Megera

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- Estavam muito calados pro meu gosto, sabia que boa coisa não estavam fazendo! Intuição de mãe não se engana!
Richard bufou transtornado, parecia a ponto de quebrar tudo.
- INTUÍÇÃO? Há! Isso é patético! Aposto como estava ouvindo atrás da porta! Não importa o quanto eu peça...
- Escute aqui, eu sou sua mãe! E você não tem o direito de gritar assim comigo!
Faltava apenas uma pipoca para que o showzinho ficasse melhor.
- Não sei se percebeu mas não preciso que cuide da minha vida,mamãe - Ele foi bem sarcástico com a última palavra.
Se ela ficou ofendida, não deixou transparecer. Apontou pra mim.
- É ELA! O problema é essa mulher! Você não enxerga querido... Está cego pelo
canto dessa maldita sereia!
- Bela comparação. Gostei. De todas todas as criaturas místicas, as sereias sempre foram as minhas preferidas - E era verdade.
Seu olhos saltaram.
- E acima de tudo ainda é audaciosa! Era só o que faltava, não passa de uma empregadinha de baixo nív...
- JÁ CHEGA! - Richard berrou - Não vou tolerar isso! Nem mais um minuto - Suas narinas se inflamaram - E você Diane? Se lembra de onde veio!? Se lembra que não passava de uma cozinheira até eu começar a me dar bem na vida e te sustentar?
- Eu cozinhava para famílias ricas em casarões luxuosos... Não me compare com essa garota insolente! Eu sempre tive classe . E nunca precisei do seu dinheiro. Sou sua mãe!
Seu olhar de repugnância foi o limite pra mim.
- Quer saber!? Enfia toda essa sua classe n...
- RICHARD! - Apontou novamente pra mim, como se me dedurasse, interrompendo o que eu estava prestes a concluir - Olha só pra isso! Ela é uma selvagem!
Não ia mais causar confusão, mas se eu pegasse aquela filha duma mãe... Não quero nem pensar.
Sai do quarto pisando duro mas Diane, a Diaba, não me deixou sair. Segurou meu ombro com tanta força que tive que prender a respiração para não gritar.
- Solta ela, por favor - A voz de Richard estava exausta. Percebia-se de longe que não estava habituado a pedir por favor.
Obedecendo, Diane me soltou, assenti para Richard em sinal de agradecimento.
Passei pela sala onde Mellanie tomava uma xícara de chá, agora com um vestido cor- de- rosa rodado que batia na canela. Me olhou com simplicidade, como se estivesse envergonhada. Por algum motivo não resisti ao impulso de sorrir para ela, coitada, não devia ser acostumada com tantos loucos gritando ao mesmo tempo. Ela era mesmo uma dama. Ela sim poderia um dia (sem ter que passar por aulas de etiqueta) ser uma boa companhia em um restaurante, ela sim ouviria todas as crises de Richard sem dizer nada, ela jamais levantaria a voz para seu marido, obviamente não fora criada para isso. Mas afinal, quanto machismo.
A sra. Laurent tinha um pouco de razão, mas se quer saber o que acho, a verdade é a seguinte : Richard não era o tipo de filho submisso à mãe, era do tipo que fazia tudo ao contrário por puro orgulho e teimosia, então acredito que não importa o que aquela mulherzinha ridícula diga sobre a pretendente, seu filho não vai ouvir, embora a cena no quarto tenha me deixado com um pé atrás...
Por quê aquilo me incomodava!? Que raio!
Estava no corredor quando Richard me alcançou, ainda vestido com o shot de dormir e a camisa azul.
- Espere! Te dou uma carona!
Olhei bem pra ele tentando soar convincente o bastante.
- Eu me viro. E de qualquer forma preciso falar com o sr. Mcjack.
Continuei andando
- Você disse que dormiu na cadeia, certo? Deve ter precisado de um advogado ou...
Interrompi.
- É uma história muito louca - E eu estava com pressa - Mas resumindo tudo : O delegado era irmão do sr. Mcjack, meu amado gerente devia estar em um dia bom e... - Opa, o delegado pediu para que eu não contasse - Jura que não vai sair por aí espalhando isso?
Me encarou como se eu tivesse dito a coisa mais ridícula do mundo.
- Jura juradinho? De dedinho mindinho e tudo mais?
Fez uma careta, como se tivesse chupado limão.
- Pode não fazer tanto o uso do diminutivo? É extremamente irritante! - E lá estava o homem que eu conhecia - E pelos céus Drayton! É ridículo esse negócio de juramento, muito desnecessário.
- Jura? - Estendi o dedo mindinho.
- Juro... - Falou contragosto, revirando os olhos - Quanta infantilidade...
E por fim enlaçou o seu mindinho no meu.
- Com todo esse seu procedimento acabei me esquecendo, o que é que estou jurando mesmo?
- Que não vai contar nada sobre o Sr. Mcjack ter conversado com o irmão para que me soltasse.
Ergueu as sobrancelhas.
- O que deu no velho?
Apertei o botão do elevador, Richard estava do meu lado.
- É isso que irei descobrir.
- E depois vai aceitar minha carona.
Dei de ombros.
- Acho melhor não...
- Você não entendeu - Mais um daqueles olhares que fazem com que eu me sinta uma imbecil - Não te perguntei se aceitava a carona, eu afirmei .
- Não pode responder por mim! - Semicerrei os olhos tentando bancar a brava.
Sua testa se franziu,e ele deu uma beliscada em minha bochecha. Não doeu. Não fez isso para machucar, mantinha a expressão de quem avaliava, como se eu fosse uma paciente.
A porta do elevador se abriu.
- Onde machucou as bochechas?
Ah! Nem estava doendo mais... Na hora do beijo, era isso que ele tentava descobrir quando afagou meu rosto...
O que eu diria? Ah! Isso? Sua mãe, aquela vaca maluca que tentou arrancar minha carne com as unhas enquanto me ameaçava
- Passei a unha... Hã, faço isso quando fico nervosa.
Fez aquela cara de "Era só essa que faltava mesmo!"
Sai do elevador, Richard me seguindo de perto.
- Uma masoquista?! Ah, que ótimo! - Então girou meus ombros para que ficássemos frente à frente - Drayton, estou falando sério, não me faça amarrá-la em uma camisa de força e mandar para um manicômio!
- Eu colocaria fogo no hospício! - Brinquei.
Richard não achou graça, porém respondeu :
- Com certeza causaria uma explosão, não duvido nada. Você tem tendência a se meter em confusão.
E lá estava o Sr. McJake que
Quando me viu ajeitou a gravata borboleta e veio em minha direção.
- Bom dia sr. Laurent - Falou com um sorriso.
Richard retribuiu o cumprimento com um manejo de cabeça.
- Hã... Srta. Drayton, tem uma mania muito... Curiosa, de se locomover sem ser vista. Por onde veio?
Forcei um sorriso.
- Porta da frente.
Estalou a língua.
- Acho que precisamos ter uma conversa, não é mesmo?
Olhei de esguelha para Richard.
- Claro.
Assentiu.
- Mas tire o dia de folga. Precisa ver sua irmã pelo que fiquei sabendo.
Por quê ele estava sendo generoso? Tisc tisc... Eu não estava gostando nada disso.
- Bom... Tudo bem. Obrigada
Uma hora ou outra ele iria dizer o que queria.

Inverno Em Saturno Where stories live. Discover now