Romeu

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Ainda não estou raciocinando direito. Minha vontade ainda é voar no pescoço de Josh e esgana-lo, mas Ben ainda está me dando sinais para lembrar que não posso fazer isso. Não posso aqui. Para eles eu e Julieta somos tão desconhecidos quanto qualquer outros estranhos.

Mas não somos!

Sento-me. Distante de Julieta. Josh, por outro lado, consegue um lugar ao seu lado. Viro o rosto para outro lado. Devo evitar olhara para eles. Para ela principalmente. Estar tão próximo e tão longe é torturante!

-Mas me diga, o por quê da visita de vocês? –Questiona Josh.

Tenciono minha mandíbula. Ben nota e responde por nós dois.

-Nós viemos em "confraternização". Entregar formalmente os convites ao senhor Capuleto!

-Ah, estamos todos ansiosos. –Josh diz. –Assim como irá chegar sua prima, Ju, vai chegar a prima deles também! –Josh fala, mas apenas para Julieta.

Odiei a maneira como ele chamou minha esposa. Ju? De maneira tão informal e evasiva!

Não tenho nenhuma reação, nem sequer levanto a cabeça para olhar para ela. Sinto que os olhos de Theo estão focados em mim. Rosa cutuca meu braço.

-Fica sossegado! –Ela sussurra.

Assinto.

-E você Romeu? –Senhor Capuleto fala. Sou obrigado a olhar para ele, enquanto todos olham para mim. –Está tão quieto. Diga como está seu tio.

-Ahn... está muito bem, senhor. Agora ele irá se aposentar, ainda está relutante, mas estamos tentando convencê-lo que é o melhor.

-Hum, e sua prima virá para a cidade, pelo que ouvi. –Ele diz.

-Sim, senhor. Estamos nos preparando para recebê-la. –Respondo.

Julieta me olha surpresa, tenho de me esforçar para ignora-la. Ela não pode ficar chateada, nem nada do tipo. Não há motivos!

-Espero que possamos formar encontros com todos. –Diz o senhor Capuleto.

Assinto:

-Espero o mesmo, senhor.

Continuamos a comer calados. Até a hora do fim do jantar.

Logo após a sobremesa nos dirigimos até a sala, onde ocupamos nossos lugares para que todos se vissem. Ben consegue engajar uma conversa com todos, eu por outro lado encaro Julieta, que dá atenção a Josh!

Sinto o gosto do bile, o sinto subindo. Quero vomitar por ver essa cena.

Ela me olha, e eu não desvio o olhar. Continuo a olhar para ela firmemente. Ela se levanta:

-Preciso ir ao banheiro. –Ela anuncia.

Todos assentem, e Josh entra na conversa dos demais, que o acolhem com entusiasmo. Infelizmente eu não me encaixava naquela conversa, então nem abri a boca. Os minutos se passaram e eu notei que Julieta não retornou.

-Rosa, -A chamei. –Onde fica o banheiro?

-Por aquele corredor a esquerda! –Ela instruiu.

Ninguém notou minha saída. Na verdade eles queriam jogar baralho!

Segui na direção que Rosa disse. Abri a porta do banheiro e vi que ele estava vazio. Julieta deveria estar aqui, não?

Segui reto, e cheguei até a cozinha. Ela estava lá! Apoiada no batente da porta dos fundos olhando a escuridão afora da casa.

-Julieta? –A chamei.

Ela se virou.

-Oi. –Seu sorriso branco se manifestou. –Você me deu um susto hoje. Não sabia que viria. Foi uma grande surpresa.

-E você também me deu uma bela surpresa! –Digo firmemente em um tom um tanto rude.

-Como assim? –Ela arqueia as sobrancelhas.

-Você e Josh estão bem íntimos!

-Como é que é? –Ela pergunta.

-Não minta para mim, Julieta! Ele passou a noite inteira com você! Não pudemos nem trocar duas palavras!

-É ele passou a noite alugando meus ouvidos, mas eu mal disse algo também!

-Não interessa! –Digo e passo por ela.

Saio da casa e sigo pelo jardim sem direção.

-Romeu! –Ela chama. Sinto sua voz mais próxima. –Quer me explicar que idiotice é essa agora?

-Isso mesmo! Idiotice! –Digo. –Até por que minha esposa dá trela para outro cara e eu tenho que sentar e assistir tudo!

Ela me puxou.

-Para! –Ela diz. –Para de dizer isso, que droga! Eu não quero Josh. Não gosto dele. Eu gosto de você, caramba! Foi você que eu escolhi. Foi com você que eu me casei. Nós sabíamos que não ia ser fácil, e que teríamos de fingir não saber nada um sobre o outro. Mas eu não amo ele. Eu amo você!

Olho pra ela, agora suplicante por seus lábios. Não nego que suas palavras inundaram-me com uma sensação de paz e realização que só ela poderia me proporcionar, mas ainda havia uma incógnita.

-Seu avô deu o consentimento para o seu casamento com ele? –Pergunto.

-O quê? Meu avô fez o quê?

-Apoiou a sua união com ele?

-Não! Não sei! Por quê?

-Ele falou isso. –Digo.

Ela parece surpresa.

-Então era isso que ele queria... –Ela sussurra baixinho.

Fico confuso.

-Ele queria o quê?

-Josh estava falando do passado, como erámos próximos. Eu até achei legal, mas não sabia que tinha segundas intenções.

-Ah, não seja tão ingênua, Julieta!

-Como?

-Você sabe. Ele quer ficar com você. Sempre quis, não é? E não me diga que é tão ingênua para não notar isso!

Ela parece ofendida. Seus olhos dolorosos mostram que o que acabei de dizer foi uma das maiores merdas da minha vida!

-É isso que pensa? –Ela pergunta. –Que eu sou um simples objeto manipulável? Ingênua? Posso ser, mas não para você!

Ela se vira. Puxo seu braço. Ela o puxa de volta com força.

-Não me toca! –Ela diz.

Penso em correr atrás dela. Poderia levantar suspeitas, então espero...

Meu Deus, eu devia ter corrido atrás dela!

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Os novos Romeu e JulietaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora