A C A B O U

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Naquela noite quando cheguei ao hospital depois de passar em casa e tomar meu banho, tive o desprazer de dar de cara com Nicholas e minha ex - cunhada, Nicole. Pelo jeito ela já tinha chegado de viajem e mamãe nem se dera ao trabalho de me prevenir.
A garota de olhos amarelados e cabelos castanhos me cumprimentou com um abraço.
- Aaah quanta saudade senti de você, mana! - Forcei um sorriso.
- Também estava morreeendo de saudade - Ela riu.
- Meu vôo atrasou, acredita? Cheguei agora a pouco, fui para o hotel e em seguida vim pra cá.
Fingi uma cara de indignação.
- Essas companhias de vôo estão cada vez mais irresponsáveis.
- Hum... Eu não as culpo. Estava chovendo muito, as nuvens estavam densas e acredito que eles só queiram zelar por nossa segurança.
Reprimi o impulso de revirar os olhos. Nicole me irritava.
- O importante é que você está aqui, não é? - Nicholas falou, abraçando a irmã. Aii, que cena mais fofa, parecia comercial de biotônico.
Nicole não tinha cara de dezenove. Parecia uma adolescente, ou melhor, se vestia como uma. Calça cor - de - rosa, blusa branca estampada com flamingos e sapatilha vermelha, eu não precisava ser uma especialista em moda pra saber que aquilo era bem cafona.
- Oh, meu irmãozinho, você é um amor - Lhe deu um beijo na bochecha e olhou pra mim - Vou ver a Cibelly. - Então parou ao meu lado - Olha, o Nicholas não comeu nada ainda , por quê vocês não vão até uma lanchonete, hein?
Trocamos um olhar e percebi que Nicholas estava tão desconfortável quanto eu. Mas o sorrisinho daquela garota metida à bonequinha de porcelana me desarmou.
- Tá... - Falei.

O clima estava fresco e havia duas lanchonetes em frente ao hospital, o que significava que não precisaríamos ir tão longe, e isso era bom.
- Me desculpe pela minha irmã, não queria te colocar numa saia justa.
Dei de ombros.
- Porém aqui estamos - Suspirei.
- Você poderia ter negado
Fala sério!
- Nicole é bastante persuasiva quando quer.
Achou graça.
- Ela gosta de você - Falou.
Ignorei isso. Me dirigi até o balcão e pedi um pastel de carne.
Procurei uma mesa do lado de fora porém todas já estavam ocupadas, por isso nos sentamos ao lado da janela, ao fundo da lanchonete .
- Isso está muito bom - Comentou, mastigando o pastel.
Assenti. Eu me encontrava no apíse da fome.
- Hurun. - Concordei de boca cheia.
Riu.
- Kim, você não vai dizer onde estava na noite passada...Não é?
Limpei a boca com o guardanapo.
- Não.
- Sei que não me deve satisfações fiquei com medo de que tivesse em apuros.
Suspirei revirando os olhos
- Eu tenho vinte três anos! Não oito! - Ele não precisava saber que meus apuros não tinham sido nada pequenos.
- Eu sei. É só o fato de você estar bêbada que me preocupa...
Balancei a cabeça.
- Sinceramente? Não pretendo repetir a dose.- Garanti.- Quer saber mesmo saber onde eu estava?
- Se puder dizer...
Tudo bem, foi ele quem pediu por isso...E eu não conseguiria esconder nada de Nicholas.
- Estava na casa de um amigo.
Ele deixou seu pastel de lado e me fitou confuso.
- Era algum tipo de social?
Neguei com a cabeça.
- Você... Estava sozinha, com um amigo? . - Perguntou fechando as mãos em punho e engolindo em seco.
- Sim, foi exatamente isso.
- Qual amigo? Você não conhece ninguém aqui!
O que ele achava que eu fazia? Chorava por ele o tempo todo?
- Um cara do hotel.
Percebi enquanto ele entendia tudo.
- Por isso que não te vi chegando! Porque você não saiu... você... - Os olhos se arregalaram - Passou a noite lá?
Levantei as sobrancelhas teatralmente e bati palmas
- É isso aí! Você decifrou o mistério, satisfeito?
Se levantou tão bruscamente que a cadeira caiu no chão.
- Nem um pouco! Kim... Não te reconheço!
Bufei.
- Está exagerando! Não sou uma criança, sou uma mulher! Quantas vezes terei de repetir isso até que você e minha mãe entendam?
Àquela altura do campeonato as pessoas já nos lançavam olhares reprovadores. Dane - se.
- Kim..., Sente - se, por favor - Pediu com a voz sedosa. - FOI ELE QUEM TINHA LEVANTADO IGUAL UM MALUCO!.
- Não me diga o que fazer! - Depois de terminar meu showzinho, sai batendo o pé. Nick estava logo atrás de mim.
- Espere - Me puxou de frente pra ele - Não fuja de novo.
Suspirei exausta.
- Então pare de me procurar!
Piscou algumas vezes como se fazer isso fosse a morte pra ele.
- Você é como a água... Sempre que penso que consegui te pegar você escorrega das minhas mãos, é livre e independente. - balançou a cabeça, forçando um riso - Não sei explicar direito.
- Nicholas, eu não quero te machucar... Mas você não está me dando escolha! - Falei deprimida.
- As rosas tem espinhos - Sorriu encantadoramente - E estou disposto a me cortar neles quantas vezes forem necessárias, se isso significa te ter em meus braços novamente.
Que lindo, meu ex - namorado era um masoquista! Mas não vou negar que suas palavras mexeram comigo pois mexeram sim, e muito. Uma parte minha ainda amava aquele homem, mesmo um pouquinho que fosse, e essa parte não podia ser ignorada. Era difícil não beijá-lo quando ele falava daquele jeito, e tive de ter muito alto - controle, pra não fazer isso. Eu realmente não costumava ser esse tipo de pessoa. Nova York estava fazendo mal pro meu juízo.
- Isso que está me dizendo... É loucura, das grandes!
Ele achou graça.
- Sim, sou loucamente louco por você. E sei que isso soou bem ridículo!
Acabei esboçando um sorriso.
- Kimberlly, só me diga uma coisa... Esse seu amigo... Vocês estão... - Lutava desesperadamente com as palavras.
- Não sei Nicholas... É tão confuso... - Admiti.
Percebi a tristeza em seus olhos, a esperança se esvaindo.
- Você gosta dele... - As palavras saíram duras e amargas de sua boca.
- Fisicamente, talvez. É só uma atração - Dei de ombros.
As vezes eu pensava nisso, nos meus sentimentos conturbados Richard fazia com que eu me sentisse viva, despertava coisas novas que eu nunca pensei que seriam possíveis sentir, meu corpo sempre reagia ao seu toque, mas eu não o amava, não quando a única coisa que ele sabia fazer era ser um idiota e estragar o clima.
- Não vou desistir de você. - Ele não entendia? A C A B O U!
Tentei até mesmo ser um pouco babaca com ele com o objetivo de fazê-lo desistir mas Nicholas era assim... Ele não recuava.
- Podemos por favor, não discutir mais isso? Já tô cheia desse assunto - Massageei as têmporas.
- Podemos. Como está se saindo aqui ? - Me conduziu de volta até a mesa e posso dizer que me senti mais confortável com a mudança repentina de roteiro.
Contei a ele coisas banais, tipo, o hambúrguer, os transportes públicos, o mau humor das pessoas e pombos. Sim, pombos .
- A cada dois metros, pode ter certeza que irá cruzar com um ou mais pombos! - Contei.
Nicholas gargalhou.
- Confesso que morro de medo - continuei - Eles fazem uns barulhos esquisitos e alguns têm olhos vermelhos. Minha mãe vive dizendo pra não confiar em nada que tenha olhos vermelhos.
Acompanhei seu riso.
- O mundo está mesmo perdido, agora até os pombos estão entrando nessa onda de drogas! Coitados, e você aí, julgando os pobrezinhos por se darem ao luxo de fumar um pouco de baseado! - Fingiu indignação.
Engasguei de tanto rir.
Já estávamos conversando a horas quando o atendente veio até nossa mesa dizendo que o comércio já estava pra fechar. Realmente devíamos ter percebido isso mais cedo pois só restavamos nós na lanchonete.
Nicholas tirou a carteira do bolso mas não percebeu quando um cartãozinho verde caiu de dentro dela. Pois eu percebi.

Romma Cassino 🎰
(Nova York)

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