Capítulo XVIII ; Por Juliette

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Após um dia de aulas exaustivas, eu voltei para casa e coloquei uma das minhas roupas favoritas, que não era apropriada para ir pra faculdade, mas que felizmente era perfeita para ir na igreja.

Olhei para minha imagem no espelho e sorri. Aquela era eu. E eu me sentia bem daquele jeito. Será que Jace me acharia bonita daquele jeito?

Por que eu estava pensando no quê Jace acharia de mim? Eu deveria estar pensando em como abordaria o assunto com o padre e não em Jace.

Peguei ums bolsa enorme para colocar o material da biblioteca, eu iria direto para lá depois que saísse da igreja.

Deus é importante, mas estudar também é.

Além disso, ir na biblioteca representava que eu veria Jace. Mesmo que nesse dia o padre pudesse me aconselhar a ficar longe dele, ao menos eu poderia explicar para ele as minhas razões.

(...)

A igreja mais próxima da faculdade não era uma daquelas que parecem um castelo de tão grande e majestosa, porém era maior que a do meu antigo colégio.

Quando entrei na igreja, a paz me atingiu instantâneamente.

Era isso. Eu estava em casa!

Abri um sorriso largo por pela primeira vez em algum tempo estar me sentindo tão bem em um lugar.

Após fazer o sinal da cruz, me sentei em um dos bancos da igreja e orei.

Agradeci a Deus por eu ser tão abençoada e privilegiada, eu tinha tudo, enquanto tantas pessoas viviam com pouco. Também agradeci por ter encontrado tantas pessoas amigáveis na faculdade e por estar me saindo bem. Depois eu pedi que ele me desse sabedoria, que eu continuasse podendo seguir junto a dele e que naquele dia, fosse feita a sua vontade. E que a mente do padre fosse iluminada para que ele me desse o melhor auxílio possível.

Então, consegui encontrar uma funcionária da igreja e perguntei se o padre se encontrava.

- A senhorita quer se confessar? - Ela perguntou.

- Não, senhora. Eu apenas gostaria de conversar com ele, preciso muito ser aconselhada.

- Eu compreendo. Vou levá-la até o nosso escritório e irei procurar por ele, você pode esperar lá que ele irá ao seu encontro.

- Muito obrigada. Que Deus lhe abençoe!

(...)

Ela me deixou no escritório, onde eu me sentei em uma cadeira mogno. Era um escritório bem simples, tinha apenas uma mesa com duas cadeiras e um monte de papelada, não tinha nem mesmo um computador.

Fiquei sentada ali por um tempo, olhando para as minhas unhas que Alice pintara de rosa e de repente a porta abriu.

Eu me levantei rapidamente para o cumprimentar.

- Benção, padre.

- Que Deus te abençoe.

Voltei a me sentar quando ele ocupou a cadeira em minha frente. Ele era um senhorzinho, tinha a cara de um avô.

- Não costumam vir muitas jovens como você me pedir conselhos. A sua geração não é muito ligada à igreja, você deve ter tido uma boa criação religiosa.

- Sim, eu estudava em um internato católico, nós íamos todas as manhãs na igreja e eu tinha muito contato com o padre e as irmãs. Eu estudava lá desde muito pequena e saí não faz muito tempo.

- Você deve estar sentindo saudades.

- Com todo o respeito, padre, mas estou sentindo menos falta do que pensei que sentiria e esse é um dos motivos que me trouxe aqui.

Aquilo era verdade e me envergonhava, desde que eu havia saído do internato, nunca havia parado para pensar muito nele. Eu continuava orando todos os dias e pensando muito em Deus, mas eu não me sentia tão conectada a tudo isso quanto antes. Parecia que eu estava tão concetrada na minha vida nova que eu estava ignorando algo muito importante.

- Não sente saudade?

