Capítulo 5

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lágrimas de sangue

Bia andava lentamente pelo corredor. Após descer as escadas, a garota passou os olhos por toda a casa, procurando ouvir a música macabra novamente, logo se acalmou, ao perceber que o único som que havia na casa era o dos garfos batendo nos pratos que vinha da sala de jantar. A garota passou timidamente pela porta e olhou a mesa, contando com Bia, o orfanato tinha dezesseis crianças.
—Boa tarde Bianca, você pode se sentar ao lado de Alice. — A diretora expressava um sorriso simpático. Bia sentou—se ao lado da menina sem falar nada, quem estava sentada a sua frente era Roberta, Bia sentia calafrios ao fita-la. O almoço se passou lento e monotonamente, o clima estava um pouco tenso e silencioso, ouvia—se apenas os talheres se chocando contra os pratos. Ao fim, Bia retornou ao seu quarto, e para sua tristeza, Roberta estava nele jogada na cama desleixadamente, a garota parecia contar alguma coisa que estava no teto, ao olhar Bia viu várias caveiras negras rabiscadas no local, ela tomou coragem para falar com Roberta:
— Foi você que desenhou isso? — Ela tentou puxar assunto.
—Não, foi outra pessoa a um bom tempo, ele não vive mais aqui, agora ele vive em outro cômodo, com certeza logo você irá conhece-lo. —A garota esboçava um sorriso malicioso no rosto.
—Mas se ele desenhou isso há tempos, como vou conhece-lo? — Bia franziu o cenho.
— Você é bastante ingênua, duvido que suporte sequer os habitantes. — Bia franziu o cenho ainda mais.
—O que quer dizer com os habitantes? —A garota se encontrava atônita.
—Logo logo você irá saber. —Roberta mostrava uma expressão misteriosa. Bia achou melhor ignora-la, ela deitou—se na cama e tentou dormir um pouco, tinha acordado cedo naquele dia.
Ao acordar, Bia olhou em seu celular e viu que eram 5:00 horas da tarde, a garota passou os olhos pelo quarto tentando adapta-los a luz do dia que entrava pela janela, Bia se levantou ainda atordoada e pegou sua toalha, ela se lembrou que ainda não tinha tomado banho. De repente, ela ouve novamente a música macabra, seus olhos se arregalam, a garota corre às pressas para o quarto de Alice, ela entra rápida e bruscamente batendo a porta atrás de si e se jogando em Alice, a mesma ficou atônita e franziu o cenho.
—O que houve? —A garota interrogou sem entender.
—A m—musica, e—ela voltou. — Bia gaguejava as palavras para Alice.
—Duas vezes no mesmo dia, isso não é muito comum, na verdade nunca aconteceu. —Alice ergueu a sobrancelha, mostrando o quão estava confusa.
— Por que isso acontece comigo, por que esse lugar é assim? — Bia estava com os olhos marejados.
—Bom... Na verdade isso acontece com todo mundo, e ninguém sabe por que esse lugar é assim, existem apenas algumas hipóteses, mas ninguém acredita que sejam verdade. Agora se acalme e volte para seu quarto, se você demonstrar medo, eles aparecerão com mais frequência e ainda mais fortes.
— Tudo bem, vou tentar ser mais forte, mais corajosa. — Bia olhou ao seu redor, viu que as duas garotas estavam sozinhas. —Mas onde está Ângela? —A garota perguntou.
—Não sei, ela disse que foi dar uma volta no quintal. — Bia achou um pouco estranho, mas ainda assim se despediu de Alice e saiu do quarto. Ao fechar a porta atrás de si, ela olhou de relance para a porta de seu quarto e viu uma sombra semelhante a que tinha visto em seu sonho, em desespero, a garota corre até a última porta do corredor e a abre bruscamente, ao entrar, fecha a porta com força e a tranca. Bia estava horrorizada, suas mãos tremiam freneticamente, seus olhos estavam tão dilatados que surgiam linhas vermelhas na esclera, a garota se direcionou a pia e lavou o rosto com bastante água.
—Devo estar ficando louca, com certeza estou louca. —Ela falava para si própria repetidas vezes. Bia encostou—se a parede azulejada atrás de si e deslizou até sentar no chão gelado, segurou os próprios joelhos e deixou que as lágrimas caíssem. Ela já estava farta, cansada dessas assombrações, tudo o que ela queria era poder voltar no tempo e ficar com a sua mãe novamente. Bia estava tão assustada e sentia—se tão deslocada, aconteceu tudo tão de repente que ela não teve tempo de digerir tudo. O que Bia não sabia, era que dessa vez, a música não estava vindo de todos os lados, mas sim de um ponto fixo, a música saía de algum lugar embaixo de sua cama. Enquanto