Capítulo 7

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O Jogo da Forca

O Sol atravessando a janela acordou Bia bem cedo naquela manhã, ela levantou—se e procurou inutilmente seu celular em suas coisas uma última vez, para então perder as esperanças por completo, mas uma coisa ainda incomodava Bia, quem havia roubado seu celular? E para que essa pessoa, se é que foi uma pessoa, queria ele? Isso deixou Bia um tanto conturbada, e ao mesmo tempo triste, além de ter perdido as esperanças de sair daquele lugar, Bia não poderia falar mais com Peny, e isso a deixava frustrada. A garota levantou—se da cama de Roberta, onde estava procurando o celular, e foi para o banheiro. Ela lavou seus cabelos, que passavam cerca de 20 cm de seu ombro e tinha uma cor loiro claro, e tomou um banho bastante demorado. Antes de sair do banheiro, Bia olhou—se no espelho, seus olhos castanhos inchados pelas lágrimas da noite anterior, ela estava pensando em como enlouqueceria dentro daquele lugar. Bia lembrou—se, repentinamente, do habitante que ela vira dentro daquele banheiro, a garota saiu o mais rápido que pode daquele lugar e trocou de roupa para ir tomar café da manhã.

***

Já fazia quase uma hora que Bia tinha ido para a escola, e Katherine pensava em um jeito de ajudar a garota a suportar o local, ela não podia deixar que Bia sofresse naquele lugar, tinha que encontrar um jeito de ajuda-la. Katherine andava de um lado para o outro de seu quarto, perdida em devaneios, pensando em um plano para ajudar a salvar Bia de tudo aquilo, ela já havia implorado a sua irmã para que não machucasse a garota, mas esta não deu ouvidos, afinal, não existiam exceções para quem não visse a cerimônia.
Katherine já tinha pensado em várias formas de ajudar a garota, mas não havia para onde manda-la, e a mulher não podia controlar os habitantes, eles faziam o que eles bem entendessem. Mas Katherine acharia uma forma, ela não podia abandona-la agora, não depois de tudo o que fizera por ela, não agora que a garota se sente mais só do que nunca, e isso ainda piorou depois que sua irmã roubou o celular dela.