- Sinto das irmãs, de algumas colegas e professores, mas não do local em si. Eu entendo que tive o privilégio de ter uma educação religiosa, por algum tempo eu até pensei se teria vocação para ser freira, mas eu não tenho. Lá eu me sentia presa a maior parte do tempo, eu queria vir para o lado de fora e ser livre e agora que eu estou do lado de fora, é como se minha mente estivesse me aprisionando lá dentro e eu não sei o que fazer.

- Então a senhorita sente que você não está livre porque sua criação religiosa a está prendendo. Em que momentos você se sente assim?

- Não em muitos, na verdade. - Corei - Bem, tem um menino. Ele é o meu melhor amigo e é muito bonito. Nós nos damos bem e eu me sinto atraída por ele, eu sei que isso é errado, mas eu não consegui evitar.

- Ele é cristão?

- Não, padre.

- Então, vocês tiveram relações? - Minha boca abriu em choque e eu corei.

- Não, padre. Não fizemos nada disso. Nós nos beijamos algumas vezes e eu gostei. - Corei - E isso faz que eu me sinta péssima, eu não o culpo, porque eu tive uma educação religiosa, não ele. Então, eu que devo saber o certo.

- Me agrada ver jovens como você, mas não sinta que é sua obrigação estar certa o tempo inteiro, nenhum de nós é perfeito.

- Eu sei, padre. Só que eu não faço ideia do que fazer, minha amiga me deu alguns conselhos e eu até mesmo tinha tomado a decisão de ficar com ele, mesmo fora de um relacionamento e logo depois eu acabei me sentindo mal por isso e voltei a repensar tudo, é isso que me trouxe aqui, eu preciso de uma luz.

- Eu sei que a religião parece imutável, mas ela não é. O que é imutável é a palavra de Deus. Séculos atrás queimaram pessoas vivas e foram pessoas com a mesma religião que a nossa que orquestraram isso, esse é um passado que nos envergonha, mas um dia acharam isso correto. Isso significa que o mundo muda e até os cristãos mudam com ele. Minha posição como padre pode não mudar, mas eu recebo mães solteiras nessa igreja, pessoas com vícios, divorciadas, que mentem e traem. Nenhuma das pessoas que entram nessa igreja é perfeita, o que muda é que algumas vem aqui apenas para se mascarar e existem pessoas como você, que apesar de tudo querem manter Deus em sua vida. Você pode não estar vivendo na forma de Deus, mas Deus continua vivendo dentro de você, ou não teria vindo me procurar.

Por dentro, eu sorri. Ouvir aquilo foi um grande alívio. Saber que Deus estava junto de mim independente da minha vida ter mudado tanto. Só que ainda tinha uma situação para resolver: Jace.

- Ainda não sei o que fazer em relação ao meu amigo.

- Você está claramente com um conflito interno e acho que um profissional te ajudaria a entender melhor o que está sentindo que um padre. O que eu posso dizer é para se dar um tempo, tudo no tempo de Deus é perfeito e se com o tempo você decidir que quer realmente ficar com ele, é melhor que entrem em um relacionamento, mas tente não se precipitar em relação a isso.

(...)

Sorri quando saí da biblioteca e vi Jace.

- Oi, princesa você está lin... - O beijei antes que ele terminasse a mesma frase de sempre.

Aquela foi a primeira vez que eu tomei a iniciativa em relação a Jace e não poderia dizer que estava sendo ruim.

Quando terminamos, ele me olhou com uma expressão confusa e eu falei antes que perdesse a coragem.

- Você quer assistir Naruto comigo hoje lá em casa?

- Assistir Naruto? - Ele perguntou com uma expressão ainda mais confuso.

- Sim, é uma das melhores coisas disponíveis na Netflix.

- É claro que eu quero! - Ele respondeu sorrindo.

Eu sorri de volta. A intenção era realmente assistir, mas dessa vez eu não me oporia a beijar também se ele quisesse.

O Homem Que Me AmaWhere stories live. Discover now