Corredor da Morte

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Richard Laurent

As coisas aconteceram com tanta rapidez que demorei alguns segundos para pegar a essência da situação.
Quando tornei à olhar pela janela, era como se assistisse à um filme de guerra.
Os dois lados lutavam como se fosse o fim do mundo. Os disparos continuavam. Não vi nem sinal de Brian, ou de Kellan.
Mas muitos corpos estavam estirados no chão. Era um verdadeiro banho de sangue.
O corredor estava escuro mas não vazio. Eu podia ouvir os gritos e os tiros pela casa toda.
A porta do quarto foi aberta. Um homem entrou apontando uma arma no meio da minha cabeça e perdi completamente a noção. Saquei o meu revólver mais do que rapidamente e atirei no sujeito. Não só uma vez, como cinco!
Eu tinha matado um homem...Sem saber sequer se ele era inimigo ou não. Tinha matado...um homem... Eu...Foi em legítima defesa, certo?
Pulei o corpo imóvel no chão e me arrisquei pelo corredor. Desviei de uma bala por poucos centímetros, me escondendo em uma pilastra.
Tinha que encontrar Brian e matá-lo da maneira mais sangrenta possível...Ok, isso parecia meio engraçado vindo de alguém que estava em choque por ter dado cinco tiros em um desconhecido a cinco minutos atrás mas teoricamente eu queria sim matar Brian. E precisava encontrar Kimberlly... Mas tentei não pensar muito nela. Isso me deixaria vulnerável e distraído.
Não poderia de maneira alguma levar um tiro naquelas circunstâncias. Nunca estivera no meio de uma situação daquelas e confesso que o pavor me consumia completamente. Eu era um tremendo covarde!
Lá fora as coisas se encontravam ainda piores. E seria bem provável que Brian tivesse fugido para dentro da floresta...
Acabei me esbarrado com um homem rechonchudo no corredor do segundo andar. Tinha tomado aquela direção com o objetivo de chegar na varanda onde eu teria uma visão mais ampla.
O homem não demonstrava ameaça, muito pelo contrário, ele parecia tão perdido quanto um cego.
- Não atire em mim! Por favor!
Se o caso não fosse tão sério, eu teria rido da cara do sujeito.
Ele usava um colete amarelo. Igual aqueles de taxista.
- O que faz aqui?- Não era a melhor hora para bater papo mas... Talvez ele pudesse me ajudar.
- Juro que não sei como me meti nessa, moço. Não atire em mim eu não fiz nada!
Revirei os olhos exaustivamente. Ele relaxou um pouco com o gesto.
- Vim trazer uma moça aqui hoje de manhã. Estava em meu horário de serviço. Ela não voltou então pensei que tivesse fugido sem pagar... Quando cheguei até aqui, fui abordado por dois camaradas não muito legais, entende?
Assenti impaciente.
- E eles te manteram aqui esse tempo todo? Sozinho?
Negou com a cabeça.
- A moça bonita estava comigo. Embora ela ainda não tenha me pagado...
E ele parecia mais preocupado com o maldito pagamento do que com o fato de estar no meio de um tiroteio.
Retirei do bolso da calça social minha carteira e joguei para ele, que pegou no ar.
- Espere que isso pague.
Seus olhos se arregalaram.
- Isso quase dá pra comprar um táxi novo...!
Provavelmente.
- Então, enquanto você estava preso lá em baixo... Sabe se ouviu eles falarem sobre uma garota? Kimberlly Drayton...
Demorou tanto para responder, que já estava prestes a repetir a pergunta.
- Ah! Me lembro de ter achado o nome bonito. Minha mulher está grávida, entende? É uma menina. Ainda não decidimos o nome...Mas Kimberlly me parece...
- Só quero saber o que ouviu exatamente!
Ele pareceu desapontado por ter sido cortado no meio da frase.
- Bem...O cara esquisito do cabelo sinistro disse que iam usar a moça bonita para enganar um velhote, já que a outra lá, a Kimberlly, tinha tomado chá de sumiço. Ele disse exatamente isso. Chá de sumiço.
Então ela tinha fugido! Fugido! Possivelmente estaria em casa uma hora dessas. Me tranquilizei um pouco.
- Mais alguma coisa que se lembre? - Perguntei com alívio.
- Nadinha.
Dei um tapinha no ombro dele.
- Muito obrigado.
Ele levantou a carteira até a altura do queixo gordo.
- Isso sou eu quem digo, amigo.
E desapareceu saltitante no fim do corredor.
Liguei para Cibelly. Ela parecia superpreocupada. Porém o que disse não me deixou nada satisfeito. Kimberlly ainda não havido aparecido.
Quem sabe fugira à pouco tempo e ainda não tivesse conseguido chegar em casa...
Pensei em sair e procurá-la pela estrada mas então vi uma pessoa. Alguém que não devia estar ali.
Eu havia chegado ao quarto dos meus pais, me dirigi para a sacada ao mesmo tempo em que Nicholas escalava a árvore. Da mesma forma que fiz a uma hora atrás. Agora a lua já estava alta no céu noturno.
Ele pulou para o quarto e assim que seus olhos esbarraram em mim, acredito que tenha se arrependido de não ter ficado lá em baixo.
- Então quer dizer que conseguiu escapar? - Tentei manter o tom neutro, embora quisesse matar Nicholas tanto quanto queria matar Brian.
- Demorei um século para soltar as cordas.
Estendeu o pulso colorido em tom de hematoma em minha direção.
- E o que veio fazer aqui?
Um disparo soou próximo, fazendo Nicholas soltar um gemido.
- Impedir que mais merdas aconteçam.- Ele deve ter notado minha expressão, pois tratou de ir dizendo: -Cara,juro que não sabia que o Brian ia fazer isso tudo! Era só para passar um susto...
- Hã. Ainda não vejo como você poderia ser útil agora. Só está me atrapalhando.
Deu de ombros.
- Kimberlly fugiu e Brian não queria desperdiçar o plano. Ele pretendia trazer Dornas até aqui e fazer o que fez... Enganá-lo. Para depois mat...
- Para onde ela foi?
Balançou a cabeça.
- Não faço ideia. Faz dois dias desde que saiu daqui. Ninguém sabe como. Brian temia que ela fosse estragar o esquema e decidiu arriscar tudo de uma só vez.
Dois dias... Santo Deus, Kimberlly. Agora sim eu estava em pânico.
- Por quê topou continuar com essa mentira, Nicholas?
Seus olhos se encheram de lágrimas. Aaaaaah por favor!
- Eu sou um idiota! Brian prometeu que quando tudo acabasse íamos embora para outro lugar. E que Kimberlly iria ficar bem. Me convenceu de que se arrepender àquela altura seria burrice.
Passei as mãos pelos cabelos e bufei. Se tivesse algo para quebrar ali, eu teria quebrado.
- Dois dias! DOIS DIAS! Ela pode estar MORTA! E a culpa é toda SUA!
Quando as lágrimas de Nicholas escorreram não consegui me conter. Chorar...Como se isso fosse mudar a realidade.
Segurei seu pescoço com tanta força que seu rosto passou do típico bronze para branco em dez segundos.
A boca se abria e fechava como um peixe fora d'água. E por uma fração mínima de tempo me lembrei do que fiz a poucos minutos atrás... Tinha matado...um homem.
Minhas mãos se afrouxaram e senti como se pudesse acabar chorando igual à Nicholas, mas não fiz isso.
- Você vai me ajudar a trazê-la de volta! Vamos.

Inverno Em Saturno Where stories live. Discover now