as lágrimas caiam, Bia ouviu uma risada que vinha de um lugar escuro no banheiro, na parte onde ficava o chuveiro, os pelos de sua nuca se eriçaram, Ela ouviu outra risada e, debaixo do chuveiro, surgiu um homem vestido de empregado, suas roupas eram de um modelo antigo e bastante elegante, ele estava de Preto e branco e uma gravata borboleta manchada de sangue. Bia estava atônita, um calafrio subiu pela sua espinha e ela estremeceu, seus olhos estavam arregalados, a criatura tinha um filete de sangue que escorria de sua garganta, Bia o fitava paralisada de medo, ele desviou o olhar para ela e a garota pôde ver seus olhos, aliás, as fendas negras que tinha em seu lugar, o homem não tinha olhos, eram apenas espaços vazios, isso fez o coração de Bia saltitar em seu peito, seu estômago embrulhou e ela tinha um nó na garganta. A criatura pegou o lenço perfeitamente dobrado de seu pulso e cobriu o rosto, soluços abafados começaram a sair do rosto coberto do homem, o lenço começou a ganhar uma coloração vermelha até que ficou totalmente ensanguentado, ele parou de soluçar e tirou o lenço do rosto e, Bia, com o estômago revirando, viu que o homem chorava lágrimas de sangue, das fendas em seus olhos siam finas linhas vermelhas, rapidamente o homem assumiu uma feição sombria e hostil, seu rosto se endureceu e ganhou uma forma raivosa.
— Ela ainda está viva, isso não é justo, ela ainda está viva. —O homem quase sussurrava, sua voz era rouca e lenta. —Só de saber que ela ainda está viva me deixa com ódio, ódio dela e ódio desse lugar. —O semblante do homem ficou ainda mais negro e ele continuava a chorar sangue. — Ela me prendeu aqui e está viva às minhas custas. —O homem começou a berrar de ódio e Bia estremeceu completamente horrorizada. — ELA AINDA ESTÁ VIVA, AQUELA DESGRAÇADA TIROU MINHA VIDA E CONTINUA VIVA, CONTINUA IMPUNE, ELA AINDA ESTÁ VIVA, ELA AINDA ESTÁ VIVA, ELA... —De repente o chuveiro ligou sozinho e o homem começou a se acalmar. —Ela está viva... Ela está... Ela... —Sua voz foi ficando cada vez mais fraca até que finalmente desapareceu por completo e o homem se acalmou totalmente, sua feição voltou a ficar como antes, novamente ele começou a chorar sangue, e então desapareceu. Bia estava tremendo de medo e com os olhos arregalados para o lugar onde antes o homem tinha acabado de tomar um banho e depois simplesmente evaporado, a garota levantou—se rapidamente e abriu a porta do banheiro a batendo atrás de si, ela correu desesperada até seu quarto e entrou fechando a porta instantaneamente atrás de si, com um baque. Seu coração pulsava ferozmente em seu peito, ela sentia fortes pontadas na cabeça, estava tonta e com náuseas, em uma fração de segundos, a visão de Bia escureceu e a garota sentiu apenas a dor de sua cabeça batendo contra o piso do orfanato.
Ao acordar, Bia estava deitada em sua cama e sentia uma forte dor de cabeça, a garota passou os olhos pelo quarto, ainda tonta, e então ouviu a voz de duas pessoas que conversavam atrás da porta, mesmo atônita, ela se levantou e se aproximou da porta.
—Sra. Irina, ela não vai suportar, não faz nem um dia, e ela já foi assombrada até desmaiar. — Bia percebeu que estavam falando dela, mas não reconhecia a voz feminina. — Por favor, Irina, leve a garota para outro orfanato, por favor. —A mulher implorava para a diretora.
—Cale—se Katherine. — Bia reconheceu esse nome, Katherine é o nome da empregada. —Não importa o que acontece a garota, desde que no final aconteça o que aconteceu a todos os outros, desde que ela acabe se matando também. — Bia estava atordoada com aquilo, mas logo ela pensou que fosse outra assombração dos fantasmas da casa, então ela lentamente abriu a porta e, ao olhar o corredor, viu que não havia ninguém, concluiu que realmente estava ouvindo coisas.
Bia entrou novamente no quarto e abriu as cortinas, viu que já era noite lá fora, ela ainda não havia percebido, pois as cortinas eram negras, Bia ficara desacordada a tarde toda,
Apesar de ter dormido todo aquele tempo, encontrava—se exausta e faminta, ela desceu as escadas e foi até a geladeira, onde preparou três sanduíches e comeu—os rapidamente, Bia novamente subiu as escadas, um pouco receosa, e foi para seu quarto, se jogando em sua cama. Ao olhar para a outra, Bia viu que Roberta não estava deitada, ela decidiu não ligar para isso e fechou os olhos esperando o sono chegar.

***

Acordou suando frio, ela acabara de ter outro sonho com sua mãe, e nada mudou, foram as mesmas palavras, as mesmas ações e, no final, o mesmo destino. Ela passou os olhos pelo quarto, Roberta continuava ausente em sua cama, Bia levantou—se e se dirigiu ao banheiro, ela parou bem em frente à porta e segurou a maçaneta, relutante em abri—la, ao tomar coragem suficiente, finalmente a abriu e rapidamente fez sua higiene, saindo dali o mais depressa que conseguiu. Irina anunciou o café da manhã e todos desceram para a sala de jantar, Bia entrou na mesma e sentou—se à mesa em seu costumeiro lugar.
—Bom dia Bianca. —A diretora saudou a garota.
— Bom dia diretora Irina. — Bia se apressou a responder.
—Saiba que a partir de amanhã você e Ângela já estarão estudando, já está tudo resolvido na escola, aliás, ela fica no final da rua então você pode ir a pé junto às outras crianças. — Bia desconfiou a informação repentina, mas mesmo assim assentiu.
—Oh sim, claro, muito obrigada. —Bia nem sabia por que estava agradecendo, na verdade, desde que sua mãe morreu ela passava todas as manhãs pensando nela, na mudança drástica e no rumo tão repentino que sua vida tomara, em questão de dias, Bia perdeu a mãe, assim se tornando órfã, perdeu os amigos, abandonou sua escola, foi para um abrigo e depois para um orfanato assombrado, sem levar em conta que Bia nem mesmo acreditava em fantasmas, pelo menos não antes de chegar até o orfanato. Agora já não sabia mais.
Bia rapidamente tomou seu café e voltou para seu quarto, ela queria ficar sozinha, queria apenas deitar e chorar, mas Roberta estava no quarto, Bia fingiu não se importar e deitou na cama deixando que as lágrimas caíssem, Roberta a fitou com um ar de decepcionada, e então falou com a garota:
—Você não pode se entregar tão fácil, e se quiser sobreviver, vai ter que ser bem mais forte que isso, ou vai acabar se matando. — Bia estava surpresa com o tom da garota, era a primeira vez que Roberta falava de uma forma gentil com Bia. — Você não pode ficar chorando pelo que já aconteceu, isso deixa eles mais fortes, e você não pode se lamentar pelo que não é culpa sua, neste lugar, você não tem tempo para chorar, precisa endurecer seu coração e aprender a suportar a dor. — Bia, mesmo achando estranha a forma misteriosa da garota, resolveu interagir.
—Mas por que esse lugar é assim? O que aconteceu aqui? — Bia interrogou, limpando as lágrimas de seus olhos.
— Isso eu não tenho permissão de dizer, o máximo que posso falar é que o alívio vem sempre depois da dor, tudo está para acontecer, os segredos estão para ser descobertos e a verdadeira face daquela que tem o verdadeiro nome como o título do lugar amaldiçoado está para ser revelada. Isso foi o que "ele" pediu que eu lhe contasse. Agora você está por conta própria, sua sobrevivência só depende de você mesma. —A garota tinha um ar tão enigmático que estava começando a assustar Bianca, ela estava atônita, não entendeu absolutamente nada do que Roberta quis dizer com aquele enigma, a mesma levantou—se da cama e saiu do quarto, deixando Bia com seus pensamentos confusos.

O Orfanato da TormentaWhere stories live. Discover now