***

Bia estava no horário de recreio na escola, ela pensava em como sair do orfanato, mas realmente não havia maneiras para isso, o lugar ficava no meio do nada, nunca houve uma adoção nele e Bia suspeitava de que sua localização fosse desconhecida para os outros, provavelmente quem sabia da localização eram apenas os estudantes daquela escola, mas como pediria ajuda, quando todo mundo te evita e tem medo de você? Quem acreditaria que ele é assombrado por fantasmas de verdade? Quem acreditaria que as crianças se matavam naquele lugar? O fato de eles terem medo é apenas um mito contado por pessoas, na verdade ninguém nunca entrou no orfanato, pois a diretora Irina não deixa. Afinal, sempre que uma criança está para chegar, outra acaba se matando, assim o número de crianças no orfanato é sempre o mesmo, então quem acreditaria que as crianças morrem, já que sempre tem a mesma quantidade? Mesmo que dessem falta de alguém, provavelmente achariam que ele foi adotado. Em outras palavras, Bia não tinha a menor chance de sair daquele orfanato, pelo menos não viva.
Ao chegar em frente ao orfanato, Bia abriu a porta e deu de cara com Katherine que fazia faxina na mesa com o jarro de flores que tinha ao lado da porta.
—Boa tarde Bianca. —Saudou a empregada.
—Boa tarde Katherine. —Bianca falou com a voz cansada.
—Você está bem? Precisa de alguma coisa? —A mulher perguntou mostrando sua preocupação. Bia achou um pouco estranho, já que ela nunca nem mesmo havia falado com ela.
—Eu estou bem, só um pouco cansada, acho que vou me deitar.
—Bom... Então até logo. —Despediu—se a empregada e Bia subiu as escadas. Ela estranhou a preocupação da empregada mas ainda assim resolveu ignorar, Bia já estava trocando de roupa no quarto, ela estava cansada e queria dormir um pouco, mas quando ia deitar—se na cama Bia sentiu novamente aquele cheiro horrível de carne podre, instantaneamente a garota saiu às pressas para fora do quarto antes que mais alguma coisa pudesse acontecer, ela procurou por alguém na casa mas até mesmo Katherine já havia ido embora, desesperada Bia correu para a primeira porta que avistou, ao adentrar no quarto Bia viu a diretora Irina falando algo com alguém, mas, ao perceber que a garota entrara em seu quarto ela parou repentinamente e ergueu a cabeça, estava de costas para Bia, e a mais jovem não sabia como ela percebeu sua presença, também notou que não havia ninguém no quarto com ela.
—É muito feio entrar no quarto dos outros sem antes bater na porta Srta. Madison. —Ela advertiu séria virando—se para Bianca, que teve a leve impressão de que a diretora falara seu nome antes de olhar para ela.
—Diretora Irina, tem alguma coisa no meu quarto. — Bia retrucou desesperada.
—Acalme—se Bianca, tenho certeza de que não há nada o que temer.
—Mas tem alguma coisa lá, dessa vez eu sai do quarto antes de acontecer, mas antes eu senti um cheiro horrível de carne podre, depois a porta se trancou sozinha e alguma coisa apareceu lá. — Bia tentava se explicar.
— Bom... Então vamos ver o que é? —A mulher perguntou com um sorriso forçado, falsamente meigo e calmo.
—A s—senhora, q—quer entrar lá? —Bia perguntou desacreditada.
—Bianca querida, garanto que não há nada o que temer. —A mulher repetiu e lhe lançou um olhar meigo.
—T—tudo bem. —Bia saiu andando ao lado da mulher, ela tinha um leve cheiro de velas para o nariz da garota, saíram do quarto da diretora e fora em direção ao seu quarto. Ao chegarem perto Bia não sentiu o cheiro de carne podre e, ao abrir a porta, já não tinha mais àquela névoa prateada pairando no quarto, ele estava perfeito, como o primeiro dia que Bia chegou, não havia nada de diferente no quarto.
—Está vendo? Como eu disse, não tem nada o que temer. —Ela olhou para Bia com um sorriso simpático.
—Mas tinha alguma coisa aqui, eu sei que tinha. —Bia suspeitou o fato de que ela não estava aborrecida por fazê-la perder tempo.
—Bianca, você está exausta, por que não dorme um pouco e falamos disso depois? —A diretora sugeriu. Bia percebeu que ela não conseguiria convencê-la, e que a diretora não estava dando importância para aquilo, como se ela não quisesse ser convencida.
—Tudo bem, devo estar vendo coisas por que não tomei café da manhã. —A garota cedeu. A diretora lhe lançou um sorriso de advertência, como quem diz, você não pode ficar sem tomar café Bianca, e então se retirou do quarto. Bianca não acreditava nas próprias palavras, apenas deu uma desculpa pois percebeu que não adiantaria continuar falando com a diretora, ela não iria dar ouvidos.
Ela saiu do quarto, não queria ficar sozinha lá dentro, foi até o quintal do orfanato e resolveu conhecer um pouco mais o terreno do lugar, ela contornou o orfanato e chegou aos fundos do terreno, tinha um pequeno bosque onde Bia não se atreveu a entrar, bem ao lado da porta dos fundos tinha uma entrada que parecia uma janela, só que ela estava no chão, era como um porão, que tinha a entrada fora da casa. A essa altura, Bia já não tinha mais curiosidade de entrar em lugares assim, mas a garota queria saber mais sobre o orfanato, não por curiosidade, mas porque isso poderia ajuda-la em alguma coisa. Ela abriu a janela e viu uma pequena escada que levava a uma sala escura, ao adentra-la, a janela acima de Bia fechou bruscamente, ela subiu alguns degraus da escada e tentou empurrar a janela, mas ela não abria, parecia estar trancada, Bia começou a desesperar—se.
