Eternamente Aquarela

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Aquele lugar tinha passado a ter um cheiro de casa pra mim. Eu me sentia confortável com as paredes brancas, e a decoração moderna.
Diane havia saído para fazer compras à algumas horas. Foi o que o sr.McJake disse, pelo menos. O que significava que estávamos sozinhos. E bom... Isso era assustador porque uma hora ou outra um de nós tocaria no assunto.
- Quer tomar alguma coisa? - Richard ofereceu enquanto abria as persianas.
- Não.
Me sentei pesadamente no sofá, em consequência disso recebi um olhar zangado. Acabei rindo.
- Meu sofá agradeceria se você fosse menos agressiva.
Levantei as mãos em rendição.
- Foi mal - Soltei um suspiro - Essa semana foi longa. E terrível.
Ele se sentou ao meu lado. Delicadamente.
- Tenho que concordar. Não é sempre que tenho dias tão agitados.
Ficamos em silêncio por algum tempo. Minhas mãos não paravam de suar.
Me virei para Richard.
- Lamento pelo braço.
- Poderia ter sido pior. Poderia ter sido você.
Aaaa, quando ele dizia essas coisas era quase impossível não querer atacá-lo.
- Kimberlly? Está vendo aquele quadro?
Olhei para a parede. Eu me lembrava daquela tela. Uma vez Richard me pegara analisando a pintura.
Em um lado do quadro haviam sido usadas tinta branca e preta, o outro lado era uma verdadeira aquarela. As formas se misturavam, formando uma uma dança sinuosa de cores.
- Me lembro dele - Falei.
- Sabe o que significa?
Neguei com a cabeça.
- Vou lhe contar uma história.
Inclinei a cabeça.
- Isso vai ser divertido.
- Antes de mais nada, você precisa prometer que vai ficar calada e não vai me interromper.
Quando ele me esticou o dedo mindinho, deixei escapar uma risada abafada pelo nariz.
- Pensei que achasse isso uma grande bobagem.
Mas estiquei o meu mindinho mesmo assim.
Antes de entrelaçar o dedo no meu, ele disse:
- E é uma grande bobagem. Mas você leva à sério, então vamos lá.
Depois de meu voto de silêncio, cruzei as pernas e me encostei no sofá para ouvir a história.
- Era uma vez...Um pingo de tinta cinza e solitário. Certo dia esse pingo estava chegando do trabalho, quando de repente foi surpreendido por um... - Revirou o cérebro procurando alguma coisa, quando não encontrou, resolveu me perguntar - Qual sua cor favorita?
- Amarelo... - Soou quase como uma pergunta.
- Ok. Voltando à história... Chegando do trabalho o pingo Cinza foi surpreendido por um lindo pingo de tinta Amarelo! Mas havia um problema! O Cinza...podemos chamá-lo de R, não tinha amigos, e achava que não precisava deles. Mas o pingo Amarelo, podemos chamá-lo de K, mostrou ao R, que a cor cinza era tão triste, tão fria, tão feia... E foi assim que o pingo de tinta Cinza resolveu se juntar às outras cores, e dessa forma...


E foi dessa forma que meia hora depois, Richard e eu acabamos com dois rolos e várias latas de tinta em mãos.
Eu gostava de pintar, embora nunca tenha levado jeito pra coisa. E sabia que Richard se sentia bem com isso.
- Por onde começamos? - Perguntei amarrando o cabelo em um coque bagunçado.
- Pela parte em que você não vai querer sujar essa blusa.
Eu realmente gostava da blusa. Tinha comprado em uma feirinha, fazia uns três anos. Cibelly tinha uma igual, e costumávamos dizer que aquela era a blusa das irmãs Drayton.
- Louco pra me ver semi nua, sr.Laurent?
Embora fosse uma brincadeira, minha voz saiu um pouco séria.
- Mal posso esperar, srta.Drayton.
De qualquer forma, acabei deixando minha blusa em cima do sofá, junto com a camisa branca de Richard e a gravata.
Se eu já era uma negação com pintura em situações normais, imagine só com aquele homem sem camisa na minha frente!
Sorte a minha que eu havia escolhido um sutiã menos velho naquela manhã. Meus shorts cáqui por outro lado...
- Que tal me ajudar a arrastar esse sofá? É meio difícil com um braço só - Reclamou.
Arrastamos até a varanda, onde o cobrimos com plástico.
- Ótimo. Agora sim estamos prontos para começar.
Resolvemos colorir a cozinha primeiro. Richard usou um verde oliva em uma das paredes, e eu optei por lilás. Aquilo ficaria horrível. Sem dúvida.

Inverno Em Saturno Donde viven las historias. Descúbrelo ahora