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Eva

Não sei se a vida é maior do que a morte, mas o amor é maior do que ambos.
(Tristão e Isolda)

O barulho me animou, e acreditei que poderia me divertir um pouco. Passei no bar improvisado e peguei um refrigerante.

Filipe e Alice chegaram quase que no mesmo instante. Isso realmente não daria certo, ficar no mesmo ambiente que os dois, ainda mais agora que olhares começavam a voltar para nós três.

Como eu não havia percebido antes? Todos estavam falando da traição de duas pessoas em que eu mais confiei.

Coloquei o refrigerante em cima da mesa e fui para a saída.

Estava esperando o táxi quando senti uma mão tocando meu ombro. Virei-me esperando ser outra pessoa, mas dei de cara com Filipe. Ele não desistiria mesmo, não é?

— Você tem dificuldade em entender que não quero falar com você?

— Sim, eu tenho dificuldade. Você não me deixou explicar.

Afastei-me olhando irritantemente para o final da rua.

— Olha, quando você viajou, depois da nossa briga...

Ele realmente não iria me deixar em paz.

— Você foi se consolar com a Alice e acabaram ficando?

— Não foi bem assim.

— Vocês me fizeram passar por idiota. Acharam realmente que eu nunca descobriria?

Filipe ficou calado, o que provava que ele esperava que a verdade nunca viesse à tona.

— O que me deixa com mais raiva é que você estava agindo como se nada tivesse acontecido, aliás, os dois. Continuamos com nossos planos para a faculdade. O que aconteceu, por que não estão juntos? Não conseguiu nada com ela também?

Eu e Alice havíamos combinado de perder a virgindade quando entrássemos na faculdade, em uma das festas, assim como nos filmes americanos.

Vi uma sombra passando por seus olhos e então vi a verdade neles. Levei minhas mãos a minha boca para conter meu espanto.

— Eu não acredito que... Odeio vocês.

— Eva, aquela noite não significou nada para mim. Nós nos arrependemos no momento que passou.

— É tão fácil falar agora que já descobri a verdade. Um namoro de cinco anos nunca significou nada para você?

Filipe tentou se aproximar, mas eu me afastei.

— Podemos superar isso tudo e seguir com nossos planos.

— Não existem mais nossos planos. Existem os meus planos e você não está neles.

Finalmente vi o táxi se aproximar e sinalizei para o carro indicando minha presença.

— Eva, eu amo você.

— Se realmente me amasse, não teria dormido com minha amiga e depois agido como se nada tivesse acontecido.

Quando abri a porta do carro, Filipe me puxou novamente.

— Vamos nos encontrar na faculdade e então superaremos isso.

Havia esquecido que iríamos para a mesma faculdade. Na época pareceu uma boa ideia, mas agora, depois de tudo o que aconteceu, chegara a conclusão que planejar não fora um bom jogo.

— Não haverá nada para superar, nem essa noite, nem nunca mais. Agora solte o meu braço para eu poder ir embora.

Senti a exasperação de seu toque quando tentei me soltar.

— Você precisa decidir se entrará no carro ou não — o motorista não escondeu sua irritação.

— Ela não vai — Filipe me puxou de volta para a calçada.

— Qual é o seu problema? — gritei quando o taxista arrancou do local.

— Sei que o que fiz foi errado e pode acreditar, estou muito arrependido. Eu só quero uma segunda oportunidade.

— Você acha mesmo que sou uma idiota? A boba apaixonada, capaz de perdoar uma traição do seu namorado e da melhor amiga, que entregou de bandeja sua virgindade, roubando o que era meu por direito? Eu queria que você nunca tivesse cruzado o meu caminho. Para mim você está morto.

Soltei-me do seu aperto e o empurrei, fazendo-o perder o equilíbrio no mesmo momento em que estava vindo um carro em alta velocidade.

Tudo pareceu acontecer em câmera lenta, vi o corpo de Filipe sendo arremessado por cima do para-brisa, chocando-se na pista.

— Filipe! — gritei enquanto corria ao seu encontro.

Várias coisas aconteceram em simultâneo, pessoas correndo para onde estávamos.

O motorista saltou do carro e veio ao nosso encontro.

Havia sangue, muito sangue.

Agachei ao lado de Filipe, tentando não entrar em pânico enquanto via um fio de sangue sair de sua boca. Comecei a tremer, sem saber o que fazer. Lágrimas começaram a rolar em meu rosto, mostrando o meu descontrole.

— Eva, eu sinto muito...

— Não fale... Chamem uma ambulância! — gritei olhando para as pessoas.

Alguém começou a digitar algo no celular.

— Aguenta firme, uma ambulância chegará logo — tentei acalmá-lo.

— Eu só queria que soubesse que amo você. Eu amo você...

Seus olhos gradualmente foram fechando, sua boca perdendo os movimentos e o meu desespero me tomando por completo.

— Filipe! Filipe! — gritei como se minha vida dependesse disso.

Senti meus braços sendo agarrados por alguém, e homens vestidos de branco passando por mim e agachando ao lado de Filipe.

Seu amor, meu destinoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora