Julieta

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Olho para meu vestido, ainda continua lindo no cabide. O sapato me espera no chão. Me encaro no espelho e Ama penteia meus cabelos.

-Ah, está tão linda. E o vestido que escolheu é mais ainda. –Ama comenta.

Sorrio. Esse era o tipo de roupa que eu escolheria aos quatorze anos, não a que eu escolheria a dias atrás. Fico grata por ter voltado a ser quem era. Sorridente, espirituosa, sonhadora e livre.

-Obrigada. –Agradeço.

-E o seu vestido, Ama?

-Não tão lindo quanto o seu, mas está me aguardando. –Ela diz sorridente.

-Ah, Ama. É um milagre você me ajudar. Nem estava querendo ir e tenho você para pentear e enfeitar meus cabelos. Que sorte a minha!

-Como sempre fiz, pequena Julieta.

Ama continua a pentear meu cabelo, ele fica tão macio e sedoso. Ela pega o cabelo das extremidades e os enrola prendendo com uma presilha de prata atrás da cabeça. Ela passa o pó compacto, um blush para me ver mais corada, uma sombra clara e brilhosa e um brilho labial claro. Me olho no espelho e gosto do resultado.

-Obrigada Ama. Agora vá se arrumar. Caso queira minha ajuda eu a acompanho.

-Não será necessário, filha. Vista-se e fique irresistível, pois bela você já é.

Sorrio por seu comentário. Ama sai do quarto rapidamente e tenho que me arrumar. Retiro a toalha e coloco o vestido. Calço o sapato e preservo o rosto ao não colocar minha máscara. Demoro a sair do quarto pois ainda estou olhando o alguns de meus diários. Falei tão bem de Romeu, e o odiei tão friamente.

Como pode ser amor algo assim? Mas sonho com ele, sonho com Romeu. Meu amado Romeu, dono do meu coração. Eternamente, assim como foi com a antiga Julieta.

Depois de demorar lendo os diários, Ama bate à porta e me chama para irmos.

Meus avós e meus primos já me esperam. Vovó, vovô, Theo e Rosa vão juntos em um carro, e eu vou com Ama no meu carro.

-Ama, não tenha medo, já estou mais prudente quanto ao trânsito, a garanto!

Ela sorri, não tão certa, mas deixa se levar.

Engato a marcha e saímos atrás do carro que Theo dirige.

A estrada ainda é escura, por culpa do horário. Nem Ama nem eu falamos algo. Deixo o silêncio pairar e me concentro na estrada.

De repente meu pensamento segue Romeu. Aquele lindo par de olhos azuis. Aqueles lábios perfeitos para os meus. Aquelas madeixas castanho-dourado em meus dedos. Seu corpo tão escultural e rígido. Ele não é de se preocupar com a aparência, mas é abençoado com o melhor dos corpos.

Entramos na cidade e seguimos até a Vinícola Capuleto. Ainda é cedo e as luzes da festa estão ligadas. Ninguém chegou ainda e agradeço por isso.

Entramos na garagem e deixamos os carros estacionados. Usamos a outra entrada da garagem para ir até o salão.

Olho o local, bem mais iluminado. Alguns músicos começam a se aprontar, as mesas estão servidas de várias iguarias e petiscos refinados. Garçons estão terminando os últimos retoques.

-Vamos lá para cima. –Meu avô chama. –É mais agradável.

Meu avô usa um terno de giz. Feito sob medida para esconder sua farta barriga. Seu bigode foi bem penteado, assim como seu cabelo, ou o que restou dele. Minha avó usa várias jóias grandes, com um vestido branco e dourado. As luvas são brancas e de cetim e ela usa uma tiara na cabeça, como se fosse alguém da realeza.

Minha prima Rosa está com seu vestido vermelho, bem chamativo e vívido. Seu colar é mais chamativo ainda, e seria uma tentação aos homens já que afronta seus seios. Seu cabelo longo e castanho, está enrolado e empapado de laquê. Theo usa um terno preto, e seus sapatos são muito lustrosos. Seu cabelo foi bem penteado e ele tem até uma áurea angelical.

Ama usa um vestido cor vinho, com detalhes brancos. Combinou tanto com ela, e sei que ela mesma escolheu-o. Ela prendeu seu cabelo em um coque perfeitamente minucioso. Enquanto à mim, uso o vestido azul em degradê até o branco, todo brilhoso e modesto. As sandálias são douradas e bem delicadas. Usei um simples colar com um pingente de coração e meu cabelo ainda está como ama o deixou.

Subimos a escadaria e seguimos para a esquerda. Lá de cima há uma escritório e é nele que entramos. A janela de vidro fumê nos dá uma boa vista do salão.

-Vamos ficar aqui até quando? –Pergunta Rosa.

-Espero que até o prefeito chegar! –Disse o vovô. –Não quero que vocês cansem, em especial as minhas netinhas. Mas Theo, meu filho, caso queira, desça comigo.

-Claro, vovô. –Theo responde.

Rosa dá de ombros e volta a fuçar seu celular. Peço o meu que está na bolsinha de Ama e ela me entrega.

Esperamos mais quinze minutos e já chega muitas pessoas.

-Bom, eu vou descer. Theo, venha. –Meu avô o chama. Theo segue atrás dos meus avôs.

Rosa pega o telefone e começa a falar com alguém. Está bem animada em sua conversa, sinto um enjoo repentino.

-Ama, acho que não estou bem. –Digo.

Ama franze o cenho preocupada.

-Algo de errado?

-Não muito, mas quero ir ao banheiro. Você me acompanha?

-Claro!

Ama me ajudou a levantar e seguimos até o banheiro. Sinto que estou mais tonta, mas não quero vomitar.

-Você comeu algo estranho? –Ela pergunta.

-Não. –Respondo.

-Não sei o que pode ser.

Ela me ajuda, limpa o suor que brotou na testa e se certifica de que estou linda. Estou aos olhos dela. Voltamos para o escritório, minutos depois e Rosa já não está lá. Pego meu telefone e ela mandou uma mensagem

*Estou aqui em baixo. Vovô já liberou!*

-Ela desceu! –Digo a Ama.

-Então desça. Preciso ir ao banheiro e vou logo depois. –Ama diz.

-Tudo bem, você não quer ajuda? –Questiono.

-Para fazer o número um? Não! –Ela diz brincalhona. –Bem, deixe-me ir.

E ela sai do escritório.

Olho pelo vidro e meus olhos vagueiam a multidão. Eu iria me destacar lá, afinal sou uma das poucas que escolheram roupas claras. A maioria usa roupas pretas, verde-escuras, azul-escuros, e teve uma que quis imitar Rosa, mas minha brilha brilhava mais!

Respirei fundo.

Devo descer e enfrentar essa multidão!

Os novos Romeu e JulietaWhere stories live. Discover now