionada pelo pessoal da editora, queriam saber de você, você apareceu nos jornais, nos noticiários de TV, seus fãs continuam apreensivos sem saber do seu paradeiro - VOCÊ TEM FÃS, LIAM!!! E QUANTO A CONSIDERAÇÃO, LIAM, SERÁ QUE VOCÊ POSSUI ALGUMA?" - gritava Stephen, e, ao dizer isso, acabou atraindo a atenção de Liam. - "Eu e toda a Londres pensávamos que Tom sabia pra aonde você tinha ido, claro que foi chamado pra depor, mas a polícia constatou que ele era inocente, o que pra mim não me pareceu certo, eu achei que ele foi suspeito por um tempo, mais depois desencanei, ele não sabia do seu paradeiro, mas eu continuei pressionando ele para -"

- Ok, ok Stephen, chega, eu já entendi que fui um cretino e que eu estou na lista de pessoas desaparecidas. Tanto faz! Mas eu preciso que você me escute, porque você é o único que pode me ajudar no momento.
- "Eu não sei se deveria te aju-"
- Porra, Steph!!! Colabora, escuta o que eu tenho pra dizer! - gritou Liam. Aquela conversa não estava fazendo muito bem para os seus nervos, além de fazê-lo se sentir mal por ter desaparecido sem deixar rastros.
- "Tudo bem, Payne. Me diga o que você tem para me dizer!"

- É o seguinte: estou com Zayn, subúrbio da Cidade do México.
- "O quê? México?!" - Stephen não se conteve ao ouvir que o amigo estava, praticamente, do outro lado do mundo.
- Estamos fugindo do pai dele, Yasser Malik, chefe de uma das maiores alcateias politicamente corretas do mundo, e ele quer Zayn morto simplesmente porque ele renunciou ser o sucessor do pai, além do fato de estar apaixonado por um humano que, no caso, sou eu. Estamos por aqui e não pretendemos voltar nos próximos cinco anos, porque, a essa hora, Yasser já sabe que Zayn está comigo e deve estar investigando nosso paradeiro.
- "Meu Deus, mas como você foi se meter-"
- Isso não é tudo, Stephen - Liam continuou a interromper, pois não queria aguentar outro surto do amigo - Todo o dinheiro que eu possuía em conta, mesmo com tantas economias, acabou se esvaindo. Estamos correndo risco de perder nosso quarto na pensão e, se não pagarmos em sete dias, estamos fora. Despejados.
- "Oh, Liam, eu gostaria muito de poder te ajudar, mas mal tenho dinheiro pra pagar o meu apartamento. Seus tios, é, eu vou procurá-los e-"

- Não, não, não, Stephen! Ninguém pode saber que eu estou por aqui, nem que falei com você! Ninguém, está me ouvindo? Ninguém! Todos correm risco se souberem demais, e eu também já abusei demais do meus tios, eles já fizeram muito por mim. Procure Berta. Roberta Ullinger, ela é secretária da editora em que meu nome foi publicado, olhe as referências no verso do livro e pesquise na internet a localização da editora.
- "Certo."
- Chegando lá, diga a ela para transferir uma boa quantia em dinheiro das vendas do livro para a minha conta, ela sabe qual é. Vou que desligar, tenho menos de duas moedas agora.
- "Okay, farei isso. Vai dar tudo certo, amigo. Desculpe por ter agido dessa maneira, eu só estava sentindo muito a sua falta..." - confessou Stephen, fazendo com que os olhos de Liam lacrimejassem.

- Eu estou morrendo, morrendo de saudade de você também, Steph. Eu prometo que vamos nos ver qualquer dia desses, prometo.
- "Escuta, posso contar pra Frank no mínimo que você está, sei lá, vivo?"
- Frank? Ele está em Londres agora?
- "Sim, a faculdade dele fica aqui."
- Wow, então quer dizer que vocês estão namorando?

-" Namorando? Quê? Não? Nós só...nos encontramos de vez em quando. Nada serio. Não, não sei, só casualmente,enfim. Sei que não é pra sempre. Eu acho. Nós transamos com frequência! Pronto, e é isso!" - respondeu Stephen, desconcertado. "Enfim, você tem que desligar, não é? Então, até logo. O mais logo que você puder, por favor!"

- Espera!
- "O quê?"
- Antes de você ir, será que você poderia...gravar um recado? É para os meus fãs. Sinto que...preciso me justificar com eles.
- "Essa é a consideração que eu estava esperando de você, Liam. Esse é o meu melhor amigo! Ótimo, liguei o gravador, então. Pode falar!"

Liam inseriu mais uma moeda na máquina, a última. Gostaria de ter tido mais tempo pra pensar em um discurso, porém respirou fundo e começou a falar:

- Meus queridos fãs. Eu gostaria de dizer a vocês que estou bem, talvez até melhor do que eu já estive. Lembram do livro, "Querido Lobisomem"? Talvez vocês achem que seja fictício. Talvez seja. Mas e quanto ao amor, presente em todos os romances? Seria ele fictício? O livro fez vocês refletirem sobre isso? Porque eu espero que sim. O que estou querendo dizer é que não importa se o seu amor é diferente dos outros, não importa o quanto estranho ele possa parecer. Ele sempre será um amor. E eu gostaria que vocês soubessem que eu estou vivendo o amor, da forma mais estranha possível. Porque, quando se ama, nada além disso realmente importa.
"Jamais desistam de lutar, amem juntos ou até mesmo sozinhos, contanto que ame. Ame, mesmo que não seja correspondido, ou que não seja pra sempre. Ame a sua família, seus amigos, ou até a si mesmo. Acreditem no amor, agarrem a menor chance possível, mas agarrem. Porque, quando você deixar de acreditar no amor, você terá se tornado a verdadeira definição de 'estranho'".

Exatamente assim que terminou de dizer tais palavras, a máquina anunciou que precisava de moedas para continuar a ligação. Ele não tinha mais moedas, nem mais nada para dizer. Torcia para que Stephen tivesse gravado tudo. Torcia para que Berta conseguisse o dinheiro que eles precisavam. Torcia para que não os encontrasse, e torcia mais ainda para que os leitores entendessem o que ele dizia, ou sentia. Caso entendessem, então aquela moeda não teria sido gasta em vão.

/----/

Uma semana havia se passado, e eles estavam tomando café-da -manhã (tudo o que conseguiram com alguns trocados foram dois ovos e pães não tão frescos, além de uma caixa de leite - também não tão fresco - que havia na geladeira) na corda bomba que era o último dia em que passariam naquele quartinho. Havia boas lembranças ali, afinal de contas. Muitas, já que o compartilhavam desde que decidiram fugir para o México.

Nada de Berta. Nada de dinheiro. "A editora está puta com você, Liam. O presidente da editora, Mr. McCoy, moveu uma ação judicial pelo seu 'descaso' com as regras do contrato, e conseguiu os direitos autorais do livro somente pra ele. Você perdeu tudo, Lee"; foi o que Liam ouviu, quando entrou em contato com Stephen pela segunda vez. Achara injusto, já que ele era quem tinha sido o autor do livro, e não eles. Mas também achara injusto a maneira como ele agiu com a editora, abandonando o trabalho assim que o manuscrito estava pronto.

Zayn, por sua vez, demonstrava-ae bastante irritado, talvez pelo sentimento de impotência. Não parava de caminhar de um lado para outro e nem mesmo havia tocado no café-da-manhã.

Por fim, pareceu ter uma ideia, que ocasionou em grande discussão naquela manhã:
- Eu vou roubar.

- O quê? - essa foi a primeira reação de Liam; A segunda veio logo em seguida: - 'Tá' maluco? Roubar? Você tem noção do que acabou de dizer? Eu não vou deixar você fazer isso!

- Estamos quebrados, Liam, quebrados! Não cabe a você deixar ou não.
- Então cabe a você ir pra cadeia enquanto eu fico perambulando pelas ruas da Cidade do México, mendigando? - rebateu Liam, visivelmente ofendido. - Roubar não é uma opção, Zayn!

- Você acha mesmo que policiais sejam capaz de me pegar? Eu sou um lobisomem, Liam! Pra alguma coisa essa merda tem que servir! Eu já roubei muitas vezes e garanto a você que nunca fui pego.
- Tá, Zayn, então o que acontece se esse "nunca" virar "uma primeira vez"? Não dizem que há uma primeira vez pra tudo? Você é um lobo, não o Superman: Lobisomens não são imune a balas. E quanto a exposição? Você quer virar uma fera na frente de policiais e acha que eles não vão notar? Quer ser o protagonista de uma lenda urbana? Porque é isso que 'tá' me parecendo! E quanto a honestidade? Eu achei que você tivesse uma boa conduta.

- E eu achei que você estaria do meu lado pro que der e vier. - respondeu Zayn, a voz guardando um certo rancor. - Você já aceitou fugir comigo, quer dizer, você agora é um foragido. O que mais você tem a perder?
- Não vou roubar com você. - disse Liam, firme.
- Então eu irei sozinho.

- Então é aqui que a gente termina. - talvez, pela cabeça quente, Liam não tenha medido o peso de tais palavras. Zayn e ele se encararam por muito tempo, e ali estavam duas almas vulneráveis e magoadas, cada qual com diferentes fraquezas. Ambas se amam, mas as circunstâncias insistem em separá-los.

O som de batidas na porta quebrou o silêncio dos dois. Só podia ser a dona da pensão, Mrs. Juarez, uma velha magra que não falava inglês fluentemente e era extremamente arrogante com os hóspedes endividados.

- Certo, então, se assim que você quer. Arrume as malas rápido, vamos ser despejados. Eu vou atender a porta - ordenou Zayn a Liam, que prontamente pôs-se a arrumar as malas, que certamente o ajudariam a se distrair e afastar os pensamentos da primeira discussão que teve com Zayn desde que estiveram juntos. Seria dias difíceis a partir do momento em que fossem despejados, mas eles superariam, pensou Liam.

- Liam! Vamos cair fora logo! - Liam ouviu Zayn gritar da porta, e agradeceu por não terem nada além de uma mala cheia de roupas. Estavam sujas, mas eles não teriam dinheiro para lavanderia daqui pra frente, então teriam que se acostumar.

- Estou indo, Zayn! - respondeu Liam, quando fechou o zíper da mala e dirigiu-se a porta do quarto. Estava tendo certa dificuldade em carregar a mala sozinha. - Pronto, acho que está tudo aqui, acho que po- AAAAAAH!

Liam não teve outra reação senão gritar, e quase foi ao chão, tal qual o corpo que estava postado aos pés de Zayn. Era magro, possuía cabelos grisalhos e estava espalhado pelo tapete do quarto, desacordado.

- Zayn, o que você-- VOCÊ MATOU A SENHORA JUAREZ!!! - Liam não podia acreditar no que estava vendo; cenas horríveis dele e Zayn em penitenciárias diferentes, distantes um do outro apareciam em sua mente. O outro, por sua vez, girava uma chave no dedo indicador, como se nada houvesse acontecido.

- Eu não matei ela, foi só uma rasteira, ela apenas bateu com a cabeça. A diaba é difícil, não vai morrer assim tão fácil. Mas ela é bem burra também, andava com alguns trocados e a chave do carro na bolsa. Me entrega a mala, você vai até a garagem e liga o carro, eu vou descer pelo telhado e te encontro na frente da pensão ao lado.

- O quê? Você, eu...eu não vou roubar um carro! - Liam ainda tentava processar o acontecido em sua cabeça. Parecia tudo tão corrupto, e ao mesmo tempo tão bem executado. Não conseguia aceitar o fato de que seu noivo era um bandido nato.
- Sem essa, Lee. Já aconteceu. Quer ficar e se entregar pra polícia? Ótimo, muito leal da sua parte. Mas e nós? Então tudo isso vai ser em vão? Essa velha extorquiu todo o nosso dinheiro nos últimos três meses, nada mais justo do que extorquirmos ela também. E, tecnicamente, eu já roubei o carro, você só precisa ir lá e ligá-lo.


O fato de Zayn agir como se estivesse fazendo compras em um supermercado não facilitava as coisas com Liam, que parecia apavorado com a ideia de roubar um carro.
- Você...você disse que não íamos roubar nada.
- Não me lembro de ter dito isso. Achei que nossa discussão havia acabado. - disse Zayn, passando por cima do corpo ao chão para se aproximar do futuro noivo e segurar o rosto dele em suas mãos. - Escuta, Lee, estamos nessa juntos, esqueceu? Isso é só uma fase, tá bem? Logo, logo, tudo isso vai ter passado e não precisaremos mais roubar, nem fugir, nem nos esconder. Estaremos casados, vivendo uma vida tranquila em alguma casa no meio de uma floresta, só eu e você. Faça isso por nós, ok? Não, por mim, nem por você. Por nós.

- Mas, Zayn...eu nem sei qual é o carro da Mrs. Juarez.
- É um Del Rey vinho, meio velho, o único na garagem. Ela sempre estaciona ele no canto direito.
- Andou espionando a velha??? - perguntou Liam, incrédulo. - Que tipo de stalker é você? Como assim, você sabe até o canto em que ela estaciona?!

- Seu noivo tem habilidades que você até desconhece que existam. - disse Zayn, e com um beijo lento nos lábios de Liam, aproximou-se do parapeito da janela. - Te espero lá em baixo. - e, dizendo isso, pulou em direção ao telhado vizinho.

Agora eram apenas Liam, a chave de um Del Rey e um corpo jogado no chão. Apreensivo, achou que devia ao menos posicionar a pobre coitada em um lugar mais descente do que o chão, e arrastou o seu corpo pesado para a cama bagunçada em que dormiu com Zayn na noite anterior. Depois disso, molhou o rosto na tentativa de superar o nervosismo, mas de nada adiantou. Por fim, respirou fundo e posicionou-se do lado de fora do quarto e desceu as escadas que levavam à recepção.

Lá, encontrou Francisco, o recepcionista com quem simpatizara desde que havia chegado ali. Era uma ótima companhia quando Zayn saía pra comprar comida e Liam esperava do lado de fora. Seu inglês era muito bom, mas falava o suficiente para criarem uma relação de amizade nos últimos dias.

- Bom dia, senhor Payne! Vai passear? - perguntou Francisco, sempre cordial.
- Er...sim! Sim, passeio, é, vou passear. - respondeu Liam. "Não me diria isso se soubesse que meu noivo desmaiou sua mãe com um único golpe, nem se soubesse que estamos fugindo no carro dela, sem pagar o que devemos", pensou ele. - Hasta luego, Francisco.

Liam correu em direção a garagem, a chave tremelicando entre os dedos, os olhos buscando por um carro de cor vinho. Encontrou-o exatamente no canto direito, a porta que abria para o banco do motorista rente a parede. Entrou pelo banco do passageiro, e de lá já colocou a chave na ignição.

O carro ligou quase que imediatamente, apesar do motor soasse como se estivesse uma pessoa estivesse com algo preso em suas estranhas, pronto para vomitar. Liam manobrou o carro até a porta do estacionamento, acelerando com tudo na intenção de sair logo dali.

O manobrista que estava na garagem notou que havia algo de errado, já que alguém que não era Mrs. Juarez estava no carro dela, dirigindo de maneira suspeita. Ele tentou parar o carro batendo na lataria e gritando algo inteligível, mas Liam foi mais rápido e derrapou com o carro na direção da porta de saída, quase batendo em um carro que vinha na direção contrária. As pessoas nas ruas notaram o desespero do manobrista, que gritava e apontava para o Del Rey, e logo uma pequena aglomeração começou a se formar, com algumas pessoas emergindo dela para tentar conter o suposto ladrão. Dentre essas pessoas, estava Zayn, correndo o mais rápido que pôde com a mala em suas mãos, na intenção de entrar no carro pelo banco do passageiro.

Liam se antecipou e abriu a porta urgentemente para que ele pudesse entrar e Zayn, com um pulo sobrenatural, entrou no carro e fechou a porta com tanta força que o carro inteiro se chacoalhou.
- Vai, vai, vai!!! - gritou Zayn assim que entrou no carro, e mesmo sentindo muito medo, Liam manteve-se calmo e pisou fundo no acelerador, rumo à multidão. Como ele previa, todos se afastaram rapidamente, e ele praticamente deslizou rua abaixo, saindo com toda velocidade do subúrbio da Cidade do México para tomar a avenida mais próxima como caminho.

Quando estavam longe o bastante para comemorar, Zayn não se conteve e agarrou o rosto do namorado, beijando-o com tanta força que Liam teve de manobrar o carro para que não saíssem do trajeto.
- Você. Foi. Incrível!!! - gritava Zayn. - Caímos fora, Liam! Você foi brilhante! Não sabia que você dirigia tão bem assim!
- Não sabia que eu era tão criminoso assim. - disse Liam, mais pra si mesmo do que pra Zayn. - O que eu meu tornei, Senhor? Eu roubo carros. Eu avanço contra pessoas. Eu sou um cúmplice!

- Sim, não é demais??? Igualzinho ao GTA! Quer dizer, não, não é nada legal, nem igual ao GTA... - corrigiu Zayn, quando Liam fez uma careta tão intimidadora que ele não foi mais capaz de demonstrar sua excitação. - O importante é que conseguimos, Liam. Nos livramos de toda aquela dívida.

- É, mas e agora, o que vai ser? Onde vamos dormir, onde vamos morar e o que vamos comer? Continuamos no zero, Zayn!
- Vamos dar um jeito, Liam, assim como acabamos de fazer. - "Assim como, roubando???", perguntou Liam, mas Zayn fingiu não ouvir. - Ainda temos alguns trocados que encontrei na bolsa da velha, acho que dá pra tomarmor um café-da-manhã no mínimo descente. O resto a gente vê depois.
- Acha que é seguro pararmos? A polícia já deve ter sido acionada!
- Tem razão, não vamos parar aqui no Centro. Saia da cidade, não vamos mais ficar por aqui. A gente come em algum restaurante por aí, no meio do caminho.

- E pra aonde vamos, exatamente? - perguntou Liam, tentando manter as mãos no volante enquanto sua cabeça ainda pulsava de adrenalina.

- Não sei ao certo. Vamos ficar por aí, quem sabe até vamos pra Acapulco. Só continue dirigindo nessa direção e está tudo bem.
- Tá bem, então.


Dear Werewolf || Ziam Mayne FanfictionOnde as histórias ganham vida. Descobre agora