—Socorro! Alguém, por favor. —A garota gritava por ajuda enquanto socava com toda a sua força a janela. De repente um vento frio passou pela nuca de Bia, e esta se desesperou mais ainda. —SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA! — Bia berrou desesperada, porém ninguém abriu a janela.
—Olá Bianca! —Disse uma voz rouca e desconhecida.
—Q—q—quem e—está a—aí? —Bia perguntou gaguejando.
—Apenas mais uma vítima. —Respondeu a voz fria e arrastadamente.
—O—o que você quer? —Bia perguntou receosa.
—Apenas fazer uma brincadeira. —A voz rouca retrucou.
—Que tipo de brincadeira? —Bia perguntou com medo da resposta.
—Ela se chama: o jogo da forca. —Respondeu novamente a voz, porém com uma pequena risada ao final.
—E—e quais são as r—regras? —Bia estava prestes a ter um ataque cardíaco, seu coração pulsava fortemente e sua respiração estava ofegante, suas mãos estavam frias e ela sentiu um gosto amargo na boca, parecia que estava com ânsia de vômito.
—Bom, o tema do jogo é "morte", você irá falar uma letra, quanto mais letras você acertar mais perto a janela vai estar de se abrir, porém se você errar uma letra, mais perto a corda chegará do seu pescoço até que você se enforque. Você entendeu Bianca?
—S—sim, m—mas eu não quero jogar esse jogo, deixe—me sair.
—Mas você não tem escolha, se você não jogar, você irá morrer aqui, eu mesmo farei isso. —A voz tornou—se rouca e esbravejante
—T—tudo bem, é—é, hum... Letra... "a"?
—Essa letra não tem na palavra. —Disse a voz e uma corda apareceu acima da cabeça de Bia. Esta deu um pequeno grito agudo de pânico.
—Fale a próxima letra. — A voz ordenou.
—L—letra "e"?
—Errado mais uma vez. —A corda desceu mais perto de Bia. E seu medo apenas crescia dentro de si.
—L—l—letra "i"?
—Esta letra tem na palavra. —De repente o lugar ganhou uma fraca luz, na parede em frente à Bia apareceu a sombra de um homem enforcado e, ao lado dele, dois espaços, a letra "i", mais um espaço e outra letra "i", mais um espaço e outra letra "i". —Continue Bianca.
—E—e... Letra "o"? —E no ultimo espaço apareceu a letra "o".
—Le—letra... "U"? —E no segundo espaço apareceu a letra "u", Bia já sabia qual era a palavra, então respondeu todas as outras letras.
—Letra "s", letra "c", e letra "d". —E na parede surgiu a palavra "SUICÍDIO".
—Então Bianca, você descobriu a palavra, agora você já pode ir, e espero que tenha entendido seu destino. —Assim que terminou de falar, a janela acima de Bia se abriu e ela saiu às pressas do porão, seu alívio foi tamanho que a garota deixou que as lágrimas que guardara por medo caíssem, Bia notou que já era noite, aquele orfanato estava levando todo o tempo da garota. Enquanto ela chorava, a garota ouviu um barulho de arbustos se mexendo na floresta, ao olha-la Bia não viu ninguém, a garota se virou para ir para frente do orfanato quando sentiu uma respiração em sua nuca, um vento um tanto forte e gélido levantou os cabelos loiros de Bia, ela virou-se lentamente nos calcanhares e não viu ninguém, apenas a luz fraca da lua cheia que estava bem a sua frente, indicando que a noite acabara de começar. Bia virou—se novamente e, ao observar a parede do orfanato, ela viu a sombra de um homem, ou metade dele, a sombra não tinha uma cabeça, ele apenas acenava lentamente para Bia. De repente, ao lado da sombra, apareceu uma outra, uma menor, que tinha o físico de um garoto, ele parecia apontar freneticamente para a sombra ao seu lado e depois para Bia, como se estivesse ternando dizer alguma coisa, assim como ele apareceu, da mesma forma foi embora. Bia ouviu um barulho atrás de si e, novamente, girou lentamente nos calcanhares, e para seu desespero, tinha um homem, assim como sua sombra, ele não tinha cabeça, não era possível ver suas roupas, ou qualquer característica, pois a luz da lua atrás de si ocultava seu corpo e deixava amostra apenas seu contorno. As pernas de Bia travaram de pânico, ela não conseguia se mexer, um nó surgiu em seu estômago e seus olhos estavam totalmente dilatados. O homem tinha um andar arrastado e sôfrego, ele parecia estar usando um terno, foi chegando mais e mais perto, um arrepio horrível percorreu a espinha de Bia e ela alcançou o ápice do pavor, ela saiu às pressas para dentro do orfanato, por sorte haviam lâmpadas pelo lado de fora do lugar, e Bia não teve nenhum problema em chegar até a frente do terreno e entrar na enorme casa.
Ela subiu as escadas e foi até a frente da porta de seu quarto, ficou ali parada juntando coragem para entrar no local, finalmente ela adentrou o lugar, porém apenas pegou algumas roupas e uma toalha e saiu correndo sem nem mesmo olhar para Roberta que estava deitada em sua cama, porém não era necessário, pois a garota já sabia do ocorrido.
Bia foi andando lentamente até o quarto de Katherine, ela bateu bem devagar na porta de forma que apenas a empregada ouvisse.
—Olá Bianca, o que te traz aqui? —A mulher perguntou ao abrir a porta.
—Katherine, eu hum... Posso usar o seu banheiro? —Bia perguntou cabisbaixa.
—Por que você quer usar o meu banheiro? —Katherine ergueu uma sobrancelha.
—Bom... É que eu estou com medo de usar o banheiro do dormitório. —Bia corou um pouco.
—Tudo bem, não tem do que se envergonhar, entre, você pode usá-lo sim. —A mulher lançou um sorriso reconfortante. Bia tomou, pela primeira vez em dias, um banho calmo e lento, totalmente revigorante, ela trocou de roupa e foi para a sala de jantar.
Bia pediu a Katherine para dormir com ela e esta deixou sem perguntar, pois Katherine entendia o que ela estava passando.

O Orfanato da TormentaNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