Aulas de Etiqueta

66 14 5
                                    

O Myerstown's era bem rústico, tinha cheiro de madeira e terra molhada ( provavelmente por causa do jardim de inverno ao lado que deixava um clima fresco pairando no ar).
Meu vestido era tão apertado que respirar podia ser considerado quase impossível. Richard havia comprado um modelo sem alça, bege e com uma abertura mínima na coxa, era elegante sem ser vulgar.
Tínhamos passado em minha casa onde tomei banho e peguei meu melhor sapato de salto sino ( pra deixar mais do que claro que detesto salto), Richard que se recusara a entrar disse que preferia esperar no carro e assim fez.
Agora estávamos ali, sentados em uma mesa perto das paredes de água, enquanto o garçom anotava nossos pedidos. Havia um monte de nomes estranhos no cardápio, por isso escolhi o menos complicado de se pronunciar e ficou por isso mesmo.
- A comida daqui é ótima - Richard comentou.
- Ah sim, bem provável.
Ele me avaliou por dois segundos.
- Você poderia ficar mais ereta?
Fiz uma careta.
- Não é uma boa hora pra falar em ereção.
Observei enquanto ele compreendia meu comentário pervertido.
- Minha nossa Drayton! - Censurou.
Abafei o riso com um tosse.
- Desculpe, não pude resistir a pensar isso.
Revirou os olhos.
- Mas podia resistir a falar - Sua voz tentou esconder a diversão. Sem sucesso. - Postura! Se sente reta! - Obedeci - Não precisa alongar o pescoço, nem empinar o nariz.
- Pensei que era isso que os riquinhos esnobes faziam.
Balançou a cabeça.
- Não a namorada de Richard Laurent.
Que título era aquele?! Santo Deus!
- E por favor, Draynton - Pediu - Cruze as pernas, ou os tornozelos, mas por tudo o que é mais sagrado, não as deixe separadas.
Imediatamente cruzei os tornozelos, parecia mais fácil do que cruzar as pernas com aquele vestido justo.
- Assim? - Perguntei. Ereta e com os tornozelos cruzados.
- Serve.
Mais tarde o garçom trouxe uma garrafa de vinho e o prato que consistia em um pedaço de alguma coisa (Caranguejo queimado , talvez?, bom... Eu nunca tinha comido caranguejo mas ouvira dizer que era apetitoso ) com um molho escuro.
Olhei desconfiada para o meu almoço . O de Richard não parecia ser melhor que o meu.
- Cadê o resto?
Franziu a testa.
- O que há de errado?
Lancei a ele um olhar que dizia "Fala sério!?"
- A comida. É só isso? - Insinuei o prato à minha frente.
- É. Agora coma e não fale de boca cheia, pelo amor de Deus! - Acabei rindo.
- A namorada de Richard Laurent não fala de boca cheia. Irei anotar isso - fiz O.k com o dedo e seus olhos verdes se ampliaram.
- Não faça esses gestos!
Bufei.
- Significa O.k!
Balançou a cabeça adversativo.
- Não é muito educado
Evitei o impulso de revirar os olhos e espetei o garfo na comida, que por sinal era bem dura.
- Está assassinando o escargot!
Lancei a ele um olhar feio. Não tinha culpa se o escargot estava duro pra cac... Espera aí! Escargot? Por quê o nome não me parecia estranho? Analisei por um momento a coisa dura em meu prato. Deus meu!
- Richard! Isso é caramujo! - Afastei o prato imediatamente.
Ele olhou para os lados mas pude perceber a sugestão de um sorriso travesso.
- Digamos que sim.
- Ia deixar que eu comesse isso!? Sem me avisar?
Ah meu Deus! Sabia que devia ter comido o almoço que comprei na lanchonete do Joe mais cedo. Com certeza a lasanha de carne estava melhor do que aquilo.
- Sim. Coma tudo.
Pois agora eu entendia o motivo do tantinho de comida. Ninguém teria estômago suficiente pra comer uma grande porção daquele negócio.
- Não! O que você está comendo?
- Carneiro ao molho pardo.
Franzi o nariz.
- Minha nossa!
Coitadinho daquele animal!
Me levantei de repente derrubando meu copo de vinho na mesa e assim manchando o forro branco. Sem pensar duas vezes puxei o guardanapo que por ora ainda estava intacto e tentei tirar o excesso. Não arrisquei olhar para Richard mas sabia que ele tinha se levantado e com certeza estava puto da vida comigo, e com razão.
Ao me afastar da mesa acabei por derrubar a cadeira no chão, e teria caído junto se braços fortes não tivessem me segurado. Eu sabia a quem pertencia aqueles músculos rijos , corei até o pé dos cabelos assim que tive que encará - lo.
Confesso que me surpreendi quando constatei que Richard não parecia estar a ponto de me fritar viva.
- Desculpe... - Consegui falar.
- Vá pro carro.
Notei que um cara de terno cinza vinha em nossa direção de cara amarrada, o gerente talvez .
Fiz o que me pediu e sai dali antes que destruísse mais alguma coisa que fizesse Richard mudar seu bom humor.

Inverno Em Saturno Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon