Julieta

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São nove horas da noite e a luz do sol desapareceu a tempos. Ama ainda espera que eu conte a ela e pare de chorar para que ela consiga entender. Não consegui pronunciar mais de três palavras certas, pois acabava ficando incompreensível demais.

Consigo respirar e o soluço para.

-Certo, agora me diga o que aconteceu! –Ela pede. –Você voltou chorando do mausoléu. O que aconteceu? Machucou algo?

-Meu corpo está bem, mas meu coração está destroçado, Ama.

-Ah, minha filha. Quem fez isso com você?

-Lembra-se daquele rapaz com quem conversei e dancei na festa? –Pergunto.

-Aquele que você beijou?

Coro e assinto.

-Sim, ele é Romeu Montecchio. –Digo.

-Não me diga... –Ela tampa a boca. –Ele abusou de você?

-Não.

-Ele machucou você?

-De uma certa forma. Profundamente. Romeu conseguiu conquistar meu coração com apenas seu olhar. Eu coloquei meus olhos nele e soube que eu o amava. Mas infelizmente o amor é uma via de mão dupla. Depois da festa ele veio até meu quarto e disse o que eu já suspeitava: que ele me amava como eu o amava. Juramos amor e trocamos votos. Estava tudo perfeito, mas ainda havia uma peça que não se encaixava: o fato de Rosa conhece-lo. Eu perguntei e ela disse que ele era apaixonado por ela, mas ela o recusou. Então, raciocine: Ele mentiu para mim. Ele não me amava, ele queria me usar para chega até a empresa, é claro. Como Rosa o dispensou eu sou a única outra Capuleto solteira na cidade. Era óbvio que ele iria tentar se aproximar e destruir a empresa.

-Mas por que você voltou chorando do cemitério?

-Eu o vi. Ele estava lá visitando o mausoléu.

-E o que ele disse?

-Negou tudo. Mas ele é cínico mesmo! Me enganou e pior: eu acreditei cegamente. –Volto a chorar. –Céus, como fui burra!

-Não, você não foi. É coisas da vida. Acontecem. Amor é perturbador, eu sei, e não surge de uma hora pra outra. Mas não magoe seu coração sem certezas, OK?

-OK!

-Certo, eu vou trazer minhas coisas e dormirei com você?

-O quê? –Retruco. –Por que?

-Não quero deixa-la só.

-E eu irei atormenta-la com meus gemidos? Não, mesmo. Durma lá, e não se preocupe. Ninguém jamais morreu por chorar. –A guio até a porta.

-Tem certeza?

-Sim. Boa noite, Ama.

-Boa noite, Julieta. Durma bem! –Ela diz, antes que eu feche a porta.

Tranco e volto para cama e abafo meu grito no travesseiro.

-Por que fez isso Romeu? Por que mentiu para mim? Eu te amei tanto. Tanto. Tanto. Nesse pouco tempo te amei mais do que a mim mesma, e para quê? Ah, que ódio sinto de mim.

Me enrolo em posição fetal e começo a soluçar.

O ar vindo da Janela indica que eu a deixei aberta e eu digo que não irei me levantar para fechar, nem nada. Não quero mais sair da cama.

Sinto a presença de alguém com um arrepio na espinha. Olho para a janela e vejo a figura alta e forte.

Me levanto e vejo quem é.

Os novos Romeu e JulietaWhere stories live. Discover now