Julieta

1.7K 117 14
                                    


Estou com os braços no apoio da minha sacada. A lua parece maior e o frio da noite me arrepia. A brisa me bate trazendo o cheio das uvas do vinhedo. Inalo profundamente o ar e o solto vagarosamente.

Sinto como se fosse uma menina de quatorze anos sonhando com o seu Romeu. Sinto uma pontada no estômago por ter mudado. Eu era feliz naquela época. Gostava de sonhar. Esses anos fora me fizeram esquecer, mas aqui, agora, lembro bem. Era por Romeu. Eu sonhava, eu vivia, eu jurava por Romeu.

Eu juro, agora, por Julieta, vou voltar a ser aquela Julia Julieta. E encontrarei meu Romeu.

Por Julieta!

As batidas leves na porta dizem que é Ama. Abro e confirmo.

-Oi, minha querida. Como está? –Ela pergunta feliz.

-Com sua visita, minha noite está perfeita, Ama. Entre, por favor! –Dou espaço e ela entra no quarto. Nada mudou desde manhã.

-Você chegou e não fez a refeição, fiquei preocupada.

-Estou bem, Ama! –passo por ela e me deito na cama. –Estou sonhando novamente.

Ela se senta na borda na cama.

-Por que isso agora?

Me levanto e fico com o olhar na mesma altura que o dela.

-Ah, Ama, eu percebi que voltei tão mudada. –Falei tristonha.

-Mudada como, minha querida?

-Desacreditada em Julieta. Eu estava lendo algumas anotações minhas. –Mostrei meus diários que estavam em cima da mesa. -Eu li apenas algumas páginas de um e estava me sentido tão estranha. Como se eu não me reconhecesse.

-Ah, mas é que essa cidade é mágica! O mundo lá fora pode ser realista, de fato. Mas o amor é tolerante. Ele não nos faz burros, nos faz humanos.

Sorri pra ela.

-Que se dane o realismo, não é mesmo? –Pergunto sorrindo.

-Que se dane! –Ela concorda.

Respiro fundo.

-Ah, Ama. Mas sonhar às vezes dói! Principalmente se sonhamos com algo que não existe! –Mordo o lábio inferior.

-Fala de seu "Romeu"?

-Sim. Não sei se ele existe. Pode ser um Pedro, João, Tiago ou José. É uma lista infinita. Receio que o realismo me mostrou isso.

-Mas a fé não morre tão cedo! –Ela pega minhas mãos. –Amanhã você me acompanha até a igreja de manhã?

-Mas é claro! –Concordo rapidamente. –Padre Lourenço ainda atua lá?

-Sim. –Ela diz sorrindo por eu ainda me lembrar. –Durma logo minha pequena. Quero você acordada bem cedo.

-Pode deixar, Ama.

Ela beija minha testa em despedida.

-Durma logo também, Ama. –Digo antes que ela saia.

-Sim. –Ela responde. –Sonhe com seu Romeu.

-E você sonhe com o seu!

A porta se fecha e deixo Morfeu me carregar em suas asas até o paraíso dos sonhos, onde encontro Romeu, com quem parei de sonhar há mais de sete anos.

Romeu é lindo. Com cabelos castanho-dourado e olhos azuis. Um típico Montecchio. Romeu, assim como eu envelheceu, amadureceu, se engrandeceu. Está tão mais lindo, e parece que o tempo só fez deixa-lo mais belo.

Os novos Romeu e JulietaOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz