Romeu

1K 90 17
                                    



Meus pés estão presos ao chão. O que aconteceu com Julieta. Meus joelhos cedem e eu caio com eles no chão.

-Eu a amo tanto. Sou incapaz de magoa-la. –Balbucio.

Olho para o horizonte onde ela foi e me sinto incapaz de segui-la. Quero vê-la, quero toca-la, acalanta-la e explicar esse terrível mal-entendido, mas me sinto frágil. Começo a chorar. Sinto vergonha então deposito as flores no mausoléu.

-Digam-me: é um aviso? De que não podemos ficar juntos como fizeram? Eu não posso ficar com o amor da minha vida? Me digam o que aconteceu! Por que tem que ser assim?

Grito rasgando a garganta e vou até a moto e a ligo.

Parto em direção a igreja.

O padre me vê caminhar pela passagem de entrada.

-Ela... ela... ela... ela está me odiando! –Digo ao padre. –Julieta, meu amor, está me odiando!

Caio aos pratos em seu ombro.

-Oh céus! –Ele murmura surpreso. –Entre Romeu, rápido.

Faço o que ele pede. Não consigo pronunciar nada durante alguns minutos. Talvez uma hora. Bebo água para acalmar, mas não há jeito. Ele espera paciente e preocupado. Quando eu consigo melhorar o soluço, ele pergunta:

-Mas o que aconteceu? Você saiu tão animado. Falou que ia casar, ia falar com ela e chega assim? Ela não aceitou se casar? –Ele questiona.

-Não sei o que aconteceu. Estávamos bem até ontem quando nos conhecemos...

-Ah, então talvez seja o problema. Relacionamentos surgem com o tempo, meu filho. –Ele apazigua.

-Não padre, o senhor não está entendendo. Foi só eu olhar pra ela que meu coração disse que ela era a certa. E eu não estou enganado, pois sei que ela sentiu o mesmo que eu. Nós conversamos rapidamente, por culpa da situação, mas nos beijamos e eu senti em seu beijo que já tínhamos toda uma vida juntos pela frente, como se combinássemos tanto que a cada reencarnação nos encontrávamos e sempre parecia que era a primeira vez, por que era, de fato. E quando nos despedimos trocamos juras e iriamos voltar a nos ver. Ela acreditava que meu amor verdadeiro, mas hoje quando eu a vi ela disse que eu a havia enganado, disse que eu queria iludi-la já que não funcionou com Rosa. E ela caiu aos prantos na minha frente, mas não me permitiu consola-la. E eu estou ficando louco com isso!

-Esse é o problema! –O padre diz. –Ela pensa que você quer engana-la por culpa da vinícola. Destruir a empresa e essas coisas mais. Ela está sendo levada pela lógica.

-Mas eu a amo. Ela não pode duvidar do meu amor.

-Pode. Romeu, meu filho, ela conhece você a menos de vinte e quatro horas. Ela pode duvidar e tem direito. Então vá lá e prove seu amor.

-Como? Ela não quer nem me ver. Não quer que eu a toque, não quer me escutar!

-Não interessa! –O padre Lourenço resmunga. –Se ela é seu amor e está afligida, chorosa, duvidosa e até com medo, é sua obrigação acalanta-la. Passar sempre conforto.

-E como farei isso? –Questiono.

-Por Deus, Romeu. Enfrente o mundo por ela! Vá lá, suba em seu quarto e se explique. Corra riscos, Romeu! –Ele esbraveja.

-E se ela não quiser me ver? Gritar e dizer que não me ama?

-Bom, se ela não disse isso ainda, você tem alguma chance, não é? Amor é a coisa mais fogosa da humanidade. É um fogo que se atiça com gasolina, que, mesmo com o vento, mantem a chama. E depois de um tempo, quando se pensa que apagou-se, você vê que ainda há brasa e o fogo pode surgir novamente. Esse é o impetuoso amor.

-Como pode um sentimento causar tanta dor? –Questiono.

-É o coração, meu querido. Ele bate! E você apanha, certo?

Assinto tentando raciocinar melhor.

-Vou ir ver Julieta, mesmo que custe minha vida. –Decido.

-Perfeito. Agora vá.

-Olha, padre, não precisa me expulsar, não!

-Não me aborreça, Romeu!

Rio e o abraço.

-Obrigado, meu velho amigo. –Digo e saio correndo.

Ele pode ser chato, mandão, mas é um ótimo amigo e sabe conversar comigo. Sempre sinto minhas esperanças renovadas quando converso com ele. Mesmo limpando seu jardim.

Decido esperar até a noite, para ir até a casa de Julieta e conversar com ela.


Os novos Romeu e JulietaWhere stories live. Discover now