Capítulo IV

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Capítulo 4 - O Parque

O dia amanheceu e eu estava jogado em cima da minha cama, apenas de cueca. Levantei-me e me aprontei para o colégio, tomei meu café da manhã e peguei o ônibus, e a rotina de sempre se repetiu: ouvir música, chegar na sala e esperar a aula começar.

Tyler chegou e sentou-se na cadeira do meu lado. Leon acomodou-se com os seus amigos no meio da sala. Larissa e suas amigas ficaram na ponta esquerda na frente da sala. Mais um dia normal. O professor de história, Christopher chegara e começara a dar a aula.

Apesar de Segunda Guerra Mundial ser o melhor assunto de todos, eu não estava muito afim de prestar atenção, eu estava desenhando e rabiscando no meu caderno pensando sobre a tarde passada, dentro do carro com o professor Rafael.

Todos aqueles rabiscos e pensamentos aleatórios me faziam pensar sobre o "Eu te amo", o que me levava a dar risinhos bobos.

A aula terminou e o intervalo veio. Eu e Tyler fomos para a lanchonete e comemos hambúrguer enquanto conversávamos. Por fim, o dia escolar passou-se normalmente e eu fui para minha casa.

Estava andando à uns trinta minutos, faltava poucos quilômetros para chegar em casa, quando ouvi o som de um carro entrando na rua que eu estava, atrás de mim. Continuei andando normal, apesar da rua estar deserta. O carro diminui a velocidade e pareceu ficar me acompanhando, eu estava soando frio. De relance, o carro aumenta a velocidade e sai pelo meu lado, parando logo em seguida. Eu acabo parando a caminhada por causa do susto mas logo relaxo e bato em minha testa. Olhei para o carro e lá estava ele, Rafael, sorrindo idiotamente. Ele baixou o vidro do carro e esperou uma resposta, ainda rindo.

- Eu... vou te matar! - Falei ainda com a mão na testa e outra no coração.
- Que foi?
- Ah, nada! Está de noite, a rua super deserta, e eu vejo um carro diminuir a velocidade enquanto me seguia, - fiz um barulho com a boca "puft" - super normal, isso para mim já é rotina!
- Sério?! - ele disse me irritando.
- Claro que não né!
- Entra aí!

Eu abri a porta e me sentei no banco do passageiro.

- Estava indo para casa!

- Vamos passear um pouco?!

- Não, tenho que ir para casa.

- Ah não, vamos, por favor... - ele suplicou.

- Não, já passou do meu horário de estar em casa e meus pais vão ficar preocupados.

- Por favor, eu quero te mostrar um lugar...

- Já disse que não, Rafael!

- Por favor... - ele juntou as mãos implorando e me olhou com beicinho. E eu, obviamente, não resisti.

- Aaaaaaah, tá bom! - Ele sorriu - Só deixa eu ligar pros meus pais e dar uma enrolada.

Saí do carro e fiquei na calçada e disquei o telefone da minha casa, minha mãe atendeu e eu disse que estava na casa do Leon, terminando um trabalho. Ela acreditou e mandou eu não voltar muito tarde. Me despedi e entrei no carro.

- Vamos! - sorri.

Ele ligou o carro, deu partida e mandou eu colocar qualquer música que eu quisesse. Eu fui ver os CDs dele e me segurei muito para não rir. Tinha Elvis Presley (que por sinal não é ruim), Solomon Burke, Don Henley, Art Garfunkel, etc.

- Sério isso? - falei rindo.

- O que? - ele disse alternando olhares rápidos entre minhas mãos e a rodovia.

- Quem no mundo ouve Solomon Burke, - eu analisei o CD - ou Don Henley? - mostrei para ele as capas dos CDs enquanto ria.

- Ei, - ele protestou - é bom!

Ainda rindo, conectei o bluetooth do carro com o meu celular e coloquei para tocar Troye Sivan, falando aquela típica frase de que "isso sim que é música de verdade". Estava tocando Youth e Rafael não rejeitou e até estava curtindo, como pude ver ele balançando a cabeça. Ele era lindo, aquele mistura de seriedade, beleza, virilidade e doçura me encantava de um jeito inexplicável. Enquanto ele dirigia, fiquei olhando para o seu rosto, que, como sempre, tinha três fios de cabelo na testa, dentes brancos, postura rígida e uma barba rala. Ele percebeu meus olhares e perguntou:

- O que foi?

- Nada não... - sorri meio bobo e fechei os olhos enquanto começava uma música de piano, e por instinto, sem querer, coloquei minha mão na sua coxa. Fiquei surpreso quando senti sua mão esquentar a minha que estava em sua coxa, mas continuei com os olhos fechados.

Ficamos assim por uns bons cinco minutos, até que chegamos no lugar predestinado por Rafael: um parque de diversões que não estava tão movimentado. Estacionamos o carro e adentramos o parque. 

Rafael andava e apontava os brinquedos enquanto ria de algumas coisas que eu falava, mas eu só estava concentrado em uma coisa: que quanto mais eu olhava para ele, conversava com ele e via o sorriso dele, mas eu confirmava que eu estava apaixonado por ele, era algo que eu não sabia explicar.

Andamos mais um pouco, eu não estava interessado em ir em nenhum brinquedo, apenas queria curtir o momento com o professor. Paramos em uma barraca de sorvete e pedimos um para cada, o dele de baunilha e o meu de chocolate. A moça foi para a máquina fazer e voltou, entregando os sorvetes.

- Um para o pai - ela deu o de baunilha para Rafael, que a olhou meio estranho. - e um para o filho - e me deu o de chocolate.

- Obrigado, mas não somos pai e filho. - Rafael disse.

- Não?! Me desculpe, é que eu pensei que... 

- Vamos, Rafael! - interrompi-a.

E saímos andando dali. Na verdade, eu saí com raiva da mulher, mas eu percebi que era uma raiva desnecessária, uma raiva que era minha, e eu tentava descontar nos outros. Na verdade, eu estava com medo, medo de assumir minha sexualidade, de me abir mais para o professor e principalmente dessa nossa diferença de idade. A mulher mesma disse "pai e filho", nossas idades são tão diferentes que ele podia ser o meu pai, era isso que me preocupava. Será que eu estou fazendo a coisa certa? Devo acabar logo com isso? Eu sou apenas o aluno dele. Ou eu devo continuar?

Continuei tomando meu sorvete me fazendo todas essas perguntas. Sem perceber, já estávamos no cercado que contornava o lago do parque, tinha muita luz mas pouquíssima gente.

- Esse é o meu lugar favorito! - Rafael disse, observando o reflexo das luzes na água do lago.

- Nossa, é realmente bonito.

- Desde pequeno, eu vinha aqui com o meu pai, e eu achava o máximo. - Ele me olhou.

- É, também acho, aqui é lindo mesmo! - Olhei para ele. Levantei um dos braços em direção de seu rosto e com o dedo polegar, limpei um pouco de sorvete que tinha no canto de sua boca. - Tava sujo. - Fiquei um pouco sem graça.

Ele não disse nada, apenas me olhou com aquele sorriso branco, o que me deixou mais sem graça. Estava tudo silencioso, apenas nós dois se olhando. Baixei a cabeça para quebrar aquele gelo. Senti seus dedos rígidos em meu queixo, levantando a minha cabeça levemente. Senti sua respiração quente e ofegante se aproximando e colocando sua cabeça de lado. E então nossos lábios se tocaram, gelados do sorvete e refrescantes. Ele distanciou a cabeça um pouco e nossos narizes ficaram se tocando, enquanto ele me olhava olho-a-olho com aquele sorriso enlouquecedor. 

Enquanto nos olhávamos cara a cara, resolvi que ali era minha vez, lhe dei um selinho rápido. Enlacei meus braços ao seu pescoço e beijei a sua boca, e dessa vez nossas línguas começaram uma briga pacífica dentro de nossas bocas. Ele agarrou a minha cintura com firmeza e ficamos nos beijando por um bom tempo ali. Nesse beijo, todos os meus pensamentos de indecisões, arrependimentos, incertezas se esvaíram e eu fiquei certo de que...

- Eu te amo! - disse.


Meu Querido Professor (Romance Gay)Where stories live. Discover now