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Luan


Nunca deixe alguém te fazer sentir como se não merecesse o que quer.
(10 coisas que eu odeio em você)

Jamais passaria pela minha mente que uma garota como Eva conseguisse ferir alguém. Tinha algo estranho na maneira como Alice a acusava com tanta certeza. As duas eram ou foram amigas no passado.

Eu queria saber mais, queria ouvir a versão de Eva. Ou será que eu tinha me enganado em meu julgamento e Eva fosse apenas mais uma garota fútil que frequentava a faculdade?

— Você não conhece Eva como eu conheço. Sempre se achou melhor que todo mundo pelo fato do seu pai ser o prefeito da cidade. Filha única, sempre teve suas vontades atendidas, então quando Filipe terminou tudo com ela, Eva simplesmente surtou e o resto você já sabe.

Alice insistira em vir para casa comigo. Eu não estava com saco para ouvir suas lamúrias. A visão de Eva saindo quase correndo da faculdade não saía da minha mente.

— Ela não parece ser o tipo de garota que não aceita um não como resposta. Claro que tem toda uma marra, uma maneira de me ignorar, mas assassina...

— Você fala como se a conhecesse. O que aconteceu enquanto eu estive fora? Quando se tornou amigo dela?

— Não sou amigo dela.

— Vocês ficaram?

— Nunca lhe prometi fidelidade. Estamos tendo uma relação aberta, você é livre para ficar com quem quiser, assim como eu.

Levantei-me da cama, usando apenas boxe branca e procurei meus cigarros. Era um vício que eu estava tentando deixar.

— Estamos juntos há quase dois meses. Seus relacionamentos nunca passam de duas semanas, então achei...

— Achou errado. Você soube desde o início que eu não namoro e não mudarei isso.

— Como você pode ser tão insensível?

— Você já me conheceu assim. Se quiser sair, fique a vontade, eu não ligo — falei acendendo um cigarro e indo para a janela.

Alice saiu da cama e começou a recolher suas roupas.

— Eu não sei por que ainda me presto a esse papel, a essa humilhação.

— Vamos deixar outra coisa clara aqui, nunca te forcei a vir aqui. Porque não volta para seu apartamento luxuoso e procura um cara a sua altura e vá colocar uma aliança em seu dedo? Porque da minha parte não terá nada além de sexo.

— Você é um grande imbecil.

Alice terminou de vestir suas roupas e saiu do quarto batendo a porta.

Na manhã seguinte quando cheguei ao estacionamento da faculdade, estacionei e esperei por Eva. Embora não fosse do meu feitio, algo sobre ela me intrigava. Desde nosso primeiro encontro, minha atenção e meu olhar estavam sempre atrás dela.

Esperei por cerca de uma hora. Eva não era de se atrasar, então isso era sinal de que acontecera algo.

Nos dois dias seguintes também não a vi. Mia poderia saber seu paradeiro, mas eu não queria parecer interessado perguntando pela vida de sua amiga. A única maneira de descobrir seria ir até seu apartamento e verificar.

Mandei mensagem para Guto e Rubens, avisando que me atrasaria para o treino. Eu passaria no apartamento de Eva, ver o que estava acontecendo e depois seguiria para a academia.

O que de ruim poderia acontecer, além dela não me receber?

Estacionei meu carro em uma vaga em frente ao prédio dela e depois toquei o interfone. Não me lembrava do número do seu apartamento, então teria que tentar a sorte com o porteiro.

— Sim, o que deseja? — perguntou quando se aproximou do portão.

— Sou um amigo da Eva, estive aqui com ela outro dia, ajudando com suas compras.

— Eva não está podendo receber visitas, está com uma virose muito forte, então se quiser deixar recado.

— Eu poderia, mas estou com a matéria da aula de hoje.

— Sinto muito, mas ela não quer ver ninguém.

Ele não me deixaria entrar e eu não iria embora até conseguir falar com ela.

— Espera, ligarei para perguntar se posso subir — peguei meu telefone, fingi discar seu número — oi Eva, sou eu Luan, olha só, eu trouxe a matéria da aula de hoje, é importante para a prova da semana que vem, mas o porteiro não está me deixando entrar, será que... Certo, vou falar aqui...

Desliguei o telefone e coloquei no bolso novamente.

— Eva disse que posso subir — disse tentando ser convincente.

— Ela disse que não queria ver ninguém.

— Você pode interfonar e perguntar, mas julgo que será tempo perdido. Mal dá para ouvir sua voz, a coitada deve ter feito um grande esforço para atender o telefone, imagine ter que se levantar da cama para atender o interfone...

O porteiro ficou em silêncio por alguns segundos e depois só ouvi o estalo do portão abrindo.

Foi mais fácil do que pensei.

— Obrigado amigo — falei enquanto me dirigia para o elevador.

O que eu pensava estar fazendo? Aparecer na casa de uma garota só para saber o motivo dela não ter ido para a aula dois dias seguidos?

Ergui a mão para bater na porta, mas recuei. O que eu falaria quando ela abrisse a porta?
E se ela estivesse bem, apenas não estava a fim de ir para a aula?
E se estivesse acompanhada?

Não, ela não estava acompanhada, o porteiro havia sido bem claro ao falar que ela não queria visita.

Soltei um longo suspiro e bati na porta. Foram longos segundos sem ouvir uma resposta. Bati mais forte e dessa vez, ela com certeza ouviria.

Nada.

Será que estava dormindo e não estava ouvindo as batidas?

— Ok, tente mais uma vez e depois vá embora — falei comigo mesmo.

Quatro toques. Se eu não recebesse uma resposta, desistiria e iria embora. Seria até melhor, assim ela não saberia que eu viera ao seu apartamento.

Quando fiz menção de me afastar, a porta abriu e a primeira coisa que notei foi que a garota não era Eva.

Parecia que passara as noites em claro, seus cabelos estavam mais bagunçados do que o normal e seu rosto está pálido demais, como se ela estivesse mais doente do que o porteiro informara.

Seus olhos estavam vermelhos, como se tivesse chorado por horas seguidas. Poderia ser devido à virose.

E suas roupas... Encontrar uma garota de pantufas e pijama do Bob Esponja, não era minha fantasia preferida.

— Como entrou aqui? — foi a primeira coisa que perguntou com sua voz rouca.

— Falei com o porteiro e ele me deixou entrar — falei como se não fosse nada tão grave ter mentido para o cara.

— Fui bem clara em não receber visitas.

— Trouxe a matéria de hoje.

— Que matéria? Nós nem temos aula juntos.

— Vai me deixar entrar, ou teremos essa conversa aqui mesmo?

Eva ficou alguns segundos pensando antes de me deixar entrar.

Seu amor, meu destinoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora