Julieta

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Colocamos os capacetes e Romeu liga a moto. Percorremos em velocidade regular pelas ruas da cidade, mas não queremos toda essa movimentação:

-Vou levar você à um local mais reservado. –Ele diz.

Concordo com a cabeça e o abraço para me aconchegar melhor. Romeu se distancia da cidade, parando próximo à um lago.

Desmonto da moto e retiro o capacete?

-Que lugar é esse? –Pergunto.

-Eu achei que você soubesse. –Ele sorriu. –Aqui Romeu e Julieta vieram pela primeira vez depois de casados. Achei que fosse romântico.

O abraço.

-Você é cem por cento romântico! –Digo.

Ele geme, mas me abraça.

-Ah, céus! –Digo. –Esqueci. Eu não sei o que meu primo fez a você. Quando ele chegou eu estava furiosa demais para conversar. Ele o machucou muito?

-Não se preocupe. Meu primo o fez mais mal. E eu corri atrás dele. Hipoteticamente ele quebrou o braço por minha culpa, enquanto corria de mim.

-Não foi sua culpa! –Beijo sua mão. –Não é sua culpa! Vamos nos sentar.

Me encosto na árvore e sento no chão. Ele tem mais dificuldade em sentar, e coloca a mão no estômago.

-Posso ver seu machucado? –Peço.

Ele assente e desabotoa a camisa. Coro levemente e me mantenho focada, mas é quase impossível! Romeu é lindo demais para se manter em concentração!

Quando a camisa já está aberta, vejo alguns curativos.

-O padre fez os curativos. –Diz ele. E me despreocupo, pois não foi nenhuma enfermeirazinha assanhada.

-Que bom. –Digo. Passo a mão por cima e pergunto: -Dói?

Ele nega com a cabeça. Continuo a passar a mão. Em um ponto ele geme e pega minha mão. Sei que dói e sinto como se doesse mais em mim.

-Não acredito que Theo fez isso. –Digo.

-Ele também não está em melhor situação. –Diz Romeu. –Esquece disso, meu amor. Tente esquecer. Isso tudo não passará de uma doce lembrança.

Assinto.

-Sim. –Digo. –Mas creio que isso ainda está longe de acabar. Romeu, não sei o que nossas famílias farão se descobrirem.

-Não farão nada. Eu estou com você, agora e para sempre. –Ele me beija. –Somos um.

Sorrio.

-Somos um. –Confirmo e enlaço meus dedos aos dele.

Me deito em seu peito, que ainda está bom, e continuamos a olhar o lago.

-O que faremos agora? –Questiono. –Sei que uma lua de mel está fora de cogitações, mas como será daqui para frente?

-Continuaremos a nos ver, sempre que pudermos. –Ele diz. –E continuaremos a trabalhar nas vinícolas, sem nenhum assunto atrapalhar o outro. Será como antes.

-Nada será como antes!

-Eu sei. Mas faz de conta. Ajuda às vezes. –Ele sorri.

-Um dia eles terão de saber. –Falo.

-E será em breve.

Olho pra ele, animada com a ideia. Ele beija a ponta do meu dariz.

-Ah, outro problema. –Digo. –John Paris. Filho do prefeito. Ele...

-Eu já sei de tudo. Mas você já está casada. Nem ele nem ninguém roubará você de mim. –Ele me beija novamente. –Certo?

-Certo! –Concordo. –Que horas são?

-Quase meio-dia, por quê? –Questiona ele.

-Tenho que voltar para casa. Assuntos da vinícola, preciso administrar, principalmente agora que Theo está impossibilitado, ou, então, limitado.

-Entendo, meu amor. –Ele se levanta. –Eu a levo até a entrada. Juro que fico longe.

-Aceito, meu amor. –Digo e o beijo.

Eu me levanto primeiro e o ajudo a se levantar depois. Ele monta na moto, depois eu e dirige até perto de casa.

Ele para um pouco longe.

-Tem certeza que não quer mais perto? –Questiona ele.

-Não. Aqui está ótimo! Vá para casa e descanse. Não faça nenhum esforço! –Digo e o beijo, devolvendo seu capacete. Começo a me distanciar.

-Não sentirá minha falta?

-Mas é claro. A cada segundo. –Falo.

-Então me dê mais um beijo, pois meus lábios já choram sua partida! –Ele diz.

Volto imediatamente e o beijo.

-Ah, doces lábios! –Murmuro. –Que possam se acalantar agora.

Ele sorri.

-Certo.

-Até mais. –Digo.

-Uma última olhada para minha esposa. –Ele diz.

-Aprecie a vista de trás! –Digo e saio rebolando.

Ele espera eu estar em frente ao portão para dar a volta e sorri para mim.

Entro quando o portão se abre e subo as escadas correndo para evitar perguntas. Ninguém notou meu sumiço, exceto Rosa:

-Onde esteve? –Ela aparece no batente da porta.

-Na igreja. –Digo. –Estava conversando com o padre Lourenço.

-Da próxima vou com você.

-Claro! –Digo.

Ela sorri e sai. Infelizmente, queria negar, mas uma sensação estranha me devasta. Balanço a cabeça afastando esses pensamentos e vou para dentro do banheiro me banhar.

Lavo todo o corpo e noto o anel no dedo. Sorrio e o beijo. Nossas iniciais cravadas, as mesmas dos nossos antepassados. Saio do banheiro. Me arrumo e vou escrever no meu diário sobre meu casamento. Como foi incrível e lindo!

Vou até a varanda, pedir para o universo, por gentileza, só dessa vez, conspirar a nosso favor!


Os novos Romeu e JulietaWhere stories live. Discover now