Capítulo 19

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O Segredo da Catedral

O dia nunca fora tão entediante e ao mesmo tempo incrível para aqueles adolescentes, não havia nada para se fazer, eles estavam faltando aula, por segurança, pois não podiam confiar em ninguém além dos que estavam ali, mas ninguém parecia se sentir mal, estavam conversando uns com os outros, comendo lanches, sorrindo, finalmente sorrindo de verdade, se sentiam livres, apesar de sozinhos contra o mundo e presos na catedral, mas pelo menos ali não precisavam estar em constante preocupação, atentos a todo momento, ali era possível descansar, e eles estavam muito cansados.

Apenas um garoto parecia triste, cabisbaixo, Bia olhava atentamente para ele, era o mesmo menino que atendeu a porta quando ela bateu no quarto de Gustavo.

—Ele vai ficar bem, ele gostava da Beca, a garota que se matou. —Bia olhou para o lado e viu Gustavo, lhe oferecendo um sanduiche que trazia na mão, enquanto comia outro de uma maneira desleixada, o que contradizia com seu cabelo preto muito bem penteado.

—Parece que existem muito mais relações entre as pessoas daqui do que eu pensei, só não conseguiam demonstrar isso dentro do orfanato. —Gustavo ficou preso no olhar da garota, admirado.

—É incrível a maneira como você compreende as coisas. —Ele disse de uma maneira tão sincera que deixou Bia um pouco sem graça.

—Qual é o nome dele? —Ela mudou de assunto.

—Tim, Timothy, na verdade. —Ele virou o rosto para olhar novamente para o garoto. Bia continuou analisando, era um garoto bonito, de pele meio escura, cabelos negros e cacheados, lábios carnudos e sobrancelhas que davam um charme de realce ao seu rosto afilado. Mesmo com aquela aura sombria pairando sobre ele, continuava um belo homem, talvez, se tivessem tido uma chance, ele e Rebeca formassem um casal lindo, isso a deixou um pouco culpada por não ter agido antes de ela tirar a própria vida. Gustavo pareceu ler os seus pensamentos.

—Ele vai conseguir superar, é quase tão forte quanto você. Você salvou as nossas vidas, Rebeca estaria feliz por você ter dado uma chance para ele.

Bia não sabia como reagir aquelas palavras, então apenas acenou positivamente com a cabeça e, antes que pudesse dizer algo para complementar, ouviu o som peculiar e ensurdecedor do sino da catedral tocando, badalando loucamente até o som se perder no eco da catedral, quando finalmente acabou, ela escutou outro som, o grito de uma menina que assustou a todos dentro do recinto, ela, junto de Gustavo, foi investigar na parte de trás, onde agora era uma espécie de cozinha, e Alice disse que veio do topo da escada que levava até o sino e o farol da catedral, ela engoliu em seco, e subiu as escadas, com Gustavo ainda a acompanhando.

Encontrou no topo duas meninas, uma de pé, horrorizada, e outra caída no chão, desacordada, uma delas era Roberta e a outra Ângela

—O que aconteceu aqui? —Ela perguntou olhando para Ângela no chão e depois para Roberta, que estava com as mãos cobrindo a boca.

—Ela tocou no sino e simplesmente caiu no chão, eu não sei o que houve com ela. —A garota respondeu entre lágrimas e soluços. Bia se aproximou da menina no chão e colocou a mão em seu peito, seu coração batia, e ele subia e descia, então ela respirava.

—Ela está viva, parece que apenas desmaiou.

—Menos mal, mas por que ela desmaiou? —Gustavo perguntou olhando para Roberta.

—Não faço a menor ideia, que eu saiba, ela não tem nenhum problema, pelo menos não algum que cause desmaios recorrentes. —Ela se aproximou e se abaixou, colocando a cabeça de Ângela em seu colo e segurou sua mão. —Vocês acham que ela vai acordar logo? —Perguntou com uma voz baixa.

O Orfanato da TormentaWhere stories live. Discover now