Doa a Quem Doer

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O caminho até o hospital foi mais demorado que nunca. Meu tornozelo ainda incomodava. Porém Richard havia dado um jeito,colocando gelo para desinchar, gel de arnica para aliviar a dor e para finalizar uma faixa branca.
Minha cabeça latejava ainda mais do que ontem. Eu ia era acabar rachando o crânio se continuasse a batê-lo com tanta frequência.
Por fim, Richard tinha pegado sem dificuldade alguma os benditos mocassins em cima do guarda-roupa.
- Pode descer. Vou procurar um lugar para estacionar. - Disse,parando o carro em frente ao enorme hospital. - Consegue andar sozinha?
A última parte não foi dita de maneira zombeteira nem nada. Ele realmente perguntou se eu estava conseguindo andar!
- Espera ai, você vai entrar?
Me encarou como se fosse óbvio.
- Vou - A sobrancelha se arqueou me desafiando a protestar. - Mas e ai? Consegue mesmo pisar no chão ou terei de carregá-la ?
Abri a porta do carro sem nem pensar duas vezes.
- Vou andando.
Sorriu largamente balançando a cabeça e quando sai do carro tive a impressão de que ele ainda sorria.
Para meu espanto, Nicholas estava na porta do hospital com o telefone no ouvido. Quando me viu guardou rapidamente o aparelho.
- Kimberlly! O que houve com seu celular? Estava tentando falar com você desde mais cedo.
Acho que ele não ia querer saber.
- É uma longa história, mas resumindo tudo, ele não se encontra mais vivo.
Nick riu.
- Você e o velho hábito de se referir aos eletrônicos como se fossem gente! Qual era o nome que você costumava chamar o celular mesmo? Lesse?
Ele se lembrava disso! Acabei soltando uma risada.
- Na verdade era Jesse.
Assentiu.
- Isso mesmo. - Deu uma piscadela - Mas o que eu queria falar com você é outra coisa. É sobre o Dornas e o depósito.
Para ser franca, eu estava tentando não pensar muito nisso, do mesmo modo que tentava não pensar muito no fato de minha irmã estar morrendo. Pensar sempre me destruía.
Minha mãe costumava dizer que se preocupar é como sofrer duas vezes.
- Descobriu o que tem lá dentro? - Perguntei.
- Ainda não, mas vamos entrar em contato com ele hoje. Achei importante te avisar.
Assenti, digerindo tudo.
- E o que vão dizer?
- Vamos falar das fotos, vamos ameacá-lo e ver como ele reage.
Isso não tinha como acabar bem...
- Só uma pergunta, onde você e Brian se conheceram?
Nicholas deu de ombros.
- Tinha um cara na casa de jogos que conhecia ele. Esse cara me atualizou sobre quem exatamente era Dornas Finning, e disse que eu devia procurar Brian. Então me passou o endereço.
- E o que Brian tinha a ver com Dornas?
- Eles trabalharam juntos. Mas o ponto é que Brian também tem uma dívida com Dornas. Algum serviço sujo, não sei direito. Então pensamos que seria uma boa ideia unirmos forças. É o único jeito de sairmos dessa vivos...
Nicholas parou de falar olhando além do meu ombro.
- Tive um problema com a vaga no estacionamento - Falou Richard se aproximado por trás.
Me virei pra ele.
- Que tipo de problema? - Perguntei
- Do tipo que só tinha uma vaga, e ela era minha, mas parece que o cara do Toyota não reconheceu isso.
Levantei as sobrancelhas.
- Você não fez nada , não é?
Balançou a cabeça negando.
- Nada que envolva violência física, mas talvez eu tenha arranhado o carro dele, um pouquinho. - E só então pareceu notar Nicholas - Ah, oi.
- Oi...A gente se fala depois então Kim. - E foi se afastando - Tenho que encontrar o Brian agora.
- É sério? - Richard riu, atraindo minha atenção.
- O que há? - Nicholas olhou de Richard para mim confuso.
- Nada. Só curte bem sua noite com o Brian.
Segurei o riso, perante ao tão estúpido comentário.
Nicholas fez uma careta assim que processou as palavras, portanto estava surpreso demais para dizer alguma coisa.
- A gente se vê, Nick! - Falei, puxando Richard para dentro do hospital antes que uma briga se iniciasse lá fora.
Quando já estávamos lá dentro, larguei o braço de Richard.
- Mas é sério! Eu não sabia que ele era gay! Agora entendo porquê foi tão difícil pra você.
- Santo Deus, homem! Ele não é gay!
- Ahãn - Falou sem veemência alguma.
- Brian é um amigo dele.
Pelo menos era o que eu achava.
- Tá bom, que seja - Sua risada saiu pelo nariz
Olhei pra ele tentando parecer séria. Sem sucesso.
- Dá pra parar com isso?! - Mas acabei pegando o embalo de sua gargalhada. E juro que ri até sair água nos olhos, até minha barriga doer.
Ele passou o braço pela minha cintura, me puxando para perto de si e atravessamos o corredor em direção ao quarto de Cibelly. Naquele momento eu senti que poderia enfrentar qualquer coisa. Estar perto de Richard me proporcionava uma infinidade de emoções. E naquele momento, por um segundo que fosse, eu me sentia tão corajosa que seria capaz de lutar contra o mundo, contanto que estivesse ao seu lado.

Inverno Em Saturno Where stories live. Discover now