Branca de Neve

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Richard Laurent

3%. Eu odiava a bateria desses celulares. ODIAVA. E eles sempre escolhiam as piores horas para te deixar na mão.
Atravessei o último corredor. De tempo em tempo, tentava dizer palavras de conforto à Kimberlly, mesmo sabendo que provavelmente ela não as ouviria.
- Vai ficar tudo bem... Continue respirando...Não me deixe... Por favor Drayton...
Seus olhos não tornaram a se abrir novamente. Parecia estar em um sono profundo e tranquilo. E poderia estar morta se não fosse pela pulsação fraca.
Cheguei à câmara certa com um suspiro aliviado. 1% anunciava o celular.
Agora só bastava encontrar a portinhola e tirar Kimberlly dali. O que seria complicado...
- Não tão rápido.
Prendi a respiração. Não era possível...QUE INFERNO!
Brian mancava em minha direção, duas armas apontadas exclusivamente para mim.
Apertei Kimberlly em meus braços com mais força. O gesto pareceu chamar a atenção de Brian.
- Olha só! - Soltou uma risada- Acho que encontrou o que estava perdido! Então era aqui que a gatinha se escondia o tempo todo... - Estalou a língua.
- Deixe a gente em paz! - Rosnei entre dentes.
Eu não tinha passado por aquilo tudo para me render agora. Não mesmo!
- Essa idiota da sua namorada, ou sei lá que tipo de rolo vocês tem, estragou tudo! Se tivesse se comportado direitinho, Dornas não teria fugido e a uma hora dessas eu estaria dominando o Mundo e ela já estaria em casa!
Quase ri. Dominar o Mundo. Ele devia assistir muitos filmes de super heróis e resolvera se inspirar nos vilões. De qualquer forma os vilões sempre se davam mal. Na ficção pelo menos...
- Ela consegue ser uma pedra no sapato ainda maior do que o próprio pai - Continuou.
Dei um passo para trás. Se eu fizesse qualquer movimento para pegar minha arma ele me mataria. O jeito seria continuar à embromá-lo.
- Nunca ouviu falar, Brian, que quanto mais alto você sonhar, maior será sua queda? Pode parecer um pensamento desesperançoso e tudo mais, mas ... Olhe pra você agora.
Engoliu em seco.
- Ainda não acabou. Eu até posso morrer hoje mas não sem antes levar essa vagabunda pro inferno comigo!
Meu sangue ferveu. Se eu pudesse soltar raios pelas mãos teria fritado aquele desgraçado.
- Eu vou matar você - Soou tão sincero que senti que realmente pudesse fazer isso. E não me arrependeria depois.
Desviei no exato momento em que ele disparou. Com Kimberlly nos braços seria difícil enfrentar a fúria de Brian.
Em um movimento ágil tirei o revólver da cintura e apertei o gatilho. O infeliz foi mais rápido.
Quando ele disparou novamente, corri em direção à uma das colunas de concreto. Eram largas o bastante para proteger Kimberlly por enquanto. Deixei ela ali e voltei para acabar com Brian.
Ele aproveitara minha distração e também se escondera. Olhei com cautela para os lados. Do nada meu braço pegou fogo.
Bem... Não era exatamente fogo, mas queimava como o diabo.
Localizei de onde havia vindo o tiro. Corri em direção à terceira coluna. Brian saiu de trás dela atirando com os dois revólveres. Me agachei e rolei para o lado.
Um dos disparos de Brian acabara furando a encanação que agora jorrava água aleatoriamente, para qualquer canto.
O chão de barro tinha ficado grudento e escorregadio e me aproveitei de um deslize de Brian para atirar. Dessa vez com sucesso, acertei seu ombro. Uma das armas caiu de sua mão.
Eu precisava de um plano, e tinha um. Só teria que arrastar Brian para a armadilha.
Ele tentava chegar à Kimberlly a todo custo mas isso aquele filho da mãe não conseguiria.
A madeira podre que cobria o teto estava desgastada o bastante para cair a qualquer momento, bastava um tiro bem dado no lugar certo. E eu tinha uma boa ideia de qual seria o lugar certo.
Me escondi em uma coluna onde pudesse ficar de olho em Kimberlly e me proteger de Brian ao mesmo tempo. Era escuro o suficiente para que ninguém me enxergasse.
Quando Brian parou exatamente onde devia parar, mirei a luz no teto...
Foram precisos três tiros para que o teto cedesse. Claro que Brian já esperava por isso e foi esperto o bastante para se afastar do centro. Mas ele não parou para pensar que junto com os pedaços de madeira podre viria à baixo também tudo o que estava sob ela. Inclusive seu computador.
Bem... Qualquer um sabe que energia e água não eram a combinação perfeita.
E foi assim que o computador, que estava funcionando à base de uma bateria móvel composta por energia solar se chocou com a fonte de água produzida pela encanação estourada e deu um curto.
De início pensei que tivesse dado errado. Mas quando o corpo de Brian começou a tremer convulsivamente e sua boca se abriu em um espantoso O, sai de onde estava e me postei ao lado de Kimberlly, novamente segurando-a em meus braços. Brian iria virar churrasquinho.
Um pedaço do teto havia ficado intacto. Eu sabia o que tinha ali... O antigo guarda roupa de Laisla. E Nicholas.
Ele merecia um funeral...Ou uma homenagem mas tirá-lo daquele lugar estava fora de cogitação, ainda mais com meu braço machucado.
A guerra ainda explodia lá fora e pelos cômodos escuros da casa, os corpos eram um triste lembrete das últimas uma hora e meia.
Cinco carros da polícia cercavam a casa mas ninguém parecia se intimidar com a presença das autoridades.
Atravessei o gramado em direção à um dos carros. Pulando os vários corpos.
Um dos policiais eu conhecia. Detetive Josh. Ele tinha estado presente no caso de Kimberlly e até me interrogara. Baixou a arma assim que me viu correndo.
- Preciso levá-la a um hospital! Ela está morrendo! - Respirei com dificuldade, ofegante.
O detetive Josh me arrastou para trás dos carros, fora do perigo.
- O que está acontecendo aqui, Richard?
Balancei a cabeça com rapidez.
- Explico tudo quando Kimberlly estiver em segurança!
O policial assentiu gesticulando para uma ambulância logo acima. Do outro lado pude ver Mellanie tremendo loucamente em prantos abraçada com um policial qualquer.
Quando me viu, veio quase correndo em minha direção.
Dois homens desceram uma maca, tomando Kimberlly de meus braços. Fui obrigado a soltar sua mão.
- Richard!
Mellanie me abraçou como se eu fosse desaparecer a qualquer momento. Gemi. Ela se afastou percebendo o ferimento em meu braço esquerdo.
- Oh! Meu Deus! O que fizeram com você!?
Segurei a garota pelos ombros. Aparentemente ela estava bem.
- Foi só um tiro.
Seus olhos se ampliaram.
- Você diz SÓ!? Precisa ir ao hospital! Agora!
Como se estivesse ouvindo a conversa, o detetive apareceu ao meu lado.
- E ele vai. Kimberlly precisa de alguém para acompanhá-la. Acha que está em condições?
Nem precisei pensar.
- Claro.
Já me virava para a ambulância quando ele disse.
- Encontro vocês no hospital então. Vou precisar de uma explicação melhor do que a da senhorita Mellanie aqui.

Inverno Em Saturno Where stories live. Discover now