Julieta

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-Eu acho que é melhor eu não ligar! –Diz Rosa com o celular na mão.

Já faz mais de três horas que ela está no meu quarto, decidindo sobre o que fazer a respeito de Ben. Ligar ou não ligar? Eis a questão.

-Liga de uma vez! –Digo, frustrada.

-Mas se ele não atender? Isso pode não ter sido nada. Mas que diabos está acontecendo comigo? –Ela se questiona.

-Estou me fazendo a mesma pergunta. –Murmuro.

-Eu só o beijei. Não entendo o que está acontecendo comigo! Isso jamais havia acontecido antes. Foi só um beijo! –Ela diz, mais para si mesma do que para mim. Então ela se vira para mim e senta na beira da cama: -Será que é um feitiço? Os Montecchio tem um beijo enfeitiçador?

Rio da comparação.

-De fato, o beijo de Romeu me enfeitiçou! –Brinco. –Até casei!

Continuo a escrever em meu diário: "Rosa está apaixonada por Ben, e ainda não se decidiu se liga ou não liga para ele. É uma nova geração, não concorda? Um novo começo".

-Julieta, pare de escrever e me ajude! –Ela pede. –Explique o que aconteceu comigo.

-Não sei. –Dou de ombros. –Talvez, essa sua insegurança, todo esse turbilhão de emoções que estão aí dentro, colidindo e dando em direção à Ben, bom, talvez isso seja amor!

-Não brinque! –Ela retruca. –Talvez, eu esteja afim demais dele.

-É. Tipo, amando! –Digo.

-Não podemos nos apaixonar por Montecchios.

-Por quê não? –Questiono.

-Montecchios são nossos inimigos. Principalmente por que, você sabe, falam sobre a maldição de Romeu e Julieta.

-Que diabos é a maldição de Romeu e Julieta? –Uno as sobrancelhas.

-Eles foram os primeiros Montecchios e Capuleto a se apaixonarem. E morreram por culpa disso. –Ela diz. –Não devíamos ficar com eles.

-Isso é lenda. Mito. Superstição. Uma grande bobagem. Amor não é coisa ruim!

-Pela última vez, não estou amando!

-Jura? –Pergunta uma voz masculina.

Dirijo meu olhar assustado até a sacada, onde Romeu está terminando sua subida.

-Por que eu tinha trazido um cara que acha que está te amando! –Ele diz sorrindo, e volta a olhar para baixo. –Ben! Sobe aqui.

-Julieta. –Rosa sussurra. –O que eu faço?

-Acalme-se e haja naturalmente! –Digo.

-Naturalmente?

-Sim!

-Ok! –Ela respira fundo, e solta devagar.

Ben, termina sua subida e ambos se olham, envergonhados.

-Meninos, que surpresa! –Digo. –Ben, por que você não conversa aqui com a minha prima, enquanto eu e Romeu vamos até a varanda? Assim teremos privacidade, não é, amor?

-Claro! –Romeu diz. –Comportem-se.

Levo Ben, que ainda está rígido, até mais próximo de Rosa. As bochechas dela estão vermelhas demais, e as dele não estão diferentes!

Vou, junto com Romeu, até a varanda e encosto a porta. Nos sentamos. Ele se apoia a coluna e me aconchego entre suas pernas. Com a costa colada em seu peito. Olhamos a lua.

-Vocês estão loucos para morrer, mesmo! –Digo.

-De nada! –Ele diz.

Rio.

-Obrigada, por virem, mas sabem que estão se arriscando demais! –Digo.

-Ben, não me deu sossego! –Ele diz. –Falou tanto em Rosa, que já estava me enjoando.

-Assim como você falava dela. –Solto.

-Não! –Ele diz. –Sempre falei de Julieta. Minha Julieta. E já expliquei que foi uma confusão.

Assinto.

-Não se preocupe, meu amor. Não há motivos para isso. –Ele diz.

-Eu sei. Mas sou mulher, Romeu. Sou insegura por natureza. –Digo.

-Eu sei, minha pequena insegura! –Ele me abraça. –Só estou dizendo que ninguém me rouba de você.

-Nem a morte? –Pergunto.

-Nem a morte. Nem ninguém! –Ele diz. –Meu amor é bem maior do que o mar e o céu. Maior que o universo e o infinito!

Olho pra ele. Meus olhos brilham encantados com suas doces palavras.

-Obrigada. –Digo.

E o beijo.

Meu corpo começa a virar. Agora de frente para ele. Enlaço meus braços em seu pescoço e o beijo desesperadamente. Ele geme de dor. E eu paro, lembro de seus diversos machucados.

-Me desculpe. –Digo. –Ainda dói muito?

-Um pouco. –Ele diz. –Posso aguentar.

Sorrio e beijo seu sorriso sapeca. Ele envolve minha cintura e eu estou tão próxima dele que não sei como não notei o quanto necessitava dele para me completar.

As batidas na porta interrompem-nos. As cortinas se abrem e Rosa olha pelo vidro da janela. Ela nos olha no chão, já arrumados novamente. E volta para dentro.

A xingo mentalmente. E olho para Romeu que arruma seus cabelos. Sorrio envergonhada, e não quero nem pensar em como está meu estado.

-Acho que devemos ir! –Ele diz.

-Tudo bem. –Falo.

-Não sentirá saudades? –Ele questiona sorrindo.

-A cada segundo longe de você. –Digo. –Mas precisamos evitar nossos encontros. É perigoso demais. Com Theo furioso, e você nesse estado. Sabe que se acontecer qualquer coisa de mal com você eu morro!

Ele me envolve em seus braços.

-Meu amor, só sua perda pode me machucar! –Ele diz e beija o topo da minha cabeça.

Sinto o âmago subir até minha garganta e o engulo novamente. Foi exatamente assim, com Romeu e Julieta. Ele se matou por achar que ela estava morta!

Olho para Romeu.

-Romeu, prometa-me que se achar que estou morta, você não acreditará! Não se matará como o outro fez! –Digo.

-Como assim, meu amor? –Ele questiona, ainda com uma suavidade em sua face.

-Prometa que não se matará. Se achar que estou morta, prometa-me não cometer a besteira de se matar! –Digo, agora mais desesperada.

-O que está dizendo, meu amor? Por que está falando isso? –Ele afaga meu cabelo.

-Por favor, me prometa! –Peço. –Romeu, me prometa!

O desespero passou da voz para todo o rosto, todo o corpo, todo o eu. Ele viu isso e me abraçou mais urgentemente.

-Amor, claro. Eu prometo. Não farei isso, se te acalma! –Ele diz. –Mas nada acontecerá com você.

-Aconteceu com eles. Por que não conosco?

Os novos Romeu e JulietaWhere stories live. Discover now