Prólogo

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Ele estava à beira da insanidade, já não aguentava mais aquilo tudo, já não suportava mais os constantes sussurros, as assustadoras aparições, os ruídos das portas, aquela maldita névoa sem sentido pelo chão, ele já não suportava mais os habitantes sussurrando em seu ouvido para que ele tirasse a própria vida, falando para ele formas de se matar uma pessoa, ele não queria mais ouvir os ruídos nas paredes, ver as luzes se apagando sozinhas, os objetos se mexendo sem que ninguém os tocasse, ele já não sabia mais se existia uma diferença entre fantasia e realidade, tudo o que sabia era que não daria aos habitantes o gosto de atormentá-lo ou mesmo tortura-lo novamente, aquilo acabaria ali, ele já havia tomado sua decisão, uma decisão muito difícil, mas ele não voltaria atrás, sua cabeça já estava totalmente sobrecarregada, ele estava cansado de se esconder, de fingir que não ouvia, de fingir que não sentia os habitantes naquele lugar. Ele estava com a corda na mão, tudo o que tinha que fazer era saltar do banco que o sustentava e seu sofrimento acabaria. Finalmente chegaria ao fim...

***

A garota corria desesperadamente pelos corredores do orfanato, eles pareciam não terem fim, mas ela tinha que continuar, ela sabia o que ele estava pretendendo, ela não podia deixar, ele tinha que aguentar, só mais um pouco, já havia suportado todos aqueles meses, ele não podia se dar por vencido agora. Ela corria às pressas desabaladamente até o quarto onde seu amigo estava, ao chegar à porta ela a abre bruscamente e, ao olhar o cadáver a sua frente, seus olhos se arregalam, era tarde demais, ele já havia o feito, ele já havia tirado a própria vida, a garota olhava fixamente para o cadáver que era sustentado por uma corda em volta de seu pescoço enquanto balançava de um lado para o outro, provavelmente por ter se debatido antes de morrer, as lágrimas já escorriam pelas suas bochechas, mas ela não gritara, pois ela não estava surpresa, ela já sabia que ele o faria, que ele cederia aos habitantes, ela apenas respirou fundo, deu meia volta e foi até a sala da diretora Irina para dizer—lhe o que havia acontecido. Não que esta demonstrasse algum sentimento ou fizesse algum esforço para mostrar que se importava quando isso acontecia.

O Orfanato da TormentaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora