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Luan

Eu não vim aqui para dizer que não posso viver sem você. Eu posso viver sem você. Mas eu não quero.
(Dizem por aí)

Tenho duas vidas: uma antes da luta clandestina e outra depois dela.

Há algo sobre minha vida quem ninguém sabe. Essa pessoa que todos veem é um personagem que criei para encobrir quem eu realmente sou.

A luta me trouxe aos quatorze anos algo que eu não tinha: força para me defender da pessoa que me usava como saco de pancada. Meu pai era um homem que não tinha respeito por sua família.

Quando ele não descontava suas frustrações em mim ou na minha irmã, era nossa mãe que sofria com suas agressões. Por longos anos, fomos prisioneiros de um homem violento.

Todos ficamos com sequelas. Pelo menos, eu e minha mãe. Emília acabou não sendo forte o bastante, tirando a própria vida aos doze anos.

Quando ele enfim deixou nossas vidas, minha família já estava destruída. Por contas das surras, minha mãe perdeu a visão, e eu perdi minha audição.

Ninguém sabe do meu problema ou sobre a história da minha família. Não preciso que sintam pena do pobre garoto que sofreu agressões de um pai alcoólatra.

Sobrevivi e é isso que eles precisam ver: Luan Baeta, o "Máscara".

Deve estar se perguntando como ninguém percebeu que sou diferente. Tive que aprender a ler lábios, a única maneira de me sentir normal.

Quatro anos após a perda de Emília, minha mãe descobriu estar com um tumor no cérebro em estado avançado. O médico deu apenas seis meses de vida, mas com algumas pesquisas realizados, descobri tratamento com medicamentos vindo do exterior. Precisei encontrar uma maneira de ter dinheiro de maneira rápida.

Foi então que a luta entrou na minha vida. Uma grana alta recebida a cada vitória. Todo o dinheiro investido no tratamento.

Mesmo sabendo que a qualquer momento posso perdê-la, ainda não me sinto preparado. Ela é minha única família.

Sempre que visito minha mãe na clínica, parece que perco um pedaço de mim. Sei o quanto ela se esforça para demonstrar que está bem, mas com a vida de lutador, aprendi a reconhecer a dor apenas em olhar a pessoa. Minha mãe sofre. Um simples sorriso requer todo o seu esforço.

Então para não desabar, eu preciso sair, beber, pegar garotas e por algumas horas esquecer a merda que é minha vida.

E que lugar melhor para fazer do que Hopes Dance?

Rubens e Guto sempre estão comigo. Mesmo sendo meus amigos, eu nunca falei para eles sobre minha família, ou sobre meus problemas. Há coisas que não precisam ser compartilhadas.

Eu tinha uma luta hoje, mais minha mente não estava 100% e eu precisava estar completo na arena. Perder significaria não levar dinheiro para casa, e não levar dinheiro, significava que minha mãe não receberia o tratamento.

Garotas lotavam nosso camarote quando marcávamos presença. Adoro a fama de luta. Alice estava sendo a atual, mas não era uma candidata ficante fixa, estavam apenas curtindo o momento.

Ela estava fora da cidade envolvido em algum problema de família ou algo parecido. Nunca me importei com o que ela faz quando está fora da minha cama.

Ana, uma das dançarinas da boate estava tentando deixar minha mente ocupada. Estava tendo sucesso até minha visão ir direto para a morena que acabara de chegar ao bar.

Era ela, a garota do café. Seus longos cabelos estavam jogados para o lado, dando uma bela visão das suas costas nuas.

A primeira vez que a vi, eu estava dentro do meu carro, falando com um dos organizadores de luta clandestina. Não passou despercebido que ela não conseguia parar de me olhar.

Nos dias seguintes, quando acontecia de chegar mais cedo, ficava no carro esperando ela estacionar o seu ao meu lado.

Ela perdia pelo menos dois minutos, realizando longas respirações antes de pegar sua mochila, dar uma última olhada no espelho e saltar do carro.

Era amiga de Mia, e com certeza ela já passara a minha ficha. Eu não era de ter relacionamento. Já havia sofrido perdas demais, não queria ter que sofrer por mais ninguém.

Vi quando ela encontrou um banco vazio, perto do bar e esperou alguém para pedir uma bebida. Nossos olhos se encontraram, enquanto ela fazia uma varredura pelo lugar.

— O que está chamando tanto a sua atenção? — a voz de Rubens cortou o nosso contato.

— Nada — falei voltando a atenção para a garota sentada em minhas pernas.

— Você não me engana. Viu alguma presa lá embaixo?

— Não vi nada Rubens, já falei. Apenas entediado. Que horas começa o show? — desviei do assunto da visão lá embaixo.

— Você sabe que a Gabi só entra a meia-noite.

— Eu sei, caralho!

— Cara, o que falei demais?

— Preciso de uma bebida mais forte.

Empurrei a garota que estava em minhas pernas para o lado e segui para a escada. Eu precisava esfriar a cabeça.

Pensei que iria encontrá-la no mesmo lugar, mas quando me aproximei, o lugar estava vazio. Para onde ela fora?

Fiz sinal para o barman e pedi uma cerveja. Para meu desagrado, Mia veio me atender.

— O que quer beber? — perguntou sem rodeios.

— O que me sugere? — perguntei provocando-a.

— Não tenho a noite toda. O bar está lotado, então escolhe logo o que quer beber.

— Você nunca mais falará comigo direito?

— O que quer beber?

Supus que levaria um bom tempo mesmo. Mas ela foi avisada por todos que eu não tinha relacionamento. Mia saiu comigo por vontade própria, não a forcei a nada.

— Cerveja — falei por fim.

Enquanto aguardava minha bebida, olhei rapidamente para o espaço, procurando minha presa, mas nem sinal dela. Eu deveria estar com algum problema, porque eu não corria atrás de garotas, eram elas que corriam atrás de mim. Então, porque eu estava atrás de uma garota com jeito de "Virgem Imaculada"?

Peguei minha cerveja e comecei a fazer meu caminho de volta, quando a vi voltando acompanhada de uma morena, tão linda quanto ela.

Quando elas me viram, a garota do café, congelou por alguns segundos, tempo suficiente para notar saber teria que passar por mim, para chegar até o bar.

Fiz o que fazia sempre quando uma garota caía nos meus encantos, sorri e caminhei em direção a elas.

— Não esperava encontrá-la aqui.

Segui meu caminho de volta para o camarote, sem olhar para trás, na certeza de que eu havia atingido meu objetivo.

— Encontrou uma nova amiga Luan? — Guto perguntou quando me sentei novamente na poltrona.

— Sabe que não tenho amigas, ainda mais uma como aquela — falei com desdém.

— Bom, pode não fazer o seu tipo, mas com certeza faz o tipo de alguém aqui. Com licença rapazes, suponho que encontrei minha diversão da noite.

Antes mesmo que eu fizesse algum movimento, Guto já estava saltando para fora da sala. Rubens ergueu uma sobrancelha em minha direção e quando ele fazia isso, era sinal que estava desconfiado de algo. Tomei um gole da minha cerveja enquanto outra garota sentava no meu colo.

Rubens ficou me observando por alguns segundos, mas logo depois, voltou sua atenção para uma ruiva que estava acariciando sua perna, exigindo atenção..


Seu amor, meu destinoